O ex-Primeiro ministro José Maria Neves voltou ao poder institucional, agora na qualidade de Presidente da República de Cabo Verde enquanto vencedor das eleições com 51,5 por cento dos votos expressos até o momento. Para trás deixou o seu principal opositor, Carlos Veiga, e mais cinco candidatos, nas campanhas mais concorridas de sempre para o Palácio da Presidência. Neves mostra-se pronto a assumir a responsabilidade de presidir a nação cabo-verdiana, a sarar feridas abertas na campanha e ser um presidente que une, cuida e protege.
Quando as previsões apontavam para uma provável segunda volta entre Neves e Veiga, os resultados confirmaram uma vitória inequívoca do candidato apoiado pelo PAICV. Numa declaração pública na sua sede de campanha, Neves agradeceu o povo pela confiança nele depositado e assegurou estar pronto para assumir a enorme responsabilidade de presidir a nação cabo-verdiana. O candidato eleito garantiu que vai trabalhar com o Governo para ajudar Cabo Verde a ultrapassar os impactos socioeconómicos da pandemia, pois, como diz, o país precisa de um grande “djunta mon” neste momento.
“Nunca tive um lema tão feliz ‘Djunta mon, cabeça e koraçon’. Pedi ao povo para ser eleito à primeira volta e esta vitória demonstra a inteligência do povo”, frisou JMN, que diz haver um tempo para disputa e outro para o trabalho. Deste modo, assume o compromisso de trabalhar para sarar as feridas abertas durante a campanha, em vez de aprofundá-las.
Durante a intervenção, Neves disse ter recebido chamadas telefónicas do adversário político Carlos Veiga, de Ulisses Correia e Silva, presidente do MpD e Chefe do Governo, do presidente Jorge Carlos Fonseca e do homólogo português, a quem convidou para a tomada de posse. O novo PR de Cabo Verde adiantou ainda que vai se reunir com Jorge Carlos Fonseca nos próximos dias para juntos discutirem alguns assuntos.
Conforme os dados provisórios, Carlos Veiga perdeu as eleições com uma diferença de 16 mil votos. Perante uma escolha tão nítida, o candidato apoiado pelo MpD acabou por aceitar com humildade a vontade popular. Aliás, para Veiga, os grandes vencedores deste escrutínio foram o povo de Cabo Verde e a democracia. “O povo falou e a democracia triunfou”, disse o ex-Primeiro ministro, adiantando que na vida só ganha quem vai à luta. E na política, acrescentou, perder nem sempre é uma derrota. A seu ver, só o facto de concorrer a um cargo e poder defender as suas ideias é em si uma vitória pessoal, que ninguém pode negar.
Caído o pano sobre a campanha, Veiga agradeceu toda a sua equipa, família e aos líderes do MpD e da UCID, os dois partidos que assumiram o apoio incondicional à sua candidatura.
Os “perdedores” Governo, MpD e UCID
Estas eleições, segundo Rui Semedo, tiveram os seus vencedores e perdedores. Os primeiros, diz, foram o povo e a democracia, apesar da elevada taxa de abstenção – que ficou â beira dos 52 por cento – e dos votos em branco – que atingiram os 2,3 por cento, o equivalente a 4.253 eleitores. Na lista destaca José Maria Neves, como o candidato eleito, e o PAICV, enquanto partido que apoiou a candidatura vencedora, “apesar das críticas”.
Já no grupo dos perdedores, o presidente interino do PAICV colocou o Governo, o MpD, a UCID e o líder deste último partido, António Monteiro. O primeiro, diz, por ter deixado de governar para se envolver na campanha, e os dois partidos políticos por terem apoiado Carlos Veiga.
Confrontado com esta análise, Ulisses Correia e Silva acusou Rui Semedo de querer estender a campanha eleitoral. O líder do MpD assegurou que a disputa acabou hoje e ficou clara a opção dos cabo-verdianos. Tanto assim que já falou ao telefone com JMN para lhe dar os parabéns e almejar que o Governo e o PR trabalhem de forma sintonizada em prol de Cabo Verde.
“A crispação política é normal nas eleições e as próximas serão em 2026, pelo que agora é tempo de acalmia para podermos governar e ajudar Cabo Verde a recuperar-se dos efeitos da pandemia”, enfatizou Ulisses Correia e Silva, que se mostrou preocupado com a taxa de abstenção, que tem sido alta, em particular nas disputas presidenciais. Para ele é fundamental levar o povo às urnas porque, diz, o voto popular é o sal da democracia.