“Está a haver acumulação de magma na base da ilha Brava, mas não é assustador” – Bruno Faria  

O geofísico Bruno Faria justificou os sismos que se registam na Brava nas últimas três semanas com a acumulação excessiva de magma na base da ilha. Mas não é assustador, garante. De acordo com este especialista, as frequentes inclusões de magma na base da ilha estão a funcionar como uma espécie de “macaco de um automóvel”, que levanta a a ilha. Felizmente, as probabilidades de uma erupção vulcânica neste momento são muito baixas. “Trata-se de um processo muito lento e quase que imperceptível para as pessoas“, afirma.

Em conferência de imprensa esta tarde no Mindelo, este especialistas explicou que faz hoje três semanas que os sismos começaram a ser sentidos na Brava. Foi por volta das 18h20 e, até às 21 horas, foram sentidos oito eventos. “Ás 21 horas foi registado o sismo de magnitude 4.8, que terá sido o de maior registado na ilha nos últimos anos. Todos estes sismos foram localizados no largo da Praia d’Aguada, a uma profundidade em relação ao nível do mar, entre 4 e 5 km no interior da terra”, informa.  

Posteriormente, houve variações da atividade sísmica, com aumentos e reduções, sendo que no dia 30 de outubro, durante cerca de 48h, perdurou uma tempestade sísmica, ou seja, eventos sucessivos num curto espaço de tempo. “Por volta do dia 2 de novembro, a taxa de sísmica, isto é, o número de eventos registado por unidade de tempo baixou. Verificou-se uma certa acalmia. Mas no dia 9, houve pequenas alterações e atividades sísmicas foram novamente sentidas”, pontua, realçando que a situação tornou-se um pouco mais critica a partir do dia 15, com o registo de sismos com mais freqüência.

Até ontem, domingo, eram sentidos em média um evento a cada seis horas e hoje de manhã, por volta das 9 horas, foi sentido um sismo de magnitude 3.7. Ao mesmo tempo, no dia 15, foi observado um sinal continuo, com bandas espectrais, ou seja, com freqüência muito bem definidas e múltiplas. Foram de 3, 6 e 12 hertz por segundos. Ontem de madrugada voltaram a ser registados os mesmos sinais, mas com uma freqüência ligeiramente superiores”, detalha Bruno Faria. 

Sinais contínuos

Segundo este geofísico, estes sinais contínuos e com esta gama de freqüência são interpretados como sendo um assobio produzido por fluxos de gases de origem vulcânica no interior da terra ou então da terra para atmosfera. Neste caso, afirma, foram registados por estações que ficam a alguns quilômetros de distância, pelo que têm origem no interior da terra. “Concluiu-se que está a haver uma acumulação de magma na ilha Brava, mas não é assustador”, tranquiliza. 

A história geológica mostra que a ilha Brava tem sido levantada do mar ao longo da sua existência, diz. “Um dos geólogos que melhor estudou a Brava e que publicou o seu estudo em 2010 concluiu que a ilha não tem idade para ter uma altitude de 929 metros, que é a do Monte Fontaínhas. Em dois milhões de anos, que é o tempo que a Brava saiu do mar, não aconteceram na ilha erupções suficientes que justifiquem tal altitude. Significa que a ilha, com freqüência, tem tido inclusão de magmas na sua base.”

O geofísico cita, como exemplo, o corte geológico existente a entrada do Porto de Furna que mostra o deposito de uma praia a 4/5 metros de altitude em relação ao nível do mar. “Como é que uma praia formou-se a cinco metros de altitude? Foi porque, no passado, aquele nível estava dentro do mar. Agora está nesta altitude porque a ilha tem vindo a ser levantada”, assevera Faria, para quem é provável que haja uma acumulação excessiva de magma na base da Brava, cujos efeitos podem ser vistos no futuro. 

Em suma, afirma, se há um corpo estranho na base da Brava, necessariamente este está a deformar a ilha. “Pode estar a dobrar ou a partir as rochas. É neste processo de deformação que estão a produzir estes sismos. E, como são massas de rochas muito grandes que estão a ser deslocadas, as vezes produzem signos de magnitude mais elevadas, que se tem sentido na ilha Brava. Podem ser rupturas ou ativação das falhas já existentes na história da ilha há muito tempo.”

Segundo Bruno Faria, em um determinado momento da história da Brava, produziu-se uma caldeira, resultante do afundamento de uma camada magmatica superficial devido a erupções sucessivas e possivelmente muito explosivas. Sobre este particular, cita um estudo publicado em 2017, que mostra que nos vulcões onde existem caldeiras a probabilidade de acontecerem erupções são muito baixas. 

“Vamos continuar a ter atividade sísmica na Brava e vão ser sentidos sismos com freqüência mas, neste momento, as probabilidades de acontecer uma erupção vulcânica são muito baixas. É preciso muito mais atividade, mais fenómenos para se ter uma probabilidade maior de ocorrência de uma erupção nesta ilha, o que não é o caso”, reforça, referindo que os dados mostram é que o magma está a propagar na horizontal, tendo em conta que a ilha Brava tem uma camada muito rígida na sua base. 

Vulcao do Fogo em repouso 

Relativamente a ilha do Fogo, este especialista garante que a atividade sísmica nessa é residual neste momento. “Não há nenhuma alteração registada. Pode-se considerar que o vulcão está em estado de repouso. O que se tem observado são poeiras que acabam por formar uma nuvem e que são levantadas pela queda de rochas em Rola Rola. Não é por acaso este nome, que por si só diz tudo”, informa, esclarecendo assim os temores de uma erupção devido ao fumo nesta zona. 

Entende Bruno Faria que este ano a ilha do Fogo registou precipitações muito superiores aos normais, o que aumento a erosão e, possivelmente, desestabilizou a encontra da localidade de Rola Rola. Agora que o terreno secou a superfície, as pedras rolam com mais facilitam e levantam poeira. Não há nenhuma instabilidade no vulcão. Há sim instabilidade no terreno, assevera. 

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