O grupo carnavalesco Cruzeiros do Norte apresentou na noite deste sábado o enredo que vai levar para a rua em 2024: “Dona Matemática Governa Tudo e Rebola no Carnaval”. Com este tema inovador e desafiante a agremiação do norte assume a sua ambição de voltar a conquistar o título do Carnaval, que lhe foge desde 2019. Além disso posiciona-se como um espaço educativo e mostra que a Matemática não é um ‘bicho de sete cabeças’ como a maioria das pessoas pensa.
A escolha do pátio da Escola Secundária Jorge Barbosa para apresentação do enredo era o prenúncio de que este ano a aposta do grupo fugia ao óbvio, ao corriqueiro e ao tradicional. E todas as exibições que antecederam o levantar do véu sobre o tema “Dona Matemática” foram, na verdade, uma equação sempre a somar, desde o hino oficial do grupo, passando pelas homenagens à falecida artista Sara Tavares e ao malogrado Sr. Albino, uma das pedras angulares do Cruzeiros, às atuações de Hernani e Edson Oliveira.
Inovador foi também o espetáculo do grupo de dança Angels, que começou dentro de uma sala de aula cheia de alunos irrequietos, seguiu-se uma exibição de coreografias irrepreensível e terminou com este se assumindo como Comissão-de-frente. Posteriormente, o “palco” foi ocupado pelas passistas, musas, mestre-sala e porta-bandeira. A surpresa da noite foi a apresentação oficial do site www.cruzeirosdonorte.cv, que vai permitir, de entre outros, que qualquer pessoa em qualquer ponto do país ou do mundo se torne sócio, participe nas atividades ou compre produtos do grupo.
A emoção maior foi, no entanto, a passagem da bandeira do Cruzeiros do Norte, que foi carregada nos últimos três anos por Hirondina “Dondy” Évora, ela que arrecadou o título de melhor porta-bandeira de 2023, para Laurinda Santos (ex-Flores do Mindelo). Motivos profissionais afastaram Dondy, que chorou muito, mas ficou mais sentida ao ser homenageada em um video com os seus feitos. Laurinda vai fazer par agora com o mestre-sala Valdir “Cavera” Gomes. Já Andrea “Brodjinha” Gomes continua como rainha de bateria, enquanto a família real para 2024 é composta por Daniel Vitória (Rei), e as rainhas Janelle do Rosário e Raquel Andrade, todos eles “crias” do Cruzeiros do Norte.
O presidente do Cruzeiros do Norte mostra-se confiante no trabalho que o grupo vai apresentar aos cabo-verdianos no dia 13 de fevereiro. “Este enredo foi-nos apresentado pelo carnavalesco Fernando Morais e foi abraçado pelo grupo. Tem tudo a ver com as comemorações dos 40 anos do Cruzeiros. Estamos a falar de uma data especial. Há 40 anos D. Irene teve a ideia de criar este grupo. Se hoje Cruz João Évora é um bairro pobre, imagina como era naquela época. Penso que foi uma grande luta colocar o grupo na rua e estamos aqui a dar continuidade ao seu trabalho. Vamos celebrar e aproveitamos para pedir às pessoas que desfilarem há 40 anos no grupo a se juntarem a nós nesta festa”, convida Jailson Juff, que neste momento diz estar a tentar convencer algumas dessas pessoas a voltar a desfilar.
Sem medo de arriscar
Sobre o enredo, o Director do Carnaval do Cruzeiros explicou que é pretensão do grupo desmistificar a Matemática pelo seu poder e o medo que causa em muitas pessoas. “Sabemos que muitas pessoas não gostam desta disciplina, então decidimos mostrar que ela não é um bicho de sete cabeça.”O enredo vai ser contado em três sectores. “No primeiro iremos abordar a parte histórica da Matemática desde o seu surgimento e percurso; no segundo sector iremos abordar sua atualidade e fazer um paralelo com a realidade. A novidade aqui é que vamos puxar para a comédia, com parodias e muito humor. Já no terceiro sector vamos mostrar o excesso da matemática e que nos leva à Inteligência Artificial.”
Segundo Nuno Gonçalves, a ideia é mostrar que qualquer erro de cálculo acarreta consequências, sendo a mais drástica o fim do planeta terra. “Isso implica, no futuro, termos de viver em um outro planeta, sob o domínio das tecnologias e longe da realidade. Isto nos leva a questionar qual é mais importante: a inteligência natural ou artificial? É este contraste que iremos mostrar no terceiro sector. Faremos ainda um pequeno encerramento, que é um prenúncio da sorte aos 40 anos em que o Cruzeiros desfilou como grupo oficial do Carnaval e mostrar que a vida é governada pela matemática”, explica este responsável, que diz sentir que, em 2024, Cruzeiros é um forte candidato ao título.
Em relação a bateria, Nuno Gonçalves garante que está a trabalhar para trazer 150 ritmistas. Os escolhidos, informa, terão de respeitar regras rígidas. “Em meados de dezembro vamos fazer a seleção dos ritmistas que se destacaram. Só depois é que abriremos vagas para pessoas experientes e que costumam tocar no Carnaval para integrar a nossa bateria”.
Quanto à música, explica, já está “no forno”. “Este ano, ao contrário de 2023, decidimos não apresentar a música junto com o enredo. Está a ser preparada por uma equipa constituída por Ivan Medina e Edson Oliveira, com apoio do nosso carnavalesco, autor deste projecto. Na parte da bateria, assumo todos os arranjos. A ideia é inovar e, graças a Deus, estou num grupo onde tenho liberdade para inovar e para criar.”
Depois de ter conquistado três notas máximas na edição 2023 do Carnaval de São Vicente e ser muito elogiado pelos elementos do júri, de acordo com o mestre, têm de trabalhar para manter ou elevar ainda mais o nível. “É complicado porque estamos num nível elevado e não podemos de maneira nenhuma baixar. Temos de manter ou elevar. Felizmente, logo que termina o Carnaval fazemos questão de iniciar do zero novamente. O trabalho é novo, ensinar, integrar novos ritmistas, ensaiar. É todo um processo contínuo. O prémio fica na prateleira. Agora é outro trabalho, novo enredo, com uma outra música e novos arranjos. Mas estamos no bom caminho.”
Para contar a vida da “Dona Matemática”, o grupo carnavalesco Cruzeiros do Norte perspectiva ter 1.200 a 1.300 figurantes, três carros alegóricos e ainda algumas surpresas. Antecipando o desfile de 13 de fevereiro, Cruzeiros do Norte realiza no dia 06 de janeiro o seu “assalto de Carnaval”. “Estamos preparados para começar a trabalhar. Mas, infelizmente, ainda não temos estaleiro”, diz Jailson Juff, que aproveita para alertar as autoridades que o Carnaval 2024 é cedo e já deviam ter disponibilizado a primeira tranche da verba para os grupos poderem começar o trabalho.