O coração da cidade do Mindelo pulsou cultura ontem à noite, com dança, música, teatro, serenata e baile popular. Tudo para marcar em grande escala o Dia Nacional da Cultura, que este ano deu enfoque à vida e obra do poeta Eugénio Tavares.
Centenas de pessoas responderam ao apelo e foram presenciar a peça “Eu_ Génio Tavares: Do Legado à Ficção”, um trabalho multidisciplinar interpretado por dezenas de integrantes de grupos das áreas da música, dança e teatro. Durante uma hora e meia, a atenção dos presentes na Avenida 5 de Julho foi “congelada” com várias sequências de cenas, que nalguns casos deixaram as pessoas com uma ponta de interrogação em cima da cabeça.
“Esta peça não tem uma história em concreto. Cada espectador é livre de a interpretar à sua maneira e tirar as suas ilações”, respondeu o encenador Tony Tavares quando questionado se, na sua opinião, o público entendeu a mensagem implícita nesse trabalho artístico. “Nós não passamos mensagens, não fazemos a leitura linear de uma história e que o público deve entender. Se um artista-criador pensasse assim ele escrevia cartas. Cada espectador lê aquilo que vê com a profundidade do seu olhar”, reforça o director do Centro Cultural do Mindelo.
Mesmo assim, Tony Tavares explica que a encenação foi inspirada no universo do poeta-jornalista Eugénio Tavares, um acérrimo crítico social e que, diz, tinha um pensamento bastante avançado para a sua época. Tão evoluído que poderia ser transposto para a actualidade sociopolítica. “O mundo de Eugénio Tavares tinha muita coisa ligada ao amor, a cenas do corpo nu, sangue, etc., e que ele usava para derrubar a moral vigente”, realça o nosso entrevistado, que se mostrava satisfeito com a performance dos actores.
As cenas decorreram na rua e nas janelas tanto do Centro Cultural do Mindelo como do edifício da ex-TACV, que agora recebe provisoriamente o CNAD. A ideia foi transpor do interior para a rua a genialidade de Eugénio Tavares. Como Tony Tavares explica, a peça foi encadeada em três actos: “Força d’Cretcheu” – uma viagem a partir de um prólogo -, “Hora di Bai – distorcida” – o ter que partir e querer ficar – e “Carnaval” – a manifestação cultural que permite ao povo expressar aquilo que lhe vai na alma.
Em tudo isso, há uma mensagem política presente, que critica tanto a moral como os poderes e a própria sociedade. Esta devido a sua tendência em aceitar as coisas de forma passiva.
A encenação durou mais de uma hora e contou com o suporte de uma banda liderada pelo guitarrista Vamar Martins e integrada pela Banda Municipal.
Assim que caiu o pano sobre esta peça, arrancou a serenata a partir da Avenida 5 de Julho pelas artérias da cidade do Mindelo. Acompanhados de violão, viola e cavaquim, os participantes cantaram 12 temas da autoria de Eugénio Tavares, Paulino Vieira, Manel d’Novas, Joya, B.Leza, Jotamont, Armando Zeferino e Sérgio Fruzoni. A noite terminou com baile popular “largod na mei d’morada”.
Kim-Zé Brito