A deputada do PAICV eleito por São Vicente, Filomena Martins, acusou hoje em conferência de imprensa o Governo de estar a estrangular o crescimento económico desta ilha, devido a inexistência de ligações aéreas e marítimas. Esta eleita nacional fez esta apreciação no término de uma visita ao círculo, que teve como foco a economia.
No que tange ao transporte aéreo, de acordo com Filomena Martins, é preciso analisar a questão em pelo menos três vertentes: ligações domésticas com a Binter, ligações internacionais com a Cabo Verde Airlines e com outras companhias aéreas que operam no mercado. “A CV Airlines continua, de forma incoerente, fora de São Vicente. Significa que os mindelenses, os operadores económicos e as empresas têm uma grande limitação para sair da ilha. Têm de comprar pelo menos duas passagens distintas porque não há uma articulação entre as várias empresas”, denuncia.
Lembra Martins que a passagem São Vicente-Sal ou S. Vicente-Praia custa cerca de 20 mil escudos e ainda o passageiro tem de comprar bilhetes numa outra companhia, por 80 e 90 mil escudos. “Trata-se de um custo adicional, com grandes desvantagens. Há situações em que, para sair de São Vicente, uma pessoa perde 48 horas. Isto é absurdo. As empresas estão ainda sufocadas no que concerne à exportação. Não conseguem responder as demandas internacionais, pois não conseguem exportar em tempo útil e a baixo custo.”
Quanto à desculpa de que a CV Airlines não é rentável na rota para São Vicente, Filomena Martins diz não fazer sentido porque a TAP faz seis voos semanais e está a insistir nos voos noctunos, que só não estão a acontecer porque há constrangimentos que ainda não foram ultrapassados. “A TUI faz voos directos de São Vicente para Amsterdão, o mesmo acontece com a LAINS para Paris. Se estas empresas têm São Vicente como um destino rentável, qual é a dificuldade da CV Airlines entrar nesta linha, fazer concorrência e desbloquear a economia desta ilha?”, interroga.
Para “Nelita”, o Governo tem de decidir se a CV Airlines é ou não uma companhia de bandeira, pois existe uma contradição a nível de gestão. É que, diz, não se entende uma companhia nacional a vender pacotes promocionais para o Carnaval do Brasil, enquanto penaliza as ilhas de São Vicente e de São Nicolau, onde esta festa dá um enorme impulso à economia.
Quanto à Binter, a deputada não tem dúvida de que esta não consegue responder pelo monopólio do mercado doméstico. Neste sentido, defende a necessidade desta trabalhar em condições extraordinárias e ter um conjunto de atitudes e políticas para favorecer o mercado interno. “Não o faz por várias razões. Uma delas é que a rota comercial da Binter é desenhada a partir das Canárias, que desconhece a nossa realidade histórica, cultural e geográfica, o que explica, por exemplo, a ausência de ligações directas entre São Vicente e São Nicolau”, assegura, ela que critica igualmente a ausência de um plano de voo para responder aos desafios da ilha do Porto Grande, sobretudo na época alta e em situações de pico cultural, como, por exemplo, o Carnaval e os festivais da cavala e da Baía.
“Quando a Binter entrou no mercado ficou claro que o Governo não acautelou os serviços de utilidade pública. Deveria ter sido salvaguardada questões como a unidade do território nacional, a coesão e a mobilidade dos cidadãos entre as ilhas. Ainda a evacuação de doentes, a transladação de corpos, de entre outros. O PAICV já levantou estas questões várias vezes no Parlamento, já reuniu com os ministros responsáveis pelos Transportes, Economia e Finanças, mas o Governo persiste nas suas decisões”, afirma.
Transportes marítimos
Também a nível dos transportes marítimos, diz Filomena Martins, reina a confusão no tocante ao concurso, o que levou a intervenção da ARAP. “O concurso teve de ser reconfigurado, mas ninguém sabe o que aconteceu. Há um silêncio absoluto por parte do Governo em relação a concessão das linhas marítimas. Até parece que não houve concurso. Mas é bom lembrar que foi feito um concurso e que as empresas sediadas em São Vicente foram prejudicadas. Isso não obstante o esforço que têm feito para responder ao transporte de cargas e passageiro, nacional e internacional”.
Para a eleita nacional, falta políticas públicas para os transportes que respondam ao crescimento económico do país, em especial de S. Vicente. Assim como falta financiamento às empresas nacionais, que continuam a enfrentar enormes dificuldades. Isso não obstante a criação do Pro-Garante, um fundo no valor de 10 milhões de dólares, no quadro da cooperação entre o Estado de Cabo Verde e o Banco Mundial.
Natalina Andrade (Estagiária)