“D’ming mata boi”, um mandinga de respeito que honra os seus percursores e a tradição 

É um dos mandingas mais antigos de São Vicente. Há 25 anos, Domingo Mariano do Rosário, mais conhecido por D’ming mata boi, é uma presença assídua nos desfiles de mandinga que, semanalmente, anunciam a chegada do Carnaval na ilha do Porto Grande. Destaca-se entre os demais pelo traje único, saia confeccionada com peles e rabos de boi, muitos adereços e a “cara de mau” que caracteriza dos mandingas e que antes provocava medo nas crianças e também nos adultos, que fugiam quando estes arrastavam as espadas nas calçadas e gritavam arriah

Ao Mindelinsite, este mandinga, que se orgulha de pertencer a segunda geração, substituindo nomes como Djunga, Frank, Toy Careca, Beto, de entre tantos outros, conta que há 25 anos está nestas lides. Ganhou o nome, D’ming mata boi, de um antigo empregador, mas também mata animais para venda. Junto com alguns amigos, fundou o grupo Mandinga de Espia, na zona de Djid’Sal, mas atualmente está com o grupo de Fonte Filipe, bairro onde reside desde sempre. A sua casa é facilmente localizada devido aos adereços, inclusive uma saia, pregada na fachada principal da residência.  

D’ming mata boi na sua casa

“Tenho 50 anos e há 25 desfilo como mandinga todos os domingos. Ainda consigo carregar a minha saia que, por ser feita de pele e rabos de boi, é muito pesada. E ainda um grande número de adereços, para os pés, braços, cabeça e várias contas”, descreve o entrevistado, que se orgulha de, todos os anos, refazer e reforçar as suas vestes. “Comecei com T’scoc e Emerson, que emigraram. Por isso entrei para os Mandingas de Fonte Filipe. Conheço todos os trejeitos e sei manejar os passos de dança. Tenho isso na alma. Basta ouvir a música para começar a me mexer”, reforça Domingos. 

Mas antes de “vestir a pele de mandinga”, este conta que desfilou de máscaras pelos bairros de S. Vicente, cumprindo a tradição por sete anos consecutivos. Nesta altura, diz, à frente de um grupo de máscara vinha apenas um mandinga a abrir o caminho entre as pessoas. Com o falecimento dos primeiros mandingas, entendeu D’ming que deveria ocupar um dos lugares vagos.

“Éramos poucos no início, mas soubemos respeitar os nossos precursores. Fiz os meus trajes e adereços, inclusive levei-os na bagagem para Boa Vista quando fui trabalhar naquela ilha. Participei de alguns desfiles com outros jovens de S. Vicente que lá encontrei. Depois retornei e continuei a praticar aqui na ilha. Há muitos registos imortalizados num livro de fotografia feito por um francês, em parceria com o artista plástico Tchalé Figueira. Ainda guardo o livro com carinho”.

Foto antigas de D’ming mata boi

A tradição de percorrer os bairros anunciando o Carnaval é um dos aspectos que mais agrada este mandinga. D’ming lamenta no entanto a perda de alguma espontaneidade nos desfiles, que agora são direcionados e cronometrados pelas autoridades, embora admita a necessidade de segurança. Isto porque, diz, há pessoas que vão para os desfiles não apenas para se divertir. “Antes era tudo mais leve, sem horário estabelecido. Íamos nas casas das pessoas, que nos ofereciam comes de bebes”, lembra.  

Apesar disso, garante que pretende continuar a desfilar nos mandinga de S. Vicente por muito tempo, com a sua saia de peles e rabo de boi. Aliás, afirma, recentemente acrescentou mais adereços – colares e tampas de garrafas de cerveja nos colares dos pés e braços – para aumentar o barulho. 

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