Rosário Luz impressionada com a massa popular na manifestação em SV: “As pessoas deixaram de acreditar nos políticos”

Ninguém ainda ousou dizer com propriedade quantas pessoas estiveram nas ruas da cidade do Mindelo nesta manhã ensolarada no protesto promovido pelo movimento Sokols, mas a sensação é que o número ultrapassou o da manifestação do dia 5 de Julho de 2017, que chegou aos 10 mil indivíduos. Esta é também a sensação que assalta o espírito da opinion maker Rosário Luz, ela que reparou numa diferença de comportamento entre os participantes que estiveram na manifestação de 2017 e os deste ano. Como diz, se há dois anos as pessoas tinham a esperança que as suas vozes seriam ouvidas e respeitadas pelo Governo, hoje vieram mostrar de forma inequívoca uma total descrença nos ocupantes tanto do Palácio da Várzea como do Paços do Concelho de S. Vicente.

“As pessoas deixaram pura e simplesmente de acreditar nos partidos e nos deputados. Sentem que agora é preciso lutar para provocar uma mudança séria no sistema. O povo já não espera nada dos dois partidos do arco do poder, querem uma terceira via”, comenta Rosário Luz, ela que começa a ser vista como uma potencial candidata à CMSV ou então que está disposta a integrar um grupo independente. Questionada se pretende envolver-se nesse tipo de projecto político, Luz deixa entender que ainda não é o tempo certo para abrir o jogo.

“As pessoas andam a questionar e vão continuar a questionar por mais tempo. Temos de ver se há espaço para uma iniciativa da sociedade civil. Podemos até sentir que haja, mas, a acontecer, isso não será a vitória de uma pessoa ou de uma lista, mas sim de toda a sociedade”, salienta Rosário Luz, que passou a residir este ano em S. Vicente, ilha que, diz, será o centro de grandes mudanças em Cabo Verde nos próximos tempos. E a manifestação de hoje parece dar-lhe razão. “Faço uma apreciação fantástica desta manifestação. Estive presente na de 2017 e que me impressionou, mas confesso que fiquei ainda mais impressionada com esta”, revela.

Sem também avançar números, Salvador Mascarenhas admite que o nível de adesão das pessoas ultrapassou as expectativas da organização. Isto quando o Sokols estimou uma presença pelo menos igual a de 2017, quando no dia 5 de Julho o movimento conseguiu convencer 10 mil pessoas a invadirem as ruas do Mindelo para gritarem um “basta” contra o centralismo.

Para Mascarenhas, o Governo vai continuar a ignorar o grito do povo mindelense, tal como tem vindo a fazer. Por isso, diz, não basta manifestar porque a solução para o problema é de carácter político. “Tem de aparecer uma candidatura independente para a CMSV e mais tarde para o Parlamento, onde é possível alterar as leis”, elucida o activista, que refutou qualquer possibilidade de o Sokols entrar numa corrida político-partidária. Ele que negou também responder se o movimento pretende apoiar uma provável candidatura da Rosário Luz à autarquia mindelense. “Perguntem-lhe, não posso responder por ela”, disse aos jornalistas, enaltecendo, entretanto, que o Sokols funciona como um barómetro social, uma iniciativa cívica que estimula a cidadania activa. E, a seu ver, S. Vicente é uma ilha com gente competente que pode assumir os destinos da Câmara local.

Desta feita, os manifestantes muniram-se de apitos e cartolinas vermelhas oferecidos pela organização. Segundo Mascarenhas, há anos que os sucessivos governos vêm cometendo faltas graves contra as ilhas do Norte pelo que agora milhares de pessoas resolveram levantar os braços para dar um claro cartão encarnado ao poder, reforçado com um ruidoso apito.

KzB

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