Josina Freitas está satisfeita com o sucesso da sétima edição do “Kavala Fresk”, mas acha que o apelo a uma maior consciência ecológica é para continuar.
O festival Kavala Fresk voltou a evidenciar a sua vocação como espaço de promoção cultural e de convívio, mas fundamentalmente como uma oportunidade ímpar de negócio para vários tipos de iniciativas. Esta conclusão baseia-se nos comentários dos próprios gestores das dezenas de “barracas” e restaurantes espalhados ao longo da Avenida Marginal, que registaram uma procura substancial pelos seus pratos, que, nalguns casos, já estavam esgotados nas primeiras horas do período da noite. São os casos da “calda fresca de cana” – triturada na hora – e “cavala na brasa com molho de manga” que um grupo de oito jovens de Santo Antão colocou à venda.
Segundo Carlos Oliveira, a procura superou as expectativas e deu ao grupo uma ideia de como se preparar para a próxima edição. O objectivo, frisa, foi apostar em “cosas d’terra”, mas primar pela diferença, o que foi uma aposta ganha. O pico da procura, assegura Oliveira, foi a hora do almoço.
No espaço da Associação das Peixeiras de S. Vicente, classe que este ano participa pela primeira vez de forma organizada, a história era muito parecida. À noite ainda as mesas estavam superlotadas, mas o arroz com marisco e a moreia frita já estavam esgotados. Para Amélia, presidente dessa organização recém-criada, a experiência foi “muito positiva” para as mais de oitenta peixeiras envolvidas nos preparativos para o festival. “Trabalhamos de forma coordenada, na paz e num verdadeiro espírito de amizade, e ganhamos mais força. Eu participei a nível individual na primeira edição, as coisas não foram como eu e outras colegas queríamos, mas hoje a própria Josina Freitas, da Mariventos, deu-nos os parabéns e estamos a ver as vantagens de estarmos associadas”, comenta a presidente da associação, grupo que investiu mais de duzentos contos em produtos e conta atingir o lucro.
Espalhadas ao longo da avenida marginal, os milhares de pessoas encontraram mais do que comida para degustar e bebidas como água de coco para saborear e matar a sede. Por exemplo, puderam apreciar uma exposição conjunta no Centro Cultural do Mindelo entre o artista Kiki Lima e duas arquitectas, que juntaram a pintura e a fotografia para abordar o tema ambiente. “Na verdade, fomos interligados pela organização, porque este festival está a tentar sensibilizar o público sobre os malefícios do uso do plástico e de outros lixos. Deste modo, elas fizeram uma abordagem, digamos, ecológica através da fotografia e eu fiz uma abordagem sociológica, virada para o uso contemporâneo do peixe na nossa sociedade”, explica o artista plástico, que pintou a maioria dos quadros de propósito para a exposição. Um evento que, diz, mereceu uma visita expressiva do público.
Ainda decorria o festival e a organização, através de Josina Freitas, mostrava-se satisfeita com o sucesso desta sétima edição. É que várias das mais de vinte actividades estavam a atingir os propósitos preconizados, um deles o despertar da consciência ecológica. “Já se notou algum impacto, mas ainda não como queríamos. Este festival tem por lema Oli Kavala Challenge pelo que o desafio vai certamente continuar”, frisava a porta-voz da empresa Mariventos, para quem é fundamental manter acesa a ideia de que todos devem ser transformadores no sentido positivo do termo.
Um exemplo muito presente no festival foi o uso de uma máquina de triturar vidros produzida pela “Oficina de Tinené” e que transformou as garrafas em pó. Segundo Josina Freitas, as pessoas ficaram admiradas com o resultado e viram que esse pó envidraçado pode ser reutilizado na construção civil, na decapagem e até em trabalhos artísticos. Além disso, ajuda a reduzir o lixo atirado para a natureza e que acaba por ir parar ao mar.
Como salientou o Secretário de Estado da Economia Marítima, houve este ano um reforço na parceria com o Kavala Fresk Feastival por se tratar de um evento que procura não só valorizar a cavala comercialmente, mas também proteger o ambiente e os recursos marinhos. “Temos 99 por cento de mar, pelo que Cabo Verde deve liderar esse conceito de economia azul, que defende a reutilização dos desperdícios; que devemos usar o mínimo possível de plástico, por ser um produto que demora anos a decompor-se. Todo o lixo que não se decompõe acaba por ir parar ao mar e entrar na nossa cadeia alimentar. E ainda não sabemos qual o efeito que isso terá na nossa saúde”, realça Paulo Veiga, que enalteceu o facto de alguns restaurantes terem preferido usar copos e outros utensílios de papel, uma matéria que se degrada mais rapidamente que o plástico.
O convívio social, condimentado com música ao vivo em dois palcos, voltou a ser o aspecto mais saliente do festival. Para o emigrante Bety da Luz, residente na Suécia, estar em S. Vicente por esta altura é ouro sobre azul. E desta vez, realça, teve a sorte de apanhar o “kavala fresk”, a “festa d’bronk”, o “carnaval de verão” e o “festival da baía”. “Para quê pedir mais para quem que não programou as férias com tudo isso em vista. Se estar aqui é óptimo, imagina com toda esta oferta”, comentou Bety, que aconselha os emigrantes a virem saborear o que o verão mindelense tem a oferecer.
Embora satisfeito com a movimentação que o festival provoca, o artista Vady acha que é chegado o momento de o evento inovar e não ficar muito amarrado ao figurino tradicional. Outro aspecto que este baterista critica é o posicionamento do palco do espaço Karnavala, reservado às barracas exploradas pelos grupos carnavalescos. O problema, diz, é que, além de ficar muito alto e numa zona íngreme, provoca problemas sonoros tanto para os técnicos como para os músicos. Para ele, a estrutura deveria ser colocada na parte mais baixa, num nível em que o público consegue acompanhar os artistas em palco, como acontece, por exemplo, no anfiteatro da Academia Jotamonte.
Kim-Zé Brito