A UCID manifestou-se hoje contra a realização de cinco dias de espectáculos musicais na Rua de Lisboa para assinalar a passagem de ano, como anunciado pelo presidente da Câmara de S. Vicente num encontro dos militantes do MpD. Em conferência de imprensa, Anilton Andrade tornou público o “profundo descontentamento e veemente discordância” do seu partido com a decisão unilateral do autarca Augusto Neves, quando, diz, a ilha continua a enfrentar o drama provocado pelo temporal do dia 11 de agosto e que obrigou o Governo a decretar estado de calamidade.
O presidente regional da UCID relembra que mais de 10 pessoas morreram, a ilha ficou destruída pela chuva torrencial, no entanto, 4 meses depois a edilidade decide marcar o Réveillon com cinco dias de festa sem sequer discutir o assunto com os vereadores. Uma prova, diz, do autoritarismo e da falta de sensibilidade do edil Augusto Neves para com as famílias que perderam parentes nesse fatídico dia.
O porta-voz dos democratas cristãos salienta que, nos termos do regime jurídico aplicável ao Estado de Calamidade, este impõe às autoridades públicas, incluindo as autarquias locais, deveres acrescidos de contenção, racionalização de despesas, prioridade absoluta à proteção das pessoas e à reconstrução. “É à luz destes princípios legais e constitucionais que a UCID considera que a realização de cinco dias consecutivos de festividades é incompatível com o espírito e a letra do Estado de Calamidade”, diz Anilton Andrade, para quem essa medida representa uma opção “politicamente inadequada, moralmente insensível, socialmente injustificável e juridicamente questionável”.
Questionado se o partido vai ficar, deste modo, só pela declaração, Andrade salientou que a UCID pode fazer uma petição ou enviar uma reclamação ao gabinete do presidente da CMSV, mas vai adiantando que Neves não iria mudar de posição. “Mesmo usurpando os poderes do órgão colegial, que é a câmara, ele vai sempre em frente nas suas decisões.”
Segundo Andrade, o seu partido não é contra a realização do Réveillon, entendido como um momento único e simbólico de esperança e união, mas desde que organizada com sobriedade, moderação orçamental e respeito pelo quadro legal excepcional em vigor. “O que rejeitamos, salienta, é o excesso, num momento em que a prioridade deve continuar a ser a reconstrução, o apoio social, a habitação e a reposição das condições mínimas de vida das famílias enlutadas.”
Perguntado sobre a quantidade de dias que, na sua opinião, a CMSV deveria optar, esse porta-voz evitou dar uma resposta directa. Respondeu apenas que não vai lançar números para o alto, lembrando, entretanto, que a passagem de ano é celebrada num único dia. Anilton Andrade lembrou que outras autarquias cabo-verdianas deixaram de realizar os seus festivais de verão e auxiliaram financeiramente a ilha de S. Vicente, pelo que clasifica a postura do edil Augusto Neves como um acto de deselegância institucional grave.
