O MpD pretende potenciar os resultados das eleições autárquicas em S. Vicente e melhorar o score obtido neste círculo eleitoral nas anteriores disputas Legislativas. Por outras palavras, o partido ventoinha está com o foco na vitória, tendo como ponta-de-lança Paulo Rocha, ministro que assumiu a pasta da Administração Interna no último governo. Embora residente na cidade da Praia há vários anos, Rocha afirma que esse facto não tem estado a condicionar a campanha. Como diz, não há nada capaz de alterar o seu sentimento de pertença à sua terra natal e o facto de residir fora em nada diminuiu a sua ambição e sentido de compromisso com o desenvolvimento de SV. Assegura que a Regionalização permanece na agenda do partido e, para ele, o grande trunfo do MpD é a visão clara do futuro para a ilha do Monte Cara, o caminho percorrido e o trabalho desenvolvido ao longo destes 5 anos.
Por: Kimzé Brito
Mindel Insite – O MpD parte para estas eleições como o partido do Governo. Esta será uma vantagem ou um factor de desgaste no círculo eleitoral de S. Vicente?
Paulo Rocha – O MpD apresenta-se a este ato eleitoral como o partido que assumiu a governação do país nestes últimos 5 anos, com um líder que continuamente deu provas do sentido de compromisso do Governo para com os cabo-verdianos, que se concretizam em importantes realizações em todos os sectores de governação. Em 5 anos, não obstante o período particularmente difícil que atravessamos, decorrente de três anos consecutivos de seca severa e da situação de emergência sanitária, económica e social provocada pela pandemia da COVID-19, cumprimos com São Vicente e com Cabo Verde, cumprimos com os cabo-verdianos. Recuperámos a economia que em 2016 estava em estagnação, colocámos o país a crescer mais de 5% por ano e a criar emprego, investimos nas pessoas, nos jovens, na saúde, na proteção social, na segurança. Protegemos as famílias, a saúde, o emprego, as empresas, sobretudo no contexto da pandemia da COVID- 19.
É com este capital de conhecimento e experiência, com investimentos e resultados que refletem a visão concreta de futuro, com foco no caminho seguro que queremos trilhar, para podermos recuperar e relançar a economia, proteger as famílias, principalmente as mais carenciadas, e ao mesmo tempo retomar o caminho de desenvolvimento e de crescimento e criação de empregos, que o MpD se apresenta nestas eleições. E é esta a confiança que esperamos continuar a merecer por parte dos são vicentinos, para que possamos dar continuidade à dinâmica de transformação que despoletámos, para que possamos continuar a trabalhar e a somar.
MI – S. Vicente foi a ilha que mais contestou a política do Governo, tendo realizado 3 manifestações durante este mandato. Estes factos poderão indiciar dificuldades na escolha da lista do MpD pelo eleitorado mindelense?
PR – As manifestações são normais e até mesmo salutares em ambientes de liberdade e democracia, como este que vivemos em Cabo Verde. É importante que encaremos as manifestações como um exercício de cidadania, de uma participação cívica ativa e não como um problema em si mesmo. Aliás, o MpD é um partido que sabe conviver com diferentes perspetivas, que aceita com naturalidade que os cabo-verdianos possam expressar a sua opinião. É um partido que sabe e quer dialogar, que sempre procura gerar consensos e construir soluções partilhadas. Este é o nosso modo de estar e de trabalhar, e é o que nos distingue.
São Vicente é depositária de uma forte tradição de homens e mulheres livres e reivindicativos, a sua história é feita de gente livre e empreendedora, que sempre alimentou o desejo de autonomia.
Durante os 15 anos de governação do PAICV, São Vicente foi sendo continuamente adiado, a ilha perdeu a sua alma e a essência do que tinha sido a sua génese e tradição: uma economia baseada no setor privado e aberta ao mundo, baseada na prestação de serviços internacionais através do seu porto. São Vicente viu-se mergulhado numa profunda estagnação, o que apenas gerou desmotivação e descrédito.
As manifestações são normais e até mesmo salutares em ambientes de liberdade e democracia, como este que vivemos em Cabo Verde. É importante que encaremos as manifestações como um exercício de cidadania, de uma participação cívica ativa e não como um problema em si mesmo.
Nestes últimos 5 anos, trabalhámos empenhadamente para fechar este triste capítulo na história da ilha e investimos na criação das condições necessárias para viabilizar um novo paradigma de desenvolvimento para a ilha, que seja inclusivo, competitivo e sustentável e que nos permita cumprir o pleno potencial de São Vicente enquanto ilha portuária, industrial, de comércio e serviços, mas também universitária, tecnológica, cultural e cosmopolita.
Não obstante o muito que fizemos, não conseguimos fazer tudo a que nos propusemos e que queríamos ter feito para responder a todas as preocupações e aspirações da população de São Vicente. É por isto que pedimos mais um voto de confiança aos são vicentinos, para que permitam dar continuidade ao muito que temos para fazer.
MI – A Regionalização é uma das grandes reivindicações que S. Vicente reclama há muitos anos. O Governo promerteu, mas não foi posssivel conseguir o consenso no Parlamento. Acha que esse assunto deve continuar a constar da promessa do MpD para a nova legislatura?
PR – A regionalização está certamente no topo das reivindicações dos são vicentinos e permanece como uma prioridade para o próximo ciclo governativo. A regionalização é uma causa que o MpD desde sempre assumiu, que defendemos com afinco ao longo do último mandato, encetámos negociações, criámos soluções de consenso e, como prometido, levámos a iniciativa ao Parlamento, para aprovação. Lamentavelmente, os deputados do PAICV recuaram, deram o dito por não dito, romperam os consensos previamente alcançados e voltaram a falhar com os são vicentinos. Importa esclarecer que o consenso foi possível e foi alcançado, mas foi quebrado pelo PAICV à última da hora. Essa é uma responsabilidade que o PAICV carrega e sobre a qual deve responder aos são vicentinos. Para que fique claro, o MpD não tem qualquer dúvida nesta matéria, não recuou na sua posição, não alterou o seu compromisso com os são vicentinos. A regionalização é um compromisso do MpD para a X Legislatura.
MI – O Governo prometeu concluir o projecto do Oceanário, construir o Terminal de Cruzeiros, instalar a Zona Económica e Marítima, o Data Center e ainda reduzir o desemprego, metas que não foram concluídas em cinco anos. Estes factos podem retirar credibilidade ao programa que vão apresentar nesta campanha?
PR – Dada a forma como coloca a questão, terei de lhe responder por partes. Em 5 anos, com a crise provocada pela seca e emergência resultante da pandemia da COVID-19, o Governo concebeu e aprovou o projeto da Zona Económica Especial Marítima de São Vicente, mobilizámos investidores que nos irão ajudar a dinamizar uma ampla carteira de projetos relacionados com o desenvolvimento portuário, das pescas e da reparação e construção navais.
No mesmo período, conseguimos mobilizar parceiros para arrancar com a construção do terminal de cruzeiros, infraestrutura que nos vai permitir desenvolver o turismo de cruzeiros explorando os recursos da ilha, posicionando-a como um importante e atrativo destino de cruzeiros na região, assim como a promoção do desenvolvimento da náutica de recreio e dos desportos náuticos.
Ao mesmo tempo, avançámos com a construção do Parque Tecnológico de Ribeira Julião, através do qual a ilha irá ganhar todo um ecossistema de inovação e empreendedorismo de base tecnológica, ter condições e ambiente favorável à inovação e ao empreendedorismo e mais incentivo empresarial nas TIC.
No mesmo intervalo de tempo, o Governo criou e instalou o Campus do Mar, que se encontra estruturado em três pilares, sendo eles a formação técnico-profissional, que é suportada pela recém-criada Escola do Mar, o ensino superior, com base na recém-criada Universidade Técnica do Atlântico, e a investigação e pesquisa científica, que tem por base o recém-criado Instituto do Mar. É neste enquadramento que retomaremos, sim, o projeto do Oceanário do Mindelo.
Relativamente ao desemprego, importa revisitar os dados do Instituto Nacional de Estatística, para que possamos recordar que em 2015, o número de jovens em São Vicente que nem estudava, nem frequentavam nenhuma ação de formação, nem trabalhava era de cerca de 4.700. Em 2019, reduzimos este número para cerca de 3.000.
Estamos a falar de uma redução em um terço o número de jovens entre os 15 e os 24 anos que estavam numa situação de exclusão, isto é, fora do emprego, da educação ou da formação e criamos nos jovens um evidente espírito empreendedor. Estamos a falar de 1.700 jovens que, entre 2016-2019, tiveram acesso a oportunidades de formação, de estágios profissionais, a apoios para montarem o seu próprio negócio. Estamos a falar de jovens que foram empoderados e que hoje estão capacitados para entrarem no mercado de trabalho como técnicos qualificados, que estão preparados para dar o seu contributo para a nossa economia.
Complementarmente, importa igualmente precisar que em 2015, tínhamos 32.863 pessoas empregadas em São Vicente. Em 2019, este número era de 34.271, o que indica que estávamos efetivamente numa trajetória de redução do desemprego.
Permita-me concluir que mais do que factos, esta é uma realidade já em construção que qualifica a governação do MpD e que, como tal, credibiliza a nossa candidatura e as nossas propostas.
MI – Paulo Rocha surge como cabeça-de-lista neste embate eleitoral. É de S. Vicente, mas reside há muitos anos fora da ilha. Este aspecto poderá mexer com a sua popularidade política e afectar a confiança dos eleitores mindelenses no seu empenho no Parlamento em defender os interesses da ilha?
PR – Todos os indícios que temos tido, todo o feedback que temos recebido apontam exatamente no sentido contrário. Nos contactos que efetuámos, as pessoas escutam-nos com interesse e atenção, estão conscientes de que São Vicente esteve parada por muito tempo e aquilo que começámos agora não pode ser parado e nem interrompido. Os eleitores mindelenses têm-se manifestado bastante confiantes e entusiasmados com o projeto de desenvolvimento que defendemos e nas opções que apresentamos.
Numa nota pessoal, e como bem diz, sou de São Vicente e não há nada que altere o meu sentimento de pertença a esta terra. Não é certamente o facto de residir fora da ilha que me subtraiu essa condição, que diminuiu a minha ambição e sentido de compromisso para com o desenvolvimento de São Vicente e de Cabo Verde. Como ensina a sabedoria popular, uma pessoa pode até sair de São Vicente, mas o contrário nunca acontece.
MI – Quais os trunfos que pretende usar para conquistar os cépticos e driblar as críticas da UCID e do PAICV que acusam o Governo de ter falhado com S. Vicente?
PR – A visão clara de futuro que temos, o caminho percorrido e o trabalho desenvolvido ao longo destes 5 anos são certamente os nossos melhores argumentos para atestar o nível de compromisso que assumimos com São Vicente.
Quais as áreas prioritárias que se destacam no programa eleitoral do MpD para as Legislativas e que podem suscitar interesse especial para o círculo de S. Vicente?
A operacionalização da Zona Económica Especial Marítima, pelas novas e múltiplas oportunidades que vai criar, constitui a trave mestra da nossa plataforma eleitoral para São Vicente. Para tal, precisaremos continuar a investir na criação das infraestruturas necessárias e que possam dar suporte ao modelo de desenvolvimento que advogamos, assente na transformação da cidade do Mindelo num destino turístico de referência, no desenvolvimento competitivo do setor das pescas e na construção de uma plataforma marítima e logística.
Do mesmo modo, e como referi anteriormente, a regionalização é igualmente uma prioridade, dado tratar- se de um instrumento que nos permitirá criar os necessários equilíbrios regionais, promover a territorialização e integração das políticas públicas e, desta forma, potenciar o efetivo desenvolvimento local.
Para o próximo ciclo governativo, a Saúde é um setor que queremos priorizar e são vários e importantes os investimentos que prevemos fazer em São Vicente nesta área. Iremos concluir as obras da Central Ambulatorial do Hospital Baptista de Sousa, construir a maternidade e uma nova pediatria, reforçar e alargar a rede de centros de saúde para outros bairros. Queremos reforçar a eficiência do sistema, alargar a oferta de consultas de especialidade, reduzir o tempo de espera, otimizar os meios de diagnóstico e queremos, sobretudo, estar mais próximos das famílias e ao mesmo tempo reduzir o fluxo de pessoas que procuram o hospital.
MI – O PAICV promete ganhar as eleições em S. Vicente com 5 deputados eleitos. Qual a meta do MpD?
PR – Queremos potenciar os resultados das eleições autárquicas e melhorar o score atual. Queremos merecer a confiança de todos os são vicentinos e conseguir mobilizar o apoio de todos na concretização da visão de desenvolvimento que temos para a ilha, é para este resultado que trabalhamos.
MI – A sociedade civil mostra-se preocupada com os impactos da campanha no aumento dos casos de Covid. Como o MpD pretende evitar contactos desnecessários com o eleitorado, tendo também em conta o apelo do INSP?
PR – Estamos a adaptar-nos: as atividades que organizamos contam com um número restrito de pessoas, sempre com máscara e álcool gel. Nas conversas que mantemos com o eleitorado, tentamos garantir o distanciamento físico.
MI – Quem é Paulo Rocha?
PR – Um homem trabalhador, de compromissos e de palavra, que tem o privilégio de fazer parte de um projeto sério e consistente que dá reposta aos anseios dos são vicentinos, que nos vai permitir cumprir o tão ambicionado potencial de desenvolvimento da ilha.