Elly Paris: “Diabona” quer o direito de rebolar e vestir o que bem entender

Feminista, jovem, bonita e sensual, que tem todo o direito de se rebolar quando quer, de mostrar o corpo, sem que tenha atrás de si censuras vindas da sociedade civil, onde a beleza pode ser vista de diferentes formas. Esta é a “Diabona” que Elly Paris quer mostrar ao mundo, no seu último video clipe, que já conta com centenas de reações e mais de 117 mil views em apenas 11 dias após lançamento. Apesar de muitos aplaudirem o trabalho de Paris pela ousadia e talento, há comentários negativos algumas pessoas retratam a sua postura como “vulgar”.

Por Sidneia Newton (Estagiária)

Mindelinsite: Lançou há 10 dias o clipe “Diabona”, que já conta com quase 117 mil visualizações e centenas de comentários, muitos dos quais negativos, por exibir o meu corpo. Como encara esta reação do público?

Elly Paris: Nada surpresa. Porque sabia que ainda a autodeterminação, a autoconfiança, certeza na sua pessoa, principalmente vindo de uma mulher, assusta a sociedade. Se fosse outro artista, um homem que publicasse um video sem camisa, ou a falar do seu poder de conquista, ou que é poderoso, acredito que não haveria críticas, ou se houvesse, não seriam tantas. Enquanto eu, por ser uma mulher a ousar, era de se esperar estas críticas. O meu intuito foi justamente este, mexer na ferida. Disseram exatamente o que estava à espera. A nossa sociedade é previsível.

Os comentários negativos chegam principalmente de mulheres, ou nem por isso?

As mulheres censuram mais do que os homens. O interessante é que as críticas, na maior parte das vezes, não são sobre a desenvoltura do video. Não são sobre as notas, nem melodia, nem rima… Não são criticas que mostram que a pessoa tem um engajamento e que percebeu a música. São sobretudo sobre o meu corpo, da minha postura e da minha dança.

O que significa “Diabona” para si?

Diabona varia de mulher para mulher. Para mim ser diabona é ser autoconfiante, é saber que o mundo vai tentar te pisar. Que o mundo vai falar de ti e que te irá criticar. É, apesar de tudo, ter a convicção que és mais do que isso. Sou mais do que isso.  Saber que vou arrasar sempre. Para mim isso que é ser diabona. É pisar na cara do mundo e das pessoas que não gostam de mim simplesmente por quererem lançar ódio no mundo.

Feminista assumida

Considera-se feminista?

Claro!

Quais as vertentes feministas que queria levar para diabona?

O empoderamento feminino, diferentes tipos de beleza, o posicionamento, a autoconfiança, dizer que posso. Não falo só em relação ao modo de me vestir.

Nunca foi uma artista conservadora, recatada, digamos assim, nos seus videos. Mostrou-se aberta e nem teve problemas em exibir seu corpo. Porque acha que diabona está a surpreender mais o público?

Em primeiro lugar, por ser o ritmo funk, principalmente por ser uma mulher crioula a cantar o funk. Madonna pode cantar o nosso batuque, Anitta pode cantar reggaeton, e Elly Paris não pode canta funk. Por outro lado, pelo facto dos outros clipes serem mais discretos. Neste eu mostro o bumbum e rebolo. Fui muito mais ousada. Claro que tem mais críticas do que os outros. As críticas vão aumentando conforme vou deixando a “santidade”, conforme comecei a vestir-me mais curto. Comparativamente, entre “Kondê”, até Diabona, musicalmente não se comparam porque a música “Kondê” é muito mais pensada em termos de letra. Retrata uma causa muito mais sensível, que é LGBT. Então exigia mais delicadeza no seu tratamento. Mas Diabona não. É uma música dançante. Não faria sentido fazer uma música muito explosiva e não mostrar aquilo que sou. Sinceramente este trabalho mostra o melhor de mim, mais do que os outros.

Não tem só comentários negativos. Recebes muitos positivos também, inclusive do usuário do youtube Jose Pereira, que a congratula pelo seu trabalho e pela coragem, de ser “a primeira crioula a fazer um clipe sexy”. Considera-se também a pioneira a sensualizar num videoclipe?

Não sei se sou a primeira mulher crioula a sensualizar num videoclipe porque não é possível ver todos os videoclipes de todas as crioulas. Mas se for a primeira, irei me aplaudir mesmo pela minha coragem, porque sei que há muita gente conhecida a cantar música tradicional ou na Kizomba, que queria estar a cantar outros ritmos, mas que não o fazem por medo.

Então queres ser inspiração para elas também?

Não acho que seja isso, porque sei que não irão mudar as suas posturas. No mundo da música o mercado, o dinheiro e o tradicional pesam muito. Há medo de perder. Mas não tenho medo. Já passei por tantas coisas, vou ter medo de quê?

Não sei se percebeu, mas o teu video no youtube, numa certa altura, pedia autorização para reproduzir, porque levava a rótula que “poder ser impróprio para alguns usuários”.

A mensagem já não aparece mais. Acontece que no inicio não apresentava esta notificação, depois que começou a aparecer. O problema não teve a ver com a minha postura, mas sim com um processo que se teria que fazer no youtube. Mas ja está tudo resolvido.

Há algumas feministas, como é o caso, por exemplo da cantora brasileira Iza, que sensualiza no seu video e não recebe criticas do tipo. 

Ela até sensualiza-se e muito mais. Não só Iza, há outras que têm sucesso em Cabo Verde também como Beyoncé, Anitta, Rihanna que se vestem mais curto, mas que são aplaudidas. Não recebem tantas criticas assim. Ao longo do tempo aprendemos que o que é de fora, é mais talentoso, é melhor e que aqui dentro não há muito potencial para se fazer boa música também. Como tinha dito, Madonna pode cantar Batuque vestida com o que quiser e eu se cantar funk é porque estou a ser vulgar. Imagina, há tanto preconceito sobre o funk, numa sociedade como Cabo Verde, onde o ritmo não tem a sua raiz, onde não é conotada diretamente à marginalidade e nem tem à sua volta todos os outros esteriótipos. Pergunto-me, como deverá ser no Brasil

Mas esta polemica ajuda ainda mais na divulgação do video?

Claro que ajuda! Qualquer coisa que dê “bafafá”, desperta interesse nas pessoas. Mas o que me faz sentir bem comigo mesma é o facto de não ter feito nada errado. Se tivesse feito algo errado, se tivesse ferido alguém, discriminado alguma minoria ou se tivesse algum tipo de preconceito na minha música, sentir-me-ia mal e seria a primeira a auto-repreender-me. Mas sei que o “errado” não vem de mim. Vem de fora, na tentativa de mexer com a minha pessoa. Porque os níveis de preconceito e de machismo, tanto dos homens quanto das mulheres, são enormes, uma vez que a maioria dos comentários negativos é para me chamar de “vulgar”.

Censura

Há pais que dizem que não irão permitir que seus filhos assistam ao teu video. O que pensa em relação a isso?

Super top. Acho que é boa a iniciativa filtrar o que os filhos assistem. Tanto é que não faço música para crianças. Nunca fui uma cantora de música infantil. O que posso é enviar uma mensagem positiva para o mundo e esperar que o mundo receba-a da melhor forma e que reflita sobre ela. Nenhuma criança vai pensar e analisar as letras das minhas músicas. No máximo pode cantá-las. Há músicas que ouvia e cantava quando era criança, que só agora percebo a mensagem. Quando se é mãe ou pai e não se quer que os filhos tenham acesso a certo tipo de conteúdo, eles têm de tentar controlar o que os filhos vêm ou ouvem. Minha mãe sabia que tipo de novela poderia assistir, trocava de canal quando haveria cenas que não eram aconselhados para a minha idade e nem por isso as novelas deixavam de rodar. É preciso saber filtrar o que o seu filho deve consumir ou não.

Então entende essa censura dos pais ao privarem seus filhos de assistirem ao teu video?

Se fosse minha filha e a levasse para a Rua de Lisboa para assistir ao carnaval, onde vê todo tipo de bunda, mulheres nuas com pinturas corporais e outras de bikini nas praias de mar, não acharia errado esta ver o video clipe. Apesar do conteúdo de “Diabona” não ter um teor sexual, se algum pai ou mãe chegar à conclusão que o seu conteúdo retrocede na educação que quer dar ao filho, deve ser respeitado.

Por fim, além da divulgação de Diabona, que projetos tem pela frente?

Primeiramente tenho exames na universidade, por ter faltado a semana de testes por causa da minha agenda de shows.  Felizmente, os convites para me apresentar estão a aumentar. Tenho contratos de shows agendados até Dezembro. 

 Foto fonte: MM Lines Productions

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