A mulher cabo-verdiana em todo o mundo merece sempre um destaque especial pela sua luta e o lugar que ocupa na sociedade. E é dessa postura “nobre e justa” que iremos falar, acompanhando trajectórias de mulheres cabo-verdianas radicadas em Portugal, onde continuam a ser pilares da sua família.
A comunidade cabo-verdiana em Portugal compreende mulheres de vários quadrantes – activistas, políticas, artistas, trabalhadoras, mães, mulheres guerreiras e outras. E é sobre elas que nos debruçamos hoje, dia 27 de Março, dia da Mulher Cabo-verdiana.
À semelhança de grande parte das cabo-verdianas radicadas em Portugal, Ana Cristina Martinho, 45 anos de idade, trabalha como empregada doméstica. Considera a data de 27 de Março muito importante enquanto simbologia da luta da mulher cabo-verdiana. Apesar de ser este momento impróprio para celebrações, já que todas as atenções estão viradas para o combate à propagação do Covid-19, para ela é uma “honra” ser uma cabo-verdiana que teve como opção emigrar para Portugal há 24 anos à procura de melhores condições de vida.
Cristalina Reis, por outro lado, é um exemplo da classe feminina cabo-verdiana que integra a sociedade portuguesa. Chegada de Cabo Verde há 20 anos, por motivos de saúde, esta antiga professora do ensino básico na antiga vila do Porto, neste momento trabalha, em privado, como orientadora de crianças até aos sete anos. Para esta interlocutora do Mindelinsite, a resiliência da mulher cabo-verdiana enquanto “guerreira, lutadora e aventureira” facilita e de que maneira a sua integração onde estiver.
“A mulher cabo-verdiana, apesar de todos os constrangimentos, vai-se mantendo fiel à sua cultura, à sua origem e à sua identidade face à sua forma de estar, capacidade de liderança e forma responsável de enfrentrar o seu dia-a-dia”. São palavras de Cristalina Reis, que desafia as suas conterrâneas a apelar à sua capacidade liderança, morabeza, solidariedade, união e sentido de família como defesas para poder ganhar o que ela chamou de uma “guerra”, referindo-se à pandemia do Covid-19.
Andredina Gomes Cardoso, licenciada em Higiene Oral pela Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, com uma pós graduação em Gestão de Projetos em Parceria pela Universidade Católica de Lisboa, é mais uma mulher da comunidade cabo-verdiana que se prontificou a escrever o seu testemunho para a reportagem do Mindelinsite. Esta cabo-verdiana multifacetada trabalha com Higienista Oral e Gestora Local do Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral no ACES Arrábida em Setúbal. Desempenha também as funções de Deputada Municipal na Câmara de Setúbal bem com a de empresária nas áreas de Consultadoria & Investimento e Moda. È também ativista social.
Dina Cardoso como é conhecida no seio da comunidade, entende a luta da mulher cabo-verdiana na sociedade como uma edificação a cada aurora feita, segundo ela, essencialmente de avanços e de forma cada vez mais consciente. “Não é uma construção serena, mas vai-se consolidando a cada minuto e jamais cessa, apenas se reinventa a cada crepúsculo”, enalteceu, lamentando o facto de só agora começar a ser reconhecido o verdadeiro papel da mulher ao longo dos tempos.
Andredina Cardoso, 50 anos de idade, veio para Portugal em 1974 com os pais. Dedicada e perseverante como mulher cabo-verdiana que é, detém uma incrível força que lhe permite trabalhar nas mais diversas esferas. “A meu ver, a luta das mulheres cabo-verdianas foi sempre travada com muito afinco, desbravando caminho, para que os filhos tivessem melhores qualificações e com isso mais opções de escolha pela vida fora, cuidando dos seus pais e avós que são o seu pilar e a sua fonte de saber, o seu chão, e que muitas vezes estão lá, na terra longe.” Enquanto profissional de Saúde apelou às mulheres cabo-verdianas que sigam as indicações da Direção-Geral de Saúde no entendimento de que é de lá que vem a informação que de facto interessa.
“Fiquem em casa!!!! Quem puder ficar. Quem, como eu e tantas outras têm de ir trabalhar todos os dias, não facilitem”, apela, lembrando que a responsabilidade de cada um vale vidas.
PADEMA felicita cabo-verdianas
A Presidente da Plataforma de Apoio e Desenvolvimento das Mulheres Africanas em Portugal (PADEMA), Luzia Moniz, saudou as mulheres cabo-verdianas que considera de grandes defensoras e fieis representantes da sua Nação. Luzia Moniz felicitou as mulheres cabo-verdianas pelo seu percurso exemplar na luta pela igualdade de género e contra a discriminação.
O dia 27 de Março foi instituído em 1981 pela Organização das Mulheres de Cabo-Verde (OMCV) e hoje é reconhecido por todas as organizações e instituições cabo-verdiana pelo papel que a mulher desempenha na sociedade. O objetivo da institucionalização da data como uma efeméride tinha como propósito dar voz e vez às mulheres cabo-verdianas.
João do Rosário (Portugal)
Foto: expressodasilhas.cv