Carnaval 2025: Cruzeiros do Norte apresenta enredo em forma de ópera com quatro atos 

O grupo carnavalesco Cruzeiros do Norte voltou a inovar na noite desta sexta-feira, 20 de dezembro, ao apresentar o seu enredo para o Carnaval 2025 em forma de uma ópera com quatro atos. Com o tema “Farol do Atlântico brilhante de mil luzes”, da autoria de Fernando “Nóia” Morais e contribuição da direção do Carnaval, esta agremiação do Norte de São Vicente espera voltar a conquistar a festa do Rei Momo, depois de no ano passado ter ficado na segunda posição, um resultado que os dirigentes e foliões “engoliram” a contragosto, tendo em conta a qualidade do trabalho apresentado.   

A apresentação do enredo aconteceu no Centro Cultural do Mindelo, a principal casa do teatro e da cultura de São Vicente, por forma a honrar o tema escolhido. Os presentes foram guiados nesta apresentação por um “poeta” que, junto com alguns atores, representaram os quatro atos desta ópera, desde a chegada dos descobridores, passando pelas influências africanas e europeias até ao presente. O director do carnaval desta agremiação, Nuno Costa, explicou que após o resultado do ano passado, em que se sentiram injustiçados e “morditos” com o segundo lugar, tendo em conta a qualidade do trabalho apresentado, decidiram resgatar este tema, que não fala de faróis, mas sim de Cabo Verde. 

Entendemos que o farol do Atlântico é Cabo Verde e as suas mil luzes, que são aquilo que aconteceu no arquipélago desde os descobrimentos até o presente. Ou seja, desde a chegada dos portugueses nas ilhas, que na altura eram desertas, as contribuições trazidas tanto pelo continente europeu como africano. Não vamos abordar a escravatura, a colonização, o partido único ou a democracia. Vamos centrar tudo de positivo que ajudou a construir este país”, explicou o director de Carnaval, Nuno Costa.

Esta “epopeia” será contada no desfile do dia 04 de março de 2025 numa espécie de ópera a céu aberto, com quatro atos, pensado como se fosse uma poesia. Segundo Nuno, o primeiro ato é a chegada dos portugueses, retratada através do poema “Prelúdio” de Jorge Barbosa (1902-1971), que fala da chegada do descobridor na primeira ilha, onde não encontrou homens nus e nem mulheres nuas espreitando inocentes e medroso detrás da vegetação. “Havia somente as aves de rapina de garras afiadas, as aves marítimas de voo largo, as aves canoras assobiando inéditas melodias.”

O segundo ato, afirma, descreve como as mil luzes da África contribuíram para a riqueza do país. “A África nos trouxe um “caldeirão” cultural, ainda que através de um ato humano incorreto que foi a escravatura. Enquanto que no terceiro ato, temos as mil luzes da Europa, mais precisamente a cultura que foi trazida do continente europeu para Cabo Verde. É tudo aquilo que foi importado da Europa e que enriqueceu a nossa vivência, desde atos culturais, culinária, literatura, entre outros”, detalha.

Já o quarto ato é o agora, a miscigenação das duas culturas – europeia e africana – e que resultou em uma terceira que é própria de Cabo Verde. De acordo com o director do carnaval do grupo, este ato traz o tradicional, a música, a dança e a nossa culinária genuína do país, que foi inspirada na África e na Europa, mas hoje é algo genuíno do arquipélago. “O nosso Carnaval veio do entrudo português,  misturado com o de Veneza e do Brasil, mas hoje é nosso, único. Vamos falar da cultura, que hoje exportamos, da música, da tapeçaria, tecelagem, pintura, culinária, etc.  Estas são as mil luzes que agora estamos a exportar. E os próprios turistas que nos visitam vêm procurar aqui”.  

Para contar esta história, o grupo pretende apresentar o mesmo número de foliões do ano passado, ou seja 1200. Mas, para não revelar todas as novidades em um único evento, a direção do Cruzeiros do Norte, decidiu não apresentar as figuras de destaque reis e rainhas – serão dois reis e duas rainhas – , a rainha de bateria, a porta-bandeira e o mestre-sala, bem como a música. Nuno Costa justifica dizendo que estão a fazer uma pesquisa aprofundada e cuidadosa porque o samba terá também uma linha diferente daquilo que o grupo tem apresentado nos últimos anos. 

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