Por: “Badjuda brabu”
Apetece-me iniciar essa reflexão com a abordagem de uma situação que me parece em muito semelhante a que se viveu há dias no país, relativamente ao caso da Boavista: o episódio do marido que trai a esposa. Quantos de nós já não presenciamos, muitas vezes mais de perto do que aquilo que desejaríamos, um caso de traição? E a quem tendemos a atribuir a culpa? À esposa, que não soube cuidar do seu marido? À amante linda e poderosa que seduziu o marido? Ou ao marido que não soube ser fiel ao compromisso que assumiu com a sua esposa?
Infelizmente, grande parte da nossa sociedade machista e “colola”, ainda que aponte um dedo ao marido, aponta quatro dedos à amante, que seduziu o “coitado” do marido e com isso destruiu uma família. Daí a explicação para que muitas esposas traídas se sintam tentadas a ir tirar satisfações à amante, a conhecida “briga de cumbossas”, e com isso continuam com o seu “pobre” marido, para que a amante não se sinta vencedora, que lhe tirou o marido, este que assim começa uma vida boa e mansa, com duas mulheres que o querem mais do que a própria dignidade.
“Depois de terem votado num Governo para conduzir o vosso destino, depois de lhe terem confiado a vossa segurança e com ele se “casado”, vão cobrar satisfações, vão culpar a amante pela traição do vosso marido?”
No entanto e graças a Deus, ainda existe uma boa parte da sociedade e de mulheres traídas que, perante esse tipo de situações, tomam uma atitude racional e digna, cobrando satisfação apenas e unicamente ao marido, com quem tinham um pacto que fora quebrado/violado. E qual a semelhança desse caso com a situação da Boavista? Os atentos já a terão visto, certamente. Entretanto, e para as esposas “cegas”, eis a explicação do óbvio:
Então, depois de terem votado num Governo para conduzirem o vosso destino, depois de lhe terem confiado a vossa segurança e com ele se “casado”, vão cobrar satisfações, vão culpar a amante pela traição do vosso marido? Qual o compromisso que firmaram com os trabalhadores do hotel Riu Karamboa para os cobrar o que quer que seja? Podiam ter pensado na família que estariam a destruir e com isso não provocar, “tentar” o “santo” marido? Sim, podiam e até mesmo deviam. No entanto, não o tendo feito, já que as amantes pensam apenas em si e em “passar sabi”, vão brigar com a amante ou com os vossos maridos que vos jurou fidelidade?
“Bem, e eu pergunto: o nosso Governo, que declara ‘tolerância zero‘ a tudo, não consegue conter cerca de 200 pessoas que constituíam um efetivo risco para a saúde pública e para o plano de contenção do vírus? Foi com esse marido ‘fraco’ que me casei? Um marido covarde que bate apenas na esposa?…”
Cá por mim, os quatro dedos devem ser claramente apontados ao Governo e não à amante, pois que àquele cabia a nobre missão de cuidar do país no seu todo; a amante pensa apenas na sua felicidade, como é obvio; ao Governo é dado um conjunto de ferramentas para atuar e fazer cumprir aquilo que, refletidamente – e não “à toa” – tenha elegido como sendo o “melhor” caminho PARA TODOS. Se assim não fosse, então porquê a declaração do Estado de Emergência, se no final cada um faz o que quer?
A amante tem culpa? Sim, tem parte, pequena. Devia ter escrúpulos, devia ter princípios, devia ter responsabilidade, devia ter empatia para com a esposa. No entanto, isso não minimiza e muito menos apaga a CULPA e a IRRESPONSABILIDADE do marido, que podia ter sido mais forte e energético e optado por proteger aqueles que prometeu cuidar, ao envés de ceder aos caprichos da amante.
E então podem, legitimamente, querer me interromper e repreender dizendo o seguinte: mas então o Governo já não assumiu as suas responsabilidades? O que mais queres? E eu incrédula pergunto: quais responsabilidades assumiu? Vejam: Sua Excelência o Primeiro Ministro – pessoa que, permitam-me dizer, respeito muito e tenho aplaudido na maioria das suas intervenções -, no seu discurso “intocável” – sim, intocável porque sequer se dá ao trabalho de ficar para esclarecer e defender aquilo que discursa – efetivamente disse que “o Governo assume as suas responsabilidades”; no entanto, e de forma até sábia, deu a volta ao jogo e, sem dizer afinal que responsabilidades estaria a assumir, apontou o dedo, e de forma muito energética – que até impressionou ainda mais as esposas traídas – repreendeu as amantes “loucas”, os funcionários do Hotel Riu Karamboa. E mais: depois do “papai” de discurso e da “saída de fininho” do marido eis que entraram em cena os seus “familiares e amigos” – os Ministros da Saúde e da Segurança Social e da Administração Interna – que, parecendo não terem ouvido que o marido de certa forma assumira “alguma” culpa pelo “pular da cerca”, defenderam-no com unhas e dentes, de tal forma que no final fica-se sem saber então quais as responsabilidades que o Governo assume. Patavina!!!
“Levaram polícias e militares – que podiam estar também nas suas casas – para a ilha para quê? Para fazerem figura de corpo presente ou para imporem a ordem? Só atuam quando as pessoas não se revoltam?”
Alguns falam de rebelião e de uma forte probabilidade de, caso o Governo não cedesse ao “capricho” das amantes, poder haver ofensas à integridade física das pessoas. Bem, e eu pergunto: o nosso Governo, que declara “tolerância zero” a tudo, não consegue conter cerca de 200 pessoas que constituíam um efetivo risco para a saúde pública e para o plano de contenção do vírus? Foi com esse marido “fraco” que me casei? Um marido covarde que bate apenas na esposa e não tem qualquer pulso com a amante que o faz de “tolu”? Bem, é caso para dizer que me enganaram, que me fizeram publicidade enganosa e que com isso comprei “bosta imbrudjadu” numa caixa de presente.
Já agora, “marido”, eu e mais de milhares de pessoas que já estamos em casa há também mais de 20 dias, queremos sair para ir apanhar ar e sol na praia de mar e, se não nos deixares, vamos sair à força, ouviste? Vamos fazer muito barulho, vamos juntar-nos e fazer muitos lives no Facebook. E nisto, como é obvio, o nosso marido vai nos dizer que sim, porque senão teria de nos “bater” a todos. Ora, francamente!! Esse seria um bom momento “pa fica calado” ou para REALMENTE se assumir as irresponsabilidades.
Então, Sua Excelência o Presidente da República vos permite restringir certas liberdades e vocês, perante uma “malcriaçon” de um grupo de “amantes histéricas”, cedem? Fácil assim? Levaram polícias e militares – que podiam estar também nas suas casas – para a ilha para quê? Para fazerem figura de corpo presente ou para imporem a ordem? Só atuam quando as pessoas não se revoltam? Pelo amor de Deus; “nhos poupam nha inteligência des desculpas fedi; Ai di nhos se povo intendi ma se es djunta mas de 100 ou 200 nhos ta corri”.
Alguém já disse: tomar decisões implica ter “colhões”; e nesse caso concreto, com o devido respeito, o nosso Governo – ou sei lá quem decidiu – não teve. E não teve porque foi gerindo a “quarentena” de uma forma tão amadora, tão leviana, foi prometendo mundos e fundos às amantes que depois ficou de mãos e pés atados. Afinal, esses trabalhadores tiveram 25 dias de quarentena e apenas na hora de sair resolvem fazer-lhes o teste, para esperarem os resultados em casa? Daí pergunto: porquê estavam naquele espaço há tanto tempo, se também podiam estar a fazer quarentena nas suas casas? É caso para se dizer que, afinal, a tal “quarentena” no hotel não teve nenhum propósito, pois que, se o propósito fosse efetivamente garantir a segurança de todos, não os deixariam ir para casa sem terem a certeza de que não constituíam risco para as suas famílias, para a sociedade em geral.
“Alguém já disse: tomar decisões implica ter “colhões”; e nesse caso concreto, com o devido respeito, o nosso Governo – ou sei lá quem decidiu – não teve. E não teve porque foi gerindo a ‘quarentena’ de uma forma tão amadora, tão leviana…”
E as esposas mais apaixonadas, para não dizer “tolas”, ainda me diriam o seguinte: mas os trabalhadores comprometeram-se em fazer quarentena em casa. Ora, o marido também certamente já vos prometeu inúmeras vezes que ia deixar a amante e nada. Certamente o fará quando deixarem de ser “bacam”.
É verdade que o Governo não consegue efetivamente combater essa pandemia sozinho. Precisa da nossa colaboração e do nosso bom senso. Entretanto, se não tivermos bom senso é “pa da ku póh pa poi na caminho”. Para isso, no entanto, o marido terá de ter feito bem a sua parte. Se não, não terá “mural pa da ninguém ku póh” restando-lhe apenas “dispista i tra alguém pa tchada, sem djobi pa lado”.
E agora as casamenteiras vão dizer: ei, “confusenta”, agora não é hora de procurar os culpados; vamos nos unir e salvar essa família linda que Deus uniu. Bem, eu não concordo. Ninguém “ka ta tapam nha odju”. Se não encontramos logo cedo a “erva daninha”, ela vai continuar a fazer estragos. E olha que ainda estamos no início dessa pandemia. Não podemos correr o risco de continuar a jogar numa equipa com maridos “traíras” e sem “colhões”, que escondem a mão depois de atirarem pedras. Se essas pessoas continuarem a comandar o jogo podem comprometer de forma irremediável – se já não o fizeram – a nossa luta que ainda está no início. Vejam que não é a primeira vez que as coisas correm mal – não se esqueçam do caso de São Vicente – e que, ao invés de se identificar e eliminar a erva daninha, tentaram “tapar o sol com a peneira” e “siga a marinha”.
Espero que sejam tiradas as devidas ilações desses erros – “ki boca bedjo di marido ka ta abri pa fla é kas, nem se bu matal” – para que não se repitam pois, “des bez ki é bez”.
E uma última palavra o marido “traíra”: «marido, nta perduau so des vez; ago nta spera ma da próxima bu ka ta bem ku comberso manso pamodi ka ta da; hora ki bu fazi porcaria, tem humildade pa, para além de limpal quetu, assumil i pidi desculpa pa el, sima homi; ta ficau mas fácil ki dispista tcheu; poi bus amantes na ses lugar pamodi senau mi ki ta pou na di bo; bu juiz bu oredja.
I pa nhos ki sta lê nha delírio, nhos fica na casa pamodi dja fladu “tolerância zero”; nhos goh se nhos da pa dodu nhos ta dadu ku poh; dja nhos sabi ma hora ki marido xatia ku amante, mudjer ku fidjo ki ta paga.»
Um grande abraço virtual