A Associação Cívica e Cultural Estrela do Mar apresentou esta segunda-feira o seu enredo para o Carnaval 2025 “I Love Terra”, em defesa do ambiente, mais precisamente do verde pomar, e pede ponto final para o aquecimento global. A cerimónia foi aproveitada para a assinatura de um protocolo com a associação Biosfera 1, que chama atenção para a importância deste tema e se mostra disponível para cooperar também com os demais grupos e com a própria Liga Independente dos Grupos para terem uma abordagem mais consciente e sustentável do Carnaval.
A decisão de apresentar o enredo a meio deste ano, segundo o presidente Júlio do Rosário, tem como propósito inovar, socializar atividades e trabalhar para que as pessoas entendam o tema apresentado pelo grupo. “Vamos, durante os próximos meses, desenvolver e incutir nas pessoas o tema do nosso Carnaval para que possam entender este enredo, que é atual, pertinente e de interesse público. Por outro, sempre foi intenção e desejo desta direcção trabalhar com a Biosfera e ter esta associação ambiental como a nossa parceira, por isso a assinatura deste protocolo de cooperação.”
Quanto ao enredo, o carnavalesco Emanuel Ribeiro afirmou que, apesar de ser carnaval, a questão ambiental é séria e, numa altura em que faltam “90 segundos para a meia noite marca o relógio do juízo final”, é importante trazer este assunto para a rua. Trata-se, disse, de um instrumento que um conselho de cientistas americanos publica todos os anos desde 1947 e que resulta de vários cálculos estatísticos sofisticados, cujos ponteiros indicam o quão próximo a humanidade está de uma catástrofe global.
Sete pecados ambientais
“O Estrela do Mar (Stella Maris em latim), que simboliza cura e renovação, convoca para 2025 uma verdadeira manifestação de cor, ritmo e folia pelas ruas da morada, denunciando aquilo que o Papa Francisco chamou de ‘o grande pecado contra a criação’. Iremos solidarizar com os se erguem em defesa do planeta e posicionar contra os sete flagelos: os poluentes, as queimadas, o desmatamento, o lixo a céu aberto, os gases estufa, a pecuária insustentável, a betuminização sem planificação.”
Para Ribeiro, vê-se boa parte destes “pecados” nesta urbe, facto que leva o EDM, na sua consciência ambientalista, a descer ao sambódromo de morada clamando pela preservação urgente do planeta “ó terra mãe, bos fidj é, enton perdoas sem fazes dor. No sabe ques fazeb guerra e es sujob c’ses podridão ma, please, das bo colo de perdão. Terra nos verde pomar, abri ala bo tcha passá bo boa estrela, Estrela do Mar.” Em suma, o grupo junta a sua voz à das entidades, organizações ecologistas, ong´s e ‘tud bom criston’ para dar o alerta de que esta é a última geração que ainda pode fazer algo agora.
Não obstante a complexidade deste tema, o carnavalesco promete um desfile festivo, pictórico e bonito. “Vamos vociferar aqui de Cabo Verde e dizer que é preciso uma tomada urgente de consciência, uma mudança de comportamento, desde como produzimos energia à forma como a consumimos. Vamos explicar de forma alegórica o famoso efeito borboleta do caos, que diz que, batendo as asas na Conchinchina, pode provocar um furacão aqui bem perto de nós. Ou seja, todos estamos envolvidos e temos de fazer qualquer coisa”, desafia o mentor do projecto EDM 2025.
Para reproduzir este enredo, o grupo perspectiva trazer três alegorias, dois tripés e um quadripé e desfilar com 1200 foliões. “Temos a noção de que fazer este carnaval vai ser dispendioso. Por isso estamos no terreno a trabalhar, junto com o nosso departamento financeiro. Garantidos temos o apoios da CMSV e do Ministério da Cultura. Também estamos a trabalhar com os parceiros, caso da Biosfera, para juntos realizarmos o orçamento, que anda a volta dos 10 a 12 mil contos”, afirmou Júlio do Rosário, que se mostra confiante na disponibilização dos patrocínios em tempo útil. É, aliás, neste contexto que, diz, surgiu também este protocolo com a Biosfera 1, anual e renovável, consoante o interesse das partes. Mas, paralelamente, o EDM pretende realizar uma série de atividades para angariação de fundos.
Do lado desta associação ambiente, o presidente Tomy Melo felicitou o grupo pela coragem de abordar um tema atual, mas com muita complexidade. “O Carnaval é uma expressão cultural muito forte em Cabo Verde, principalmente em S. Vicente. Como tal, temos de ter uma abordagem consciente e sustentável para um tema tão grande como este. Este protocolo vai passar não só pela envolvência das duas instituições para o desenvolvimento de atividades conjuntas para o bem do ambiente, mas também ter uma abordagem consciente, designadamente no uso de materiais, no descarte, etc.”
Sobre este particular, desafia os grupos a firmar parceiras com instituições para que os trabalhos apresentados na avenida não tenham fim logo na quarta-feira. Neste sentido, a Biosfera mostra abertura para a continuidade do acordo durante muitos anos, extensivo aos demais grupos e a própria Liga Independente, no sentido de ter uma abordagem mais consciente e sustentável do Carnaval.