A comissão adhoc + São Vicente aponta a avenida do Estádio Adérito Sena como o local onde poderia ficar o futuro sambódromo da Cidade do Mindelo. A ideia, apresentada no quarto seminário sobre o ordenamento da orla marítima de S. Vicente, propõe mesmo a entrada dos grupos no municipal de futebol, onde seriam avaliados pelo júri. Com base nessa visão, o desfile teria concentração junto a Praça Estrela, com entrada na passarela a partir da rotunda da Rua do Coco, ponto este onde seria erigido um monumento ao Carnaval do Mindelo.
A professora Fátima Monteiro explica que os grupos fariam um desvio para o interior do estádio, onde poderiam apresentar o seu enredo para milhares de pessoas presentes nas bancadas. Feito o desfile, cada grémio sairia por uma segunda porta de acesso à Avenida 12 de Setembro, subiria para a rotunda da Ribeira Bote, onde daria a volta para depois descer em direção a Rua do Coco para dispersão.
Questionada sobre os canteiros/jardins, que servem de separadores dessa estrada do centro do Mindelo, cujas plantas poderiam dificultar a visualização dos carros alegóricos e dos próprios foliões para quem se encontra do lado contrário da via, Fátima Monteiro assegura que seriam preservados. “Numa cidade que precisa de arborização não se pode cometer o erro de derrubar as plantas, quando o que precisamos é de mais verde”, comenta Fátima Monteiro.
Conforme esta fonte, a comissão teve o cuidado de discutir a ideia com o presidente da Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval de S. Vicente (Ligoc-SV), que a considerou interessante.
Abordado pelo Mindelinsite, Marco Bento confirma o contacto e mostra o seu apoio a essa proposta, que, sublinha, surge associada a um provável projecto de transformação da Praça Estrela num centro cultural dinâmico, provido de um museu. “Se o sambódromo surgir neste âmbito, acho a ideia fantástica”, diz o presidente da Ligoc-SV. Adverte, no entanto, que a adaptação da avenida 12 de Setembro em sambódromo implicaria um certo investimento e, na sua visão, o provável derrube dos canteiros/separadores. “Com a retirada dos canteiros, teríamos espaço suficiente para o desfile dos grupos, o que poderia eliminar as limitações que existem neste momento com as dimensões dos carros alegóricos”, ilustra Marco Bento.
Quanto ao uso do estádio Adérito Sena, o presidente da Liga acha que traria vantagens no processo de avaliação dos grupos, desde que houvesse a necessária autorização da Câmara de S. Vicente. Marco Bento enfatiza que a actual posição das cabines dos jurados tem permitido a análise dos grupos praticamente só do lado direito. Já no estádio, o júri teria liberdade para examinar os grupos de todos os ângulos. Além disso, prossegue, a Ligoc poderia aumentar a disponibilidade de espaços sentados existentes no campo com a colocação de bancadas metálicas.
Coube ao urbanista Carlos Hamelberg a tarefa de arquitectar a ideia da construção do Sambódromo do Mindelo, com base nos dados fornecidos pela associação adhoc + São Vicente. Segundo o arquitecto, a proposta faz sentido porque são visíveis as limitações que o centro da cidade tem estado a apresentar para comportar desfiles cada vez mais exigentes dos grupos oficiais, o aumento do público nas artérias e a instalação de bancadas metálicas nalguns pontos do trajecto.
“Este é um debate que salta para cima da mesa principalmente por altura do Carnaval, sendo certo que o crescimento deste evento cultural, que é uma forte atração turística, demanda a criação de outras condições”, enfatiza, em conversa com o Mindelinsite.
Neste sentido, acha que a avenida poderia ser uma solução, um espaço adequado para receber os desfiles, com a criação de equipamentos de suporte aos grupos. “Vir criar um sambódromo com bancadas fixas, à semelhança do sambódromo do Rio de Janeiro, poderia levar o investimento a ser um elefante-branco no meio da cidade, uma obra para ser usada por 4 dias ao ano porque o Carnaval é uma actividade sazonal. Teria que acolher outras actividades para gerar a sua sustentabilidade”, frisa Hamelberg.
Monumento ao Carnaval do Mindelo
Outro elemento arquitectónico associado ao projecto é a edificação de um monumento ao Carnaval do Mindelo, a ser localizado no centro da rotunda da Rua do Coco. Conforme Carlos Hamelberg, a escultura foi esboçada tendo por base os elementos históricos e culturais dessa manifestação popular. “Como fundamentação, servimo-nos em síntese de elementos que traduzem dinâmicas de movimento e dança, numa simbiose de liberdade do corpo, na teatralidade das danças, no erotismo dos corpos e a quase carnal simbiose com a música, sob a égide do Entrudo, da ‘sabura e da vissarada’, como subversão antropológica e sociologicamente justificada do equilíbrio psicossocial”, revela o autor num texto conceptual elaborado com a colaboração do poeta Filinto Correia e Silva e colaboração do arquitecto Gerson Andrade.
Acrescenta o documento descritivo que os adereços, trajes, assim como as pinturas dos corpos e as máscaras, completam o visual estético. Estes, prossegue, são representados por elementos como chapas metálicas perfuradas com motivos de Pano di Terra, “em apelos dançantes e esvoaçantes, contornados pelo elemento tubular de conotação fálica, com pinturas geométricas africanas, tudo incorporado a um arco matricial e helicoidal, multicolorido, em clara alusão semântica à liberdade, à pluralidade, diversidade, participação e inclusão…”
Embora sem comentar propriamente o design proposto, Marco Bento diz que S. Vicente deveria ter um monumento ao Carnaval faz tempo. Relembra que há algumas estátuas erigidas na Cidade do Mindelo, mas nada que simbolize a sua maior manifestação cultural popular – o Carnaval.