O cineasta e antigo presidente da Associação Terra Tambor critica a Câmara de São Vicente, que acusa de estar a transformar as festas de romaria em festivais. No rescaldo das festas de Santa Cruz, Santo Manuel, São João e São Pedro – falta apenas São Miguel, que se assinala a 29 de Setembro -, Tambla Almeida afirma que estas festas, por si só, são ricas e movimentam multidões por isso não entende o porque de montar palcos na Ribeira de Julião ou São Pedro e levar artistas que nunca gravaram músicas próprias da época e sequer se identificam com estas festas de romaria.
“Já não estou na direcção da Associação Terra Tambor, mas continuo a fazer alguns trabalhos de investigação e pesquisa sobre as festas de romaria que estavam a começar a se perder em algumas ilhas. Foi, aliás, com este propósito que surgiu esta associação. Conseguimos levar esta iniciava para as escolas de ensino básico com resultados muitos positivos. Paralelamente, procuramos comunicar com as outras ilhas e projectar o São João, por exemplo, a única festa que é celebrado em todo Cabo Verde, ainda que cada ilha com especificidades próprias”, explica Tambla Almeida.
Paralelamente, também conseguiram estimular muita gente e hoje há mais tamboreiro e coladeiras de San Jon em São Vicente, incluindo jovens, o que leva Tambla Almeida a afirma que o trabalho desenvolvido pela associação contagiou estas positivamente pessoas. “Por isso, não entendo esta necessidade de festivalar estas festas. Este foi um dos motivos que desmotivaram e me obrigaram a afastar. Esta Câmara está a fazer a promoção de coisas fúteis, não está a revitalizar estas festas. Não têm interesse em aprofundar as investigações e divulgar os conhecimentos. Ao contrário, está a promover o álcool e outros vícios, repetindo uma formula que vem sendo utilizado em todas as actividades culturais em S. Vicente.”
Segundo Tambla, nos seus levantamentos conseguiu confirmar que São João é uma festa celebrado de Santo Antão a Brava. Por isso mesmo, os políticos tentar tirar proveito dela para ganhar votos. “Não têm interesse em mostrar a dimensão e importância desta festa. Cito o caso da Boa Vista, por exemplo, onde praticamente já não se festejava o São João. No entanto, nos últimos anos, as pessoas vêm recuperando esta tradição”, assevera.
Outro elemento pujante que este cineasta diz ter observado nas suas pesquisas é a quantidade de músicos e artistas que já gravaram temas ligados as estas festas, particularmente de São João. Este conta que, nas suas investigações, conseguiu recolher um número extraordinário de músicas que falam destas festas. “Antes nestas festas ouvia-se sempre as mesmas músicas. Hoje há uma grande variedade. Conseguimos testemunhar isso, agora, nas festas e arraias em S. Vicente. Mesmo Cesária Évora, que não era grande fã das festas de São João, gravou um tema. O multi-instrumentalista Vasco Martins possui uma série de composições sobre o tema, inclusive uma delas foi gravada pela cantora Hermínia Antónia de Sal no seu CD, que teve a chancela do Vasco. Encontramos ainda vários compositores e interpretes antigos, caso do Grupo Colá San Jon, Kiki Lima, de entre muitos outros.”
Esta dinâmica contagiou também os artesãos, que resolveram investir na arte a volta das festas de São João, e hoje já é possível encontrar no mercado quadros, trabalhos de cerâmica, batil, rendas, esculturas em pedra, fibras, etc. A estes juntam-se os construtores de tambores e navizinhos de S. João, que classifica como “verdadeiras obras de arte”. “Todo o trabalho de valorização destas peças e conseguimos”, comemora Tambla Almeida, para quem as festas de São João já não se resume a tocar tambor e colá. É uma festa com vertentes artísticas, culturais, gastronómicas, com jogos tradicionais e lumnara, pelo que não precisam ser também festivais. “É ridículo”, conclui.
Constânça de Pina