A composição da equipa dos vereadores e das bancadas na Assembleia Municipal de S. Vicente está ainda a aguardar o apuramento definitivo do resultado do escrutínio eleitoral realizado ontem. Até o momento falta lançar os dados de uma das duas mesas de voto da Salamansa, pelo que, conforme o site oficial da CNE, continua em jogo a escolha de mais dois vereadores e 3 deputados municipais.
Quando tudo indicava para a conclusão do apuramento ainda ontem, a plataforma da CNE parou a divulgação dos resultados quando estavam confirmados os dados de 99.3% das assembleias de voto. Na prática seria preciso inserir apenas os números de mais uma mesa para se fechar oficialmente o escrutínio na ilha de S. Vicente. Extraoficial, o Mindelinsite apurou esta manhã que o MpD e o PAICV vão dividir os dois vereadores, enquanto os 3 deputados serão distribuídos para as listas do MpD, PAICV e UCID. No entanto, haverá esta manhã uma reunião de apuramento geral do escrutínio.
A confirmar este cenário, o MpD terá quatro vereadores, o PAICV 3 e a UCID 2, ou seja, a mesma configuração do mandato anterior, mas com uma mudança de posição entre o PAICV e a UCID. Na Assembleia, o MpD ficará com 9 eleitos, o PAICV 6 e a UCID 6. Desta vez, o Movimento ka tem parada, liderado por Nelson Lopes, fica de fora, quando em 2020 conseguiu eleger um elemento.
Com base nos dados divulgados, fica claro que Augusto Neves comprovou a sua invencibilidade nas eleições à Câmara de S. Vicente, mas o candidato do MpD ficou aquém da maioria absoluta que tanto pediu ao eleitorado para, “desta vez”, governar sem o “entrave” da oposição. Porém, os resultados mostram uma espécie de “repetição da matéria dada”, pois ganha, mas vai ter, de novo, uma oposição pesada à perna, como aconteceu no mandato anterior. Isto tanto na Câmara como na Assembleia Municipal. Os 49.6% de eleitores que decidiram votar deram-lhe a vitória, mas colocaram Gust numa “calça justa”, obrigando-o mais uma vez a uma gestão camarária partilhada. E desta vez a convivência política pode ser mais tensa, pelo menos com a UCID.
A crer nas nossas previsões, o MpD elege 4 vereadores, contra 3 do PAICV e 2 da UCID, ou seja, tudo igual. Na Assembleia Municipal, o MpD terá 9 deputados, mas a oposição conquistou 12 assentos, sendo 6 do PAICV e 6 da UCID.
Este é um cenário que suscita temor no seio do partido ventoinha, pois levanta a memória da “geringonça” política feita pelos democratas-cristãos e os tambarinas nas eleições de 2020 na escolha da Presidente da AMSV. Quando tudo apontava para a liderança de Lídia Lima, a escolha recaiu em Dora Pires. Desta feita, a lista liderada por Helena Fortes foi a mais votada, mas…
Abstenção volta a dar as cartas
O certo é que, com base nos dados constantes da plataforma da CNE, o candidato do MpD venceu as eleições autárquicas de 2024 com 41,3% dos votos (11.238), conseguindo mais votos agora do que no pleito anterior, que ficou pelos 37,2 por cento. O PAICV, até agora a terceira força política na ilha, saltou para o segundo lugar com 26,4% (7.192), seguido pela UCID com 24,6% (6.688). O movimento independente Soncent Katem Parada amealhou apenas 2% dos votos e o Movimento Autónomo São-Vicentino 1,9 por cento.
A abstenção (50,4%) voltou a dar as cartas, saindo-se como a maior vencedora destas disputas políticas em S. Vicente. Já Augusto Neves vai, pela 5ª vez consecutiva, governar a ilha de São Vicente e, tudo indica, que as dificuldades vão persistir, tendo em conta que, novamente, vai partilhar o poder, algo que se mostrou quase impossível nos último quatro anos. Entretanto, a maior dificuldade virá, com certeza, da Assembleia Municipal. Não é garantido que Helena Fortes será a presidente deste órgão legislativo porque o PAICV e a UCID juntos somam mais eleitos, o que poderá resultar, uma vez mais, numa “geringonça”, catapultando os cabeças de listas destes de um destes partidos para presidente.
Neves, mantendo o tom utilizado durante a campanha eleitoral, fez uma declaração para os militantes, afirmando que os adversários vão continuar a ver a CMSV de binóculo. “Só vão continuar a ver esta Câmara de binóculo. Vamos continuar a trabalhar, a trabalhar duro. Gastaram muito dinheiro, mas nem assim conseguiram. Em S. Vicente não têm hipótese. Aqui o pessoal luta e trabalha”. O autarca reeleito garantiu aos mindelenses que podem continuar a contar com ele porque também vai contar com todos. E terminou reforçando a sua promessa de quatro dias de festa do final deste ano, 28, 29, 30 e 31 de dezembro.
Neste combate político, o PAICV melhorou consideravelmente a sua performance – obteve 7.192 cotos contra os 5.832 de 2020 – e é agora a segunda força na ilha de São Vicente. “É óbvio que sentimos um orgulho extremo por termos conseguido recuperar uma posição que já era por demais esperada por todos os militantes do partido”, reconheceu António “Patcha” Duarte, acentuando que o PAICV conseguiu ser o partido mais votado em várias zonas de S. Vicente.
António Monteiro e Nelson Lopes denunciam compra de votos
No tocante a UCID, o candidato António Monteiro reagiu aos resultados destas eleições autárquicas com tranquilidade porque, do seu ponto de vista, o povo fez a sua escolha no MpD, independentemente dos condicionalismos. Aproveitou, no entanto, para denunciar e criticar algumas práticas que presenciou e reforçou as queixas sobre compras de bilhetes de identidade em S. Vicente. “Ontem denunciamos à Polícia Nacional a compra de bilhetes. Entregamos nove BI que retiramos das mãos de um cidadão na zona de Campim. E hoje assistimos a uma vergonha. Estou na política há 32 anos e nunca vi tamanha sujeira como aquela que testemunhei, na cara das autoridades. E ninguém fez rigorosamente nada”, lamentou António Monteiro na sua declaração à imprensa.
Nesse pronunciamento, o candidato afirmou ter vivenciado um “filme de terror” na zona da Salamansa. “Fomos ver o que se estava a passar com uma urna na zona porque o candidato A. Neves estava lá. É só ver a quantidade de pessoas que foram da cidade, devidamente identificadas para nos tentar intimidar. Mas eu não me intimido facilmente”, frisou, sublinhando que a UCID fez uma excelente campanha, mas que os resultados não refletem esse trabalho. “Estou contente porque o povo escolheu, mas 50,7% resolveu não votar. Entendem que está tudo bem. Então está bem. Esta é a realidade. O grande problema é o custo social que esta ilha vai pagar porque juntar o narcotráfico com política é o pior erro que se pode cometer. E nós temos assistido a isso e alertamos. Ninguém vai dizer que não houve alerta”, afirmou António Monteiro na sede de campanha da UCID.
Com muito menos votos nestas eleições autárquicas que nas de 2020, o candidato Nelson Lopes mostrou-se também desiludido com a “compra descarada” de votos em São Vicente. Citou, a título de exemplo, os casos de pessoas que, tanto pessoalmente, como por mensagem, se ofereceram para vender o seu voto. Por conta disso, o candidato anunciou a sua intenção de se afastar da esfera política, tendo prometido continuar a ajudar S. Vicente apenas como empresário.
Na mesma linha, Carlos Araújo, o cabeça de lista do MAS, que conseguiu apenas 511 votos, diz estar preocupado com o rumo desta ilha e lembrou aos partidos que mais de 45% do eleitorado não está com o MpD. Araújo diz fazer uma referência ao MpD porque é neste partido que “mora o perigo”.