O engenheiro eletrotécnico reformado Carlos Araújo disputa pela segunda vez a liderança da Câmara de São Vicente, depois de em 2000 ter encabeçado a lista da UCID. Agora apresenta-se como independente. As dificuldades financeiras para fazer uma campanha nos mesmos moldes dos adversários obriga-o a trabalhar praticamente sozinho e a ser “criativo” para chamar a atenção dos mindelenses, sendo uma das suas acções mais polémicas o “Jantar dos Humildes” que pretende realizar esta sexta-feira na rua de Lisboa, onde os participantes deverão levar “papa e leite”. O candidato elege como bandeira a autonomia de São Vicente como princípio ético do desenvolvimento e para combater os desmandos. Defende ainda a dignificação dos serviços municipais e respostas rápidas às situações de injustiça.
Mindelinsite: A campanha começou oficialmente no dia 14. Até hoje, como a vossa candidatura tem sentido a reação do eleitorado em S. Vicente?
Carlos Araújo – Uma reação muito boa. A grande maioria das pessoas contactadas entende o alcance das nossas ideias e dá-nos aquele empurrãozinho.
MI – O Movimento Autónomo de S. Vicente tem apostado nos contactos directos em vez de comícios. Esta estratégia foi escolhida pela sua eficácia ou por falta de meios financeiros?
CA – A estratégia foi escolhida pela sua eficácia. Queremos falar a nossa verdade olhos nos olhos. O uso de dinheiro seria a nossa derrota pois nos colocaria ao lado dos poderosos.
MI – Uma das bandeiras do MAS é batalhar pela autonomia de S. Vicente. Este conceito está associado à Regionalização? É um contrapeso à política de Centralização?
CA – A Autonomia que propomos não está associada à Regionalização. As ilhas já são regiões naturais que carecem de uma organização autónoma. A Regionalização, tal como foi concebida, não passava de uma descentralização da centralização acarretando consigo um aumento de complexidade e custos no sistema já de si incorreto. Por outro lado, não vejo a autonomia como um contrapeso à política de Centralização. Na verdade, é a centralização que, ao negar a autonomia enquanto princípio ético do desenvolvimento, vem impondo na prática todos os desmandos da nossa sociedade.
MI – Atingindo o nível de autonomia que preconiza, que impactos essa conquista teria no bem- estar da população mindelense?
CA – Em primeiro lugar, a sensação de liberdade. Depois o cair na realidade de termos de iniciar a caminhada rumo a um futuro que não conhecemos, mas que temos de avançar de forma a que o dia 22 seja sempre melhor do que o dia 21. No envolvimento de todos poderá estar um pouco desse bem-estar.
MI – Tem sido um activista e já concorreu à CMSV. Como está a catapultar esta experiência para o sucesso da sua candidatura?
CA – A maturidade e a independência de conceitos e preconceitos levam-me hoje a procurar mais o entendimento do outro. Procuro na empatia o caminho de cativar as pessoas. Repugno a forma de fazer campanha que tem sido levada a cabo pelos partidos.
MpD refém de Augusto Neves
MI– Tem sido uma voz crítica à gestão dos mandatos do MpD. O que propõe fazer diferente, caso seja eleito?
CA – Tudo leva a pensar que o MpD está refém do Dr. Augusto Neves, o que não o iliba das suas responsabilidades. Os erros estão quer na forma como no conteúdo pelo que, no que toca a forma, mudarei para uma gestão mais participativa e democrática; no que toca ao conteúdo atuarei no sentido de criar oportunidades e libertar a criatividade. Nada de pedintes. Investir no funcionamento da Câmara é imprescindível.
MI – Qual o sector que, na sua visão, exige uma atenção primária e urgente em S. Vicente?
CA – O combate ao uso do álcool.
MI – Não havendo uma maioria absoluta, e sendo eleito, como é que pretende relacionar-se com as demais forças políticas presentes na CMSV?
CA – Simplesmente aconselhando, caso for aceito a minha opinião. Existirão linhas vermelhas que em caso de serem ultrapassadas serão imediatamente denunciadas à comunicação social.
MI – Enumere o principal projecto a nível económico, desportivo, social, cultural e administrativo para S. Vicente na sua plataforma eleitoral.
CA – Vamos investir na dignificação dos serviços e na rápida resolução de injustiças. Na educação, na cultura e no desporto para promover a saúde, a segurança e o bem estar social. Também no emprego digno e oportunidades para todos. São Vicente será a ilha onde cada cidadão encontrará espaço para crescer e prosperar pois temos um compromisso com o futuro através da capacitação e emprego como motores de uma sociedade mais justa e próspera.
Iremos investir na Cultura, aproveitando o facto de S. Vicente ser o coração pulsante da cultura Cabo-verdiana – onde cada rua, música e expressão artística contam nossa história e celebram o futuro. A ilha da criatividade inspirando Cabo Verde e o mundo. No Comércio Marítimo fazendo da ilha um centro estratégico do comércio marítimo, abrindo as portas para oportunidades globais e uma economia forte e inclusiva.
No que tange ao turismo sustentável e inovador, propomos fazer de São Vicente uma ilha onde o turismo respeita a nossa natureza, celebra a nossa cultura e promove um futuro sustentável para todos. Na pesca, acredito que através de uma ampla formação e discussão com os pescadores poderemos formar uma equipa capaz de ser protetora, produtiva e inovadora. Iremos investir ainda na Agricultura e pecuária de forma a promover o bem estar dos seus agentes como em aproveitar os benefícios da transformação industrial.
MI – Qual será a primeira ação do MAS dentro da CMSV caso vença as eleições?
CA – Chamar todas as pessoas que se sentem lesadas pela Câmara para que em conjunto possamos encontrar as soluções possíveis.