O empresário Jason Wyatt acusou três cidadãos estrangeiros de abuso de confiança e roubo, que, enfatiza, provocaram sérios prejuízos financeiros ao restaurante Black Pearl e à empresa Visit Cape Verde, empreendimentos que criou para promover o turismo e o investimento no sector imobiliário na ilha do Sal. As ocorrências, assegura esse investidor inglês, foram comunicadas à Polícia Nacional e as queixas encaminhadas para a Procuradoria da República em agosto de 2020, mas sente que os processos estão a caminhar a passo de tartaruga.
Abordado por este jornal electrónico, o próprio advogado Tiago Costa considera, no entanto, que o tempo de resposta da justiça é aceitável, tendo em conta que as queixas foram promovidas no ano passado, mas que mesmo assim tem vindo a pressionar o Tribunal para agilizar o caso. Este afirma que o processo está em segredo de justiça e que não pode adiantar muita informação, a não ser que acabou por remeter as queixas para a Procuradoria da Comarca do Sal e ainda ao Banco de Cabo Verde para averiguar a abertura de uma conta bancária falsa, que serviu para receber depósitos de forma fraudulenta por uma ex-sócia do inglês.
Em conversa com o Mindelinsite, Wyatt adianta que tem atraído para Cabo Verde um número elevado de turistas e de investidores imobiliários através da empresa Visit Cape Verde, mas que acabou por ser roubado por um inglês, uma zimbabueana e um senegalês, em situações diferentes. Por conta dessas ocorrências, Jason Wyatt classifica 2020 como um ano terrível na sua vida. Conforme cópia de dois processos-crimes que enviou a este jornal electrónico, Wyatt apresenta queixa na Procuradoria da Comarca do Sal contra C. M. e El H. (decidimos abreviar os nomes porque foi impossível ouvir o contraditório) por suspeita de roubo de bens pertencentes à empresa Visit Cape Verde – Actividade Turística, criada em 2018.
No caso da mulher CM, do Zimbabué, o queixoso explica que, após suas férias em C. Verde, decidiu abrir um negócio para promover o arquipélago como destino turístico. Criou, assim, um website para “vender” a ilha do Sal. Deste modo, em novembro de 2018 lançou um folheto/brochura intitulado “Visit Cape Verde Guide Book 2019”, para promover as empresas locais.
Entretanto, Wyatt viria a ser contactado no dia 15 de julho de 2019 via email por C.M. no sentido de discutirem uma proposta de negócio. Do contacto ficou assente que a mulher ficaria a gerir o lado operacional dos negócios em C. Verde, passando mesmo a ser sócia da iniciativa no mês de dezembro desse ano. Deste modo, passaram os dois a gerir a Visit Cape Verde.
Passo seguinte, acordaram abrir o restaurante “Black Pearl” na cidade de Santa Maria, no Sal. No entanto, Wyatt assegura que foi ele quem desembolsou o financiamento e assumiu a estratégia e desenvolvimento internacional do website e da brochura.
Porém, a parceria, segundo o inglês, começou a dar para o torto. “É facto notório que desde o início da parceria que a denunciada vinha cometendo ilícitos relactivamente à confiança que se espera entre sócios”, afirma a queixa remetida ao Ministério Público. Conforme a mesma, a suspeita passou a cometer furtos, a cobrar dinheiro dos clientes sem prestar os devidos serviços, criou uma conta bancária falsa no nome da Visit Cape Verde e burlou funcionários por falta de pagamento dos seus salários.
Na queixa contra CM, o queixoso elenca um conjunto de situações alegadamente cometidas pela ex-parceira, que apontam para cometimento de furto de dinheiro pertencente a Wyatt e ao irmão deste. Os valores dizem respeito a transferências feitas por Wyatt para a empresa Visit Cape Verde, para impressão, produção e transporte do guia, renda do escritório, subtração de montantes pagos por clientes, além dos salários dos trabalhadores. Inclui ainda bens furtados como computador, telefone, câmara fotográfica, etc., e um prejuízo superior a 1.500 euros em livros e registos da empresa destruídos supostamente pela denunciada.
Em consequência desses prejuízos, o restaurante Black Pearl faliu e várias pessoas foram para o desemprego. “Sucede que a denunciada agiu sempre em conspiração e coordenação com o seu parceiro P. S. e tentou abrir uma conta bancária falsa em nome da Visit Cape Verde sem estar devidamente mandatada”, frisa a denúncia remetida à Procuradoria do Sal.
Conta bancária “falsa”
Mais adiante garante que a acusada conseguiu mesmo abrir a conta, que tinha por propósito receber fundos de uma comissão turística espanhola e de outros clientes. Estes chegaram a efectuar pagamentos de serviços não prestados e que deram entrada nessa conta falsa, segundo Wyatt. Acresce ainda dinheiro que CM terá recebido para fazer reparações no restaurante, mas nunca realizou tais trabalhos.
Todos esses procedimentos ilícitos, conforme o queixoso, tiveram também impactos negativos na imagem internacional da empresa. “Sucede que a reputação de uma empresa e de quem está à frente dos negócios, caso sejam alvo de difamação, e no mundo em que vivemos impulsionado pela comunicação social e redes sociais, a conduta da denunciada pode vir a causar danos ainda mais consideráveis à empresa e ao bom nome dos sócios”, salienta.
Tendo em conta as ocorrências, considera a queixa-crime remetida ao Ministério Público que C.M. cometeu os crimes de burla qualificada, furto, dano qualificado, injúria, abuso de confiança e apropriação indevida. A queixa elenca cinco testemunhas, todas residentes no Sal.
Assalto ao restaurante Black Pearl
A outra queixa cuja cópia foi remetida para este jornal é contra o senegalês El H., que terá também roubado a empresa Visit Cape Verde. Diz o documento que Wyatt e El H., que tem loja de souvenirs no pedonal de Santa Maria, mantiveram uma relação de amizade por dois anos. Aliás, El H. chegou a assinar contrato de trabalho com a empresa Visit Cape Verde, mas que viria a ser rescindido. Mais tarde, diz a queixa, Wyatt voltou a oferecer emprego ao senegalês e emprestou-lhe dinheiro para suprir dificuldades por que estava passando.
Em junho passado, Wyatt e El H. discutiram a possibilidade de reabertura do restaurante Black Pearl, mas, devido aos impactos da Covid, acordaram que todos teriam que fazer sacrifícios, tendo o senegalês aceite receber um salário mais baixo e que passaria a descontar a dívida com os empréstimos.
A relação era de confiança ao ponto de El H. possuir as chaves do restaurante. Mas Wyatt suspeita que o denunciado tenha feito cópia das mesmas sem a sua autorização. Acontece que o restaurante foi invadido no dia 30 de julho e levaram diversos itens. No entanto, as portas e as janelas não foram arrombadas. “O que se pode concluir que a pessoa que entrou não era estranha”, denuncia.
Wyatt desconfia de El H. e diz que o senegalês terá agido dessa forma como vingança devido a um problema laboral, referente ao não pagamento das remunerações referentes de março a julho.
Conforme a lista constante da queixa, o suspeito terá leva um fogão, alto-falantes, micro-ondas, panela de pressão, liquidificador, etc., alem de garrafas de bebidas alcoólicas como gins, whisky e vodka, havana club, rum…
Para o queixoso, o ex-amigo senegalês cometeu os crimes de roubo, abuso de confiança e apropriação indevida, após fazer cópia das chaves do restaurante. Dada a natureza dos delitos e quantia envolvida, Wyatt pede que as contas bancárias do denunciado sejam bloqueadas e o passaporte apreendido. E que o mesmo seja condenado a restituir os bens subtraídos caso ele não consiga reembolsar o queixoso do prejuízo
O Mindelinsite tentou entrar em contacto com os telemóveis de C. M. e El H. constantes das queixas, mas as chamadas caíram na caixa de correio de ambos os números. Tendo em conta que não conseguiu ouvir o contraditório, este jornal achou por bem não revelar os nomes dos suspeitos.