Por João do Rosário (Portugal)
Mindel Insite – Estás a trabalhar numa música que fala sobre Covid-19. Aliás, já colocaste nas redes sociais um protótipo, digamos assim, desta canção mas, neste momento estás à procura de mais vozes para introduzir neste tema. Reparamos que tens uma forte mensagem e direcionada para a proteção da nossa terceira idade, porquê?
Djamilo Gomes – É verdade, isto porque foram estas pessoas que cuidaram de nós. Deram e continuaram a dar tudo para nós. Agora, fico preocupado porque são as pessoas integram o grupo de risco por diversos motivos. São nossas amigas, vizinhas, familiares e não podemos deixá-las morrer por causa deste novo coronavírus. Por isso vamos ficar em casa, sem ter comportamentos de risco e evitar assim que levemos o vírus de fora para dentro de casa e proteger os nossos idosos, que nos dão muita força de viver.
MI – Como é essa canção?
DG – Desta vez escolhi a melodia de uma música do Michael Jackson, intitulada “We are the World”. Eu adoro esta música do ex-Rei do Pop que fala dos cuidados que nós devemos ter com o mundo e ou de coisas que estão nas nossas mãos e que o mundo ignora. Adaptei a letra em crioulo, que fala desta batalha que estamos a travar contra o Covid-19, apelando as pessoas para a necessidade de nos resguardarmos em casa, lavar as mãos várias vezes. Fazendo isto, quando tudo acabar, vamos voltar aos nossos convívios, aos nossos beijinhos e abraços com muita saúde. Este projecto intitula-se “No fca na Casa, nó Protegé nos Velhos”
MI – Quem são os teus convidados para cantarem contigo neste apelo para dar luta ao Covid-19?
DG – São várias pessoas, como Ivone Spencer, Melanie Delgado, Irony Costa, Zé Gomes, Djoy d’Ninha, Emely Rodrigues, Inalino Oliveira, entre outras. Muitas ainda por confirmar, mas que já receberam o convite.
MI – Por motivos vários e ocasiões tens sempre a preocupação de ter a música como o meio de transmissão dos teus sentimentos em relação aos teus conterrâneos, não é verdade?
DG – Ah pois, Cabo Verde sempre no Coração é o meu lema. A minha inspiração vem dos meus sentimentos como a saudade das convivências que tivemos e por isso é que sempre lá regressamos. Temos esse compromisso para levar a mensagem da nossa cultura e do nosso talento individual para o mundo inteiro para poderem escutar a riqueza da nossa terra.
MI – Tens estado ainda a promover alguns projectos culturais em Luxemburgo?
DG – Sim, sou promotor do projeto “Rosa de Coladera”, juntamente com a minha colega Rosy Santos, que é sobrinha do compositor e trovador maense Betu Silva. Enquanto organizadores de eventos culturais, realizamos o nosso primeiro espectáculo em Outubro de 2019, com nomes como Mário Lúcio e Princezito bem ainda outros artistas conceituados aqui em Luxemburgo e da nova geração. O nosso segundo projeto foi a música de Boas Festas com várias vozes. Também conseguimos trazer em Janeiro a cantora Ceuzany para a comemoração do dia dos Heróis Nacionais na terceira edição. A nossa grande gala que tinha como previsão o dia 28 de Março ultimo foi cancelada devido ao Covid-19.
MI – Falar de Djamilo enquanto músico é falar de um percurso de resistência. Como podemos definir esta parte do artista?
DJ – É verdade, sempre gostei da boa música cabo-verdiana. Quando em criança fui acordado por uma serenata do meu falecido irmão Zack e o nosso vizinho Zé d’Dulce, Piras de Rosaninha e o cantor Chick d’Djena, estavam a fazer à porta da nossa casa. Foi um momento feliz pelo facto de ter adorado imenso aquela música que ficou para sempre na minha cabeça. Desde então fiquei com vontade de um dia poder tocar a tal melodia. Deste modo, juntamente com os meus vizinhos, comecei a a aprender a música. Depois foi um escalada. Fui guitarrista do grupo musical “Nova Ideia”, de São Vicente; toquei com o malogrado e saudoso Biús, com o Dany Mariano e os Kings, com o rei do Carnaval Constantino Cardoso…
Músico e futebolista
MI – Sabemos que Djamilo, antes de abraçar a emigração, teve uma carreira de futebolista em Cabo Verde. Explica esta tua faceta que digamos foi um percurso de craque do futebol?
DG – Comecei a jogar futebol na minha zona Chã d’Alecrim, inspirado pelo meu irmão “Nholeza”, um ex-futebolista do Falcões e Mindelense que dispensava apresentações. Aos 13-14 anos passei a frequentar a primeira escola de futebol em São Vicente, do professor Eduíno Lima. Joguei nas camadas de formação da minha zona Asas do Norte e Ponta de Pom. Aos 16 anos, entrei para os Federados, através do clube Falcões do Norte. Depois fui para o Amarante, Derby, Mindelense, Ribeira Bote e retornei ao Ponta d’Pom.
Aos 33 anos imigrei para a Europa, onde fiz um treino com a segunda equipa do clube Hesperange do Luxemburgo, depois de muito tempo sem jogar futebol. O clube quis ficar comigo, joguei três épocas, ganhei cinco títulos. Eles nunca tinham conquistado qualquer título. Ganhei três campeonatos da II divisão e 2 Taças de Luxemburgo consecutivos. Fui também campeão do torneio inter-ilhas em 2011 pela seleção de Jogadores oriundos de S. Vicente radicados no Luxemburgo.