Jorge Santos enaltece agentes culturais mindelense: “S. Vicente terá sido a ilha que mais contribuiu para a liberdade em CV”

O presidente da Assembleia Nacional afiançou ontem que São Vicente terá sido a ilha que historicamente mais contribuiu para a liberdade em Cabo Verde. Mesmo em tempos de privações e de limitação à liberdade individual e da pátria, sublinhou Jorge Santos, os agentes da cultura e das letras encontraram na poesia, nas mornas e coladeiras, no teatro ou no Carnaval espaços para manifestar o sentir do “homem das ilhas”. Segundo Santos, que falava na sessão solene do dia do Município, o próprio processo de transição para a liberdade e democracia em 1990-91 contou com o forte contributo dos intelectuais e dos cidadãos anónimos da terra de Cesária Évora.

“Devemos, pois, encarar os anseios da sociedade civil que contribuem para o desenvolvimento colectivo como um ganho da democracia e como elemento de vitalidade e amadurecimento da nossa sociedade”, acrescentou o presidente da AN, cuja mensagem deixa no ar a ideia de que estará a chamar a atenção do poder político para o clima de contestação latente na ilha do Porto Grande e que já levou à realização de pelo menos três protestos populares. Aliás, Santos frisou a necessidade do combate às assimetrias regionais e sociais no país e frisou que S. Vicente tem potencial humano e cultural para continuar a contribuir para a construção de um Cabo Verde melhor.

“A transformação de Cabo Verde numa plataforma de circulação económica no Atlântico Médio passa em grande medida pela aposta na economia desta ilha”, defendeu o orador, que enalteceu a aposta do Governo na chamada economia azul, a criação da Zona Económica Especial, com epicentro no Mindelo, e a instalação do Centro Oceanográfico, projectos que, a seu ver, podem relançar a economia local.  Mas, para isso acontecer, Jorge Santos enaltece a necessidade de se equacionar a problemática dos transportes aéreos e marítimos, a unificação do mercado nacional e o reforço da ligação do país com o exterior. Neste quadro, Santos congratulou-se com as reformas que o Governo vem introduzindo e que visam a privatização da TACV, assim como a concessão da gestão dos aeroportos e das linhas marítimas. “Estou confiante que o Governo encontrará as melhores soluções para tornar mais competitivas as ligações aéreas na rota S. Vicente-Lisboa-S. Vicente, criando mais alternativas de ofertas de voos, que são importantes para o desenvolvimento do turismo e da indústria em S. Vicente e nas ilhas do Norte do país”, disse Santos no Paços do Concelho de S. Vicente, para quem a autarquia presidida por Augusto Neves tem desenvolvido um trabalho extraordinário em vários domínios do desenvolvimento local, quais sejam a requalificação urbana, a habitação e saneamento, espaços de lazer, cultura e indústrias criativas, desporto…

Aliás, a Câmara de S. Vicente fez questão de projectar no átrio imagens das obras que tem executado em especial ao nível do saneamento e ordenamento municipal. Por outro lado, Augusto Neves enalteceu no seu discurso a qualidade do desempenho dos funcionários da autarquia que preside, pois para ele sem esses colaboradores seria impossível para a Câmara de S. Vicente alcançar os seus objectivos.

Segundo Neves, urge instaurar uma mudança na administração local para que os municípios possam ganhar mais autonomia financeira, administrativa e política. Só assim, diz o edil, será possível levar à prática as suas competências e melhorar a qualidade do serviço público prestado pelas Câmaras.

Para Augusto Neves, o turismo é sim o pilar que poderá sustentar o desenvolvimento socioeconómico de S. Vicente. Deste modo, a sua gestão pretende apostar mais forte na promoção turística da ilha do Monte Cara, focalizada na oferta do seu património urbanístico, cultural e histórica, além da sua própria paisagem natural.

A economia da ilha de S. Vicente, na opinião de Fernanda Vieira, deve continuar a potenciar investimentos no sector marítimo, com foco no transbordo internacional de contentores, reparação naval, dinamização do transporte marítimo, aprovisionamento dos navios e construção do prometido terminal de navios cruzeiros. Isto sem descurar, segundo a presidente da Assembleia Geral da CMSV, a instalação do campus do mar e a edificação de hotéis e de um resorte.

Para 2019, diz Vieira, espera-se também um reforço das parcerias com cidades amigas e novas geminações da Câmara de S. Vicente com congéneres de outras paragens, como da Índia e da China.  No entanto, frisa, dirigindo-se em particular a Jorge Santos, é preciso rever os estatutos dos municípios e alterar a lei das finanças locais de modo a conferir maiores poderes às assembleias municipais e permitir que possam gerir as suas próprias despesas. Como lembrou, a AG aprova e fiscaliza os orçamentos da Câmara e no entanto depende da Câmara para efectuar as suas despesas, o que bloqueia o funcionamento desse organismo. Um pedido que mereceu a pronta anuência do presidente da Assembleia Nacional.

A sessão solene comemorativa do dia do município de S. Vicente, 22 de janeiro, foi aberta com a actuação dos cantores Constantino Cardoso e a jovem Aline, tendo esta última embalado os presentes com a sua voz doce, simples, mas particularmente melodiosa. Uma nova promessa da cultura cabo-verdiana.

KzB

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