Os mandingas dominaram as manifestações espontâneas deste domingo de carnaval normalmente dedicado às crianças, mas que este ano levou ao coração do Mindelo um número significativo de pessoas, incluindo muitos turistas e emigrantes que se deslocam propositadamente a S. Vicente para participar deste que é o “maior espetáculo de Cabo Verde”. Mas o destaque, mais uma vez, foram os mandingas da Ribeira Bote, que arrastaram consigo uma multidão.
O presidente Nilton “Tau” Rodrigues explicou que os Mandingas da Ribeira Bote se apresentaram com cerca de 250 foliões trajados a rigor, provenientes de quase todas as ilhas. “São pessoas que estão aqui porque sentem amor e pedem para participar dos nossos desfiles de mandingas. E nós sentimos orgulho pela presença e queremos que venham mais pessoas porque, sem dúvida, atualmente os mandingas são quem arrastam maior número de pessoas no Carnaval de S. Vicente”, declarou.
Intercalando os mandingas, desfilaram alguns grupos provenientes dos bairros, caso do Monte Sossego Mirim, que este ano trouxe crianças trajadas de índios de várias “tribos”, Mama Gelod da Ribeirinha que trouxe várias mensagens em cartazes – Ricos te c’me cavala e pobre galinha – e deixou um recado ao edil Augusto Neves. “Viemos animar o carnaval, mas aproveitamos para reivindicar algumas infraestruturas para o nosso bairro. Por exemplo, pedimos um campo relvado e um centro comunitário.”
Já a Escola de Basquetebol Zé Baía La Família apresentou-se com um grupo formado por crianças dos 5 anos a jovens dos 22 anos, que expressaram preocupação com o ambiente através do tema “Cesto na reciclagem, precisamos cuidar do nosso lixo”. “Pensamos que a nossa sociedade precisa apostar na reciclagem e cuidar do lixo. Todos os anos fazemos campanhas de limpeza e constatamos a presença expressiva de plástico, o que nos leva a concluir que precisamos reciclar em Cabo Verde.”
Do Campim veio mais um pequeno grupo de animação, que emprestou o seu nome ao bairro e se apresentou como “Campim boca d’nheme”. O responsável, Olégario Vitória, justificou a presença do grupo como uma forma de manter a tradição, lembrando que a zona tem o carnaval o sangue. “Decidimos juntar as nossas famílias para animar esta festa. Temos aqui crianças e adultos a brincar. É este o nosso objectivo: tirar as pessoas da zona para divertirem também no Carnaval.”
E a população respondeu, mais uma vez, ao chamado, lotando as principais ruas do centro da cidade. É o caso, por exemplo, de Djita Matos que, com os seus 93 anos, ainda percorre toda a “passarela”, não obstante agora apoiado em uma bengala. “Ainda não vi nada de especial. Tem mais gente do que Carnaval. Antes, todos os anos, eu trajava a rigor e descia para morada. Lembro-me um ano que vesti de feiticeira e montei em uma moto. Ficou parecendo que estava a voar em uma vassoura. Perto da Praça Nova um indivíduo puxou a ‘vassoura’ com tanta força que a moto parou”, relatou.
Amantes de “causos” Djita lembrou com saudade ainda um outro carnaval em que montou um figurino diferente formando duas pessoas em uma, sendo na parte inferior um anão e, na posterior, uma pessoa normal. Hoje o seu maior pedido é por disciplina, tendo em conta o grande número de pessoas na rua.