Alguns trabalhadores da Frescomar negaram anteontem usar uma máscara fornecida pela direcção da fábrica no âmbito do combate ao Covid-19 e outras aceitaram fazer isso por receio de serem despedidos. Conforme um grupo de funcionários da linha de produção, o equipamento é feito de um material muito poroso, pesado, quente e sufocante, que dificulta a respiração, provoca cansaço e irritação, além de prejudicar o estado de saúde de pessoas com sinusite e alergia a esse tipo de tecido.
“O material é espesso e quente – parece com o tecido das camisas Polo – quando respiramos o ar fica quente à volta do nosso rosto. Além disso, ficamos a ingerir o ar que expelimos durante nove horas, o que certamente é prejudicial”, contam três fontes, que dizem ainda duvidar se essas “boquilhas” vão conseguir impedir a propagação do vírus, caso surja algum caso positivo na fábrica. É que, prosseguem, as máscaras são guardadas nos cacifos e reutilizadas quando regressam ao trabalho, uma medida que consideram contraproducente.
“Depois que negamos usar essas boquilhas deram-nos as máscaras verdes tipo hospitalares, que são as mais adequadas. Só que foi sol de pouca dura. Voltaram a obrigar-nos a usar essas máscaras pesadas porque disseram que as outras tinham acabado”, conta uma dessas fontes, deixando claro que alguns trabalhadores estão a negar usar esse equipamento e estão dispostos a acatar as consequências em prol da sua saúde.
Pelas informações que dispõem as fontes que abordaram o Mindelinsite, a administração da fábrica garantiu-lhes que enviou os parâmetros do equipamento às autoridades sanitárias e que o mesmo foi aprovado pela própria Delegacia de Saúde de S. Vicente. No entanto, abordado ontem à tarde pelo Mindelinsite, o Delegado de Saúde Elísio Silva esclarece que quando foi visitar a fábrica os trabalhadores estavam usando as máscaras verdes normais.
Segundo Elísio Silva, a Delegacia de Saúde já está a corrente das reclamações dos trabalhadores pelo que decidiu enviar uma equipa técnica para avaliar as máscaras da discórdia e apurar como andam a ser usadas.
Ontem, entretanto, elementos da Delegacia de Saúde, da IGAE, Inspecção-Geral do Trabalho e da Polícia Nacional fizeram uma ronda pela ilha de S. Vicente e fecharam algumas oficinas de mecânica que ainda continuavam a laborar. Elísio Silva aproveitou para garantir que as amostras da pessoa suspeita de infecção por coronavírus iam seguir ontem para a cidade da Praia e mostrou-se satisfeito com a possibilidade de o hospital Baptista de Sousa passar a fazer as análises. Advertiu, no entanto, que será preciso preparar o pessoal técnico antes do início dessa actividade pelos riscos que comporta.
O Mindelinsite abordou um membro da direcção para ouvir o contraditório, mas foi informado que o jornal deveria contactar o interlocutor da empresa Manuel Monteiro. Este foi informado do assunto, mas não retornou o contacto até o fecho da matéria, pelo que o jornal fica aberto a ouvir a versão da fábrica, se assim entender.
Kim-Zé Brito