Um grupo de emigrantes residentes na Holanda arrecadou quinhentos euros para custear o transporte das pessoas de zonas recônditas de S. Nicolau interessadas em participar na concentração popular agendada para este Sábado junto ao aeródromo. Para Carla Simone, uma das duas organizadoras do protesto, esse gesto prova a pertinência da iniciativa e a determinação da diáspora em colaborar nos custos do mesmo. “A organização não tem dinheiro, contamos com a solidariedade das pessoas que amam esta ilha. Só a ajuda nos custos de transporte das pessoas provenientes de localidades distantes para a Vila, como são os casos de Carriçal e Covoada, já é de grande valia”, frisa Carla Simone.
Segundo esta activista, apesar da tentativa de politização do protesto devido a sua ligação ao PAICV, o facto é que a cada dia surgem mais vozes a apoiar a iniciativa. Para ela, essa luta cívica é por S. Nicolau, ilha que tem perdido população jovem desde os anos noventa, que parou no tempo e que hoje enfrenta graves problemas de ligação aérea e marítima. “A manifestação não visa apenas exigir a resolução dos problemas dos transportes. Vai mais além porque queremos melhorias nos serviços de saúde, educação, formação profissional, etc. e que possamos dar aos nossos jovens incentivos para viverem e trabalharem aqui”, especifica Carla Simone, que exerce a função de Secretária do PAICV em S. Nicolau. Por causa disso, salienta, tem surgido tentativas de boicote da manifestação.
Apesar do interesse expresso por várias pessoas nos contactos telefónicos e nas redes sociais, Carla Simone evita avançar números sobre o nível de adesão esperado. O certo, diz, é que um núcleo já garantiu a deslocação de pelo menos 120 pessoas do Tarrafal para Ribeira Brava. “Sinto que há um mesmo nível de aceitação nos dois municípios”, especula, lembrando o slogan da manifestação: “S. Nicolau é Cabo Verde”.
A concentração está prevista para o meio-dia no Terreiro da Ribeira Brava, onde estarão viaturas para transportar as pessoas até as imediações do aeródromo. Os manifestantes irão parar a um quilómetro e percorrer essa distância em grupo empunhando dísticos e entoando palavras de ordem. O objectivo é aproveitar a provável presença do ministro dos Transportes e confronta-lo com o problema das ligações aéreas. É que, para Carla Simone, é inaceitável que um passageiro seja obrigado a passar pelo aeroporto da Praia e pagar duas passagens só para chegar, por exemplo, à ilha de S. Vicente.
Adverte, aliás, que essa situação está na base da decisão da colega Liliana em fazer parte da organização do protesto. Como conta, Liliana Duarte estava no navio Ribeira d’Paul quando este sofreu uma avaria e passou horas à deriva no mar, para desespero dos 69 passageiros. “Por aquilo que ela me contou, viveram momentos terríveis e muita gente temeu pela sua segurança. As autoridades demoraram a agir e isso criou-lhe uma grande revolta”, revela Carla Simone, adiantando que Liliana vinha da Itália e decidiu apanhar o barco para não ter que desembolsar vários milhares de escudos de passagem aérea só para viajar do Sal para S. Nicolau. É que teria de comprar uma passagem para Praia e outra para S. Nicolau.
Segundo Carla Simone, a política da Binter está a onerar as ligações com S. Nicolau e a afugentar nacionais e turistas. Para ela, a ilha de Chiquinho apresenta condições semelhantes a Santo Antão, no entanto o turismo na chamada ilha das montanhas está a crescer enquanto está a regredir em S. Nicolau.
Kim-Zé Brito