“Escrave” vence prémio Kakoy em ano de “muita criatividade”

A 5ª edição dos prémios Kakoy, que exaltam o Carnaval expontâneo que se faz na ilha de São Vicente, este ano distinguiu “Escrave”, uma sátira protagonizada por um grupo de jovens da zona de Espia que retratou a escravatura e os seus efeitos no país e no mundo. Irlando Ferreira, director do Centro Nacional de Artesanato e Design,  promotora deste prémio, garante que foram surpreendidos com o nível de criatividade que os mindelenses trouxeram para as ruas de morada na terça-feira de Carnaval. 

Os prémios foram entregues no final do dia de ontem, após o término da apuração na Rua de Lisboa e mobilizou uma número significativo de pessoas, o que deixa entender o interesse dos mindelenses por esta iniciativa. “É possível ver o interesse das pessoas também através de uma publicação feita na nossa pagina oficial, com imagens dos carnavalescos expontâneos e que teve muitas reacções e partilhas”, indica o director do CNAD, para quem esta interacção espelha o interesse.

Para além de “Escrave”, que recebeu um valor pecuniário de 40 mil escudos, foram distinguidos ainda, na categoria grupos, Enterro de Morna  ‘Agência nôs Morna’ de Madeiralzinho (30 mil escudos), “Dance Doll” de Bela Vista (20 mil escudos) e Grupo de Velhos (10 mil escudos). Na categoria individual, foram premiados “Chefe de Palco – Eterno Saudades de Jorge Neto” (20 mil escudos), “Parabéns Cape Verde 100% de Nôs Aga ê Morna” (15 mil escudos) e Homem que carrega tambor “mim jam oià d’ minha, agora ê d’bossa”. Todos receberam uma taça. 

Sobre “Escrave”, Irlando Ferreira explica que foi uma escolha do júri, que é constituído por pessoas que analisam os desfile espontâneo com base num regulamento e em critérios bem determinados. “Aquilo que se prioriza a nível do regulamento é a criatividade, a mensagem e a forma como o publico reage. São estes os principais itens que temos em conta. Estamos a avaliar o espontâneo e livre, pelo que os critérios têm de estar muito bem definidos e da ponderação do júri, que é constituído por pessoas que conhecem o Carnaval mindelenses e fazem parte desta dinâmica há vários anos. Talvez por isso, sempre decorreu de forma tranquila.”

O director do CNAD reconhece, no entanto, que a mensagem trazida pelo grupo era forte. Este destaca ainda o facto dos integrantes serem jovens, o enorme esforço  feito carregando pesos pelas ruas, a sua interacção com o publico e interpretação dos personagens. “Trouxeram um facto histórico, que é a escravatura. É sempre bom trazer para cima da mesa estes temas para que possam ser exorcizados. É uma confrontação com o passado e com a nossa historia”.

Para este responsável, esta é uma vertente do Carnaval de São Vicente que é tão importante quanto o oficial, de animação ou das escolas. “O Carnaval do Mindelo é no seu todo e, quando é vivenciado no seu todo e acarinhado, é o tecido cultural que ganha. O Carnaval faz parte da identidade desta ilha. Somos uma ilha com uma capacidade de fantasiar e com uma criatividade muito grande, que tem a ver com a sua própria formação. Antigamente algumas pessoas vinham para morada apenas para ver as figuras, caso por exemplo do Kakoy, que personifica este prémio, por sua importância e por fazer parte da memória comum dos mindelenses e não só.”

Constança de Pina

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