Associação Maense promove campanha na plataforma “gofundme” para apoiar cabo-verdianos em PT

A situação sanitária vivida nos últimos tempos, provocada pela pandemia da COVID-19, tem desencadeada uma enorme onda de solidariedade a todos os níveis. No seio da comunidade cabo-verdiana em Portugal, varias são as ações de apoios e ajudas desencadeadas por várias associações existentes. Estas têm desdobrado para mitigar os efeitos desta crise, que tem um impacto dantesco na vida social, económica destas pessoas. Com este objetivo de ajudar  na diminuição do  sofrimento das pessoas a Associação Maense em Portugal, a semelhança de outras,  está a desenvolver uma campanha de angariação de fundos na internet na plataforma “gofundme” o que motivou esta conversa com o seu presidente Carlos Spencer Frederico. 

—Por João A. do Rosário—

Mindelinsite – A Associação tem em marcha uma campanha de angariação de fundos, através da internet, para ajudar a comunidade cabo-verdiana. Explica-nos em que consiste este processo?

Carlos Spencer Frederico – A Associação Maense em Portugal (AMP) tem desenvolvido e participado em diversas ações de campanha de solidariedade para ajudar os nossos conterrâneos. Neste momento crítico que vivemos, provocado pela pandemia do Covid19, tanto a nível individual como em parceria com outras instituições sociais, entre eles Associação Nasce Renasce, União dos Estudantes Cabo-verdianos de Lisboa (Uecl), Liga de Estudantes Universitários e Instituições de Ensino Profissionais e Superiores, temos alunos inscritos cuja finalidade é difundir e melhorar a comunicação no seio da comunidade imigrada de origem cabo-verdiana e constatar “in loco” as famílias que apresentam maiores graus de vulnerabilidade e procurar soluções conjuntas para minimizarmos essas mazelas. Outrossim, servir de canal de apoio junto da nossa representação diplomática em Portugal e outros serviços de apoio no país de acolhimento. 

MI – Como tem decorrido esta campanha? 

CSF – Até o momento tem decorrido sem sobressaltos. Não temos conhecimento de registos de casos isolados e ignorados até agora, uma vez que a maioria das associações têm actuado neste âmbito e por diversos meios. A nível de divulgação já realizamos em parceria com a UECL, uma vídeo-conferencia, subordinada ao tema “COVID-19- Nova Realidade- Desafios e Perspectivas, no dia passado 11 de Abril, em que tínhamos como público alvo os estudantes e toda a comunidade imigrada cujo objetivo foi o de   sensibilizar aos participantes em relação aos riscos de contágio e os procedimentos a ter para evitarmos a contaminação

MI – Quem são as pessoas ou instituições a quem têm conseguido apoiar nesta luta? Quantas já assistiram até o momento? 

CSF – São alguns dos nossos imigrantes que apresentam no momento alguma vulnerabilidade, doentes evacuados e estudantes que neste momento apresentam mais dificuldades. Mas não sei precisar o número  mas posso garantir que são algumas dezenas. 

Educação aposta maior

MI – Verificamos que tem ajudado alguns alunos cabo-verdianos também na obtenção de vagas para estudarem em Portugal. Como tem decorrido este processo, nesses anos da vossa existência? 

CSF – Sim trata-se de um dos eixos importantes que decidimos abraçar desde 2014 porque acreditamos que a educação é a chave do futuro de Cabo Verde. Penso que a prioridade deverá ser nos recursos humanos e na busca do conhecimento. Iniciamos de forma tímida apenas com jovens da Ilha do Maio devido a  inexistência de escolas de ensino profissional e superior na Ilha. Como tínhamos um número de oferta de vagas maior que a procura e devido ao sucesso adquirido com esta iniciativa acabamos por abranger as outras ilhas e os PALOP’s. Neste momento temos mais de quatrocentos jovens beneficiados ao longo desses anos nos diferentes níveis de formação. No último tivemos uma procura de mais de mil jovens levou a  que houvesse mais Escolas que nos procuram para parcerias dado ao trabalho que temos desenvolvido.

MI – Das publicações que têm feito sobre as candidaturas, verificamos que um número elevado de alunos fica de fora, outros sem colocação. Explica-nos como é que isto se processa? 

CSF – Ora bem, existe uma explicação simples. Nos editais das escolas não se encontram somente os candidatos apresentados pela AMP. As mesmas têm um vasto leque de parceiros, incluindo as Câmaras Municipais de Cabo Verde e demais PALOP’s e outras associações. Quero ressalvar que basta ver nos editais as justificações que cada Escola apresenta. Também que fique bem claro que a inscrição na AMP no concurso de vagas não é garantia de que o candidato seja aceite e sabem disso antes das inscrições. Há critérios bem definidos pelas escolas quanto ao número de vagas e a percentagem de estudantes estrangeiros. Com efeito muitas vezes recebemos candidaturas de alunos para cursos de suas preferências mas que muitas vezes não reúnam as condições exigidas em relação as disciplinas nucleares. A escolha do curso é do aluno mas, mesmo no tocante a este quesito, temos analisado as candidaturas e o perfil dos mesmos e quando percebemos que a possibilidade de aceder a vaga é mínima aconselhamos a mudança de curso. Alguns não aceitam. E por fim temos tido um trabalho enorme em aconselhar os jovens a serem mais realista e consciente daquilo que querem. Aconselhamos alguns a se emprenharem mais sendo que a concorrência é grande e renhida. Daí estarmos a ser mais exigentes com as médias das notas do candidato. 

MI – Não será possível ir-se também para a limitação do número das candidaturas? 

CSF- Posso dizer que acreditamos que o aumento da média é uma das maiores e mais justa medida porque o que se pretende é premiar o mérito. De outra forma estaríamos a ser injustos porque há muitas vagas mas o que acontece nem sempre os nossos alunos preenchem esses requisitos nomeadamente nas áreas cientificas e tecnológicas em que temos pouca procura e os que procuram na sua maioria tem médias baixas em detrimento das áreas de humanidades em que há muita procura para poucas vagas. Trata-se de um concurso e não podemos excluir quem a apresenta as melhores condições. Uma outra medida assertiva foi não aceitar candidaturas de alunos que estão fora do sistema há mais de três anos devido a dificuldades de obtenção de vistos. Temos promovido alguma campanha em Cabo Verde onde apelamos para a necessidade de estudarem mais e para escolherem as áreas mais prioritárias. 

Estudantes de todas as ilhas  

MI – Porquê Associação Maense em Portugal? 

CSF – Porque foi criado por jovens estudantes naturais da Ilha do Maio que se encontravam em Portugal desde de 2003. Inicialmente foi como um meio de reflexão, discussão e propostas de soluções para a resolução dos principais problemas que afetavam o desenvolvimento da Ilha que os viu nascer. Queriam que a suas vozes fossem atendidas pelos poderes políticos instituídos, locais e nacionais. Até hoje realizamos o Encontro de Estudantes Maenses em Portugal para mantermos a tradição do primeiro evento de Coimbra 2003. Somos uma Instituição de cariz social, sem fins lucrativos que tem como linhas orientadoras a integração social dos maenses em particular e dos cabo-verdianos em geral, a divulgação da cultura do arquipélago e maense em toda a sua dimensão e colaborar com as demais associações de cariz social cabo-verdianas. Participamos nas políticas sociais e humanitárias e onde considerarem a nossa presença como a mais-valia. A AMP tem sido reconhecida na área da Educação, Planeamento e Desenvolvimento porque, na verdade temos tido um papel chave no apoio, intermediação e acesso dos jovens cabo-verdianos na formação fora de país com realce para Portugal daí que tem sido o eixo mais visível da nossa atuação.  

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