Covid-19: Doentes tratados com cloroquina em Cabo Verde

Os casos confirmados da covid-19, doença causada pelo novo coronavirus (Sars-CoV-2), estão a ser tratados com cloroquina, um medicamento usado para combater a malária e que tem provocado controvérsia a nível internacional. Artur Correia explicou que este medicamento está no protocolo de tratamento adotado aqui no arquipélago. 

Esta informação foi avançada pelo Director Nacional de Saúde, Artur Correia, na conferencia de imprensa diária para actualizar os dados sobre a evolução da doença no país. “Temos um protocolo de tratamento que contempla a cloroquina e que está em constante actualização. Sempre que houver recomendações internacionais da própria OMS, adaptamos. E um exercício que não esta finalizado. No próprio protocolo a uma frase a dizer que é um processo dinâmico e que vai sendo adaptado, de acordo com as recomendações da OMS e das evidencias internacionais”, referiu.

O uso da cloroquina é defendido pelos presidentes dos Estados Unidos e do Brasil, mas rejeitado pela comunidade medica em alguns países porque não existe comprovação cientifica da sua eficácia. Sintetizada em laboratório em 1934, ela deriva da quina, árvore usada por indígenas para curar febres muito antes da chegada dos europeus à América. 

Ingrediente de chás e outras receitas, foi com a malária ue ganhou status de medicamento. Descobriu-se que ela pode interferir no funcionamento dos lisossomos, organelas responsáveis pela digestão das células, e com isso aniquilar o causador da doença. “A chloroquine se concentra no vacúolo alimentar ácido do parasita [causador da malária] e interfere nos processos essenciais”, explica o farmacologista François Noel, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro em entrevista ao Globo. “Nos glóbulos vermelhos, ela se liga ao heme [átomo de ferro] formando um complexo tóxico que mata a célula e o parasita.”

Um outro medicamento que vem sento utilizado em vários países é a hidroxicloroquina, uma versão aprimorada e menos tóxica da cloroquina, indicada para tratamentos de longo prazo. Desenvolvida em 1946, ela é aplicada nas terapias de doenças autoimunes como artrite reumatoide e lúpus, além dos casos em que a malária é provocada por protozoários resistentes à cloroquina.

Em 2007, pesquisadores liderados pelo infectologista Didier Raoult, da Universidade de Medicina de Marselha, na França, fizeram testes in vitro para demonstrar que a cloroquina e a hidroxicloroquina poderiam ser usadas contra infecções bacterianas, fúngicas e virais — entre elas, o HIV e o Sars-CoV-1 (coronavírus causador da Sars, síndrome respiratória que surgiu na China em 2002) . Além de actuarem nos lisossomos e, com isso, prejudicarem a replicação do vírus (depende das células humanas para se reproduzir), as drogas interferem nas enzimas que convertem a proteína na cápsula do vírus e permitem a entrada nas células.

Esses dois mecanismos actuariam na diminuição da infecção. Em casos já avançados, as substâncias serviriam para inibir a reação das citocinas, moléculas que recrutam as células imunológicas para o local de infecção e, se descontroladas (na chamada tempestade de citocinas), ativam células demais em um só lugar e causam danos.

No surto do novo coronavírus, o estudo francês chamou a atenção e pesquisadores mundo afora, que resolveram testar a aplicabilidade ao Sars-CoV-2. O primeiro teste foi feito por cientistas chineses e publicado no inicio de fevereiro de 2020, mostrando efeitos similares aos da pesquisa de 2007. Outro, também realizado na China e  divulgado no mês de marco validou a eficácia das drogas in vitro.

E aqui que começaram as complicações. “Não entendemos por que tanto otimismo baseado em um estudo in vitro”, diz Noel, que alega que as condições em laboratório são diferentes das do corpo humano com seus elaborados sistemas. Para fazer esse “salto”, afirma, há muito o que se considerar: da posologia recomendada ao momento da infecção em que o uso é mais indicado (deve-se priorizar o uso no início, como profilaxia, ou em casos agudos?), até o risco de efeitos adversos da interação com o organismo.

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