Um grupo de alunos foi ontem à noite impedido de assistir as aulas na universidade Lusofona. Conforme os estudantes, dois seguranças do estabelecimento barraram os que têm dívidas com a escola e só deixaram entrar quem estava com as contas regularizadas, com base numa lista fornecida pela administração.
Para os universitários, essa medida é uma represália da escola pelo facto de estudantes do curso Ciências de Comunicação terem chamado a imprensa e divulgado problemas que têm vindo a enfrentar. Éder Fonseca, um dos alunos que conversou com os jornalistas, voltou a falar com o Mindelinsite e classificou esse acto como uma represália derivada dessa iniciativa dos colegas do curso Ciências de Comunicação.
“Para mim isto é um reflexo evidente pelo facto de termos estado a falar com os jornalistas sobre o que se passa na universidade. Chegamos às 18 horas e, para nosso espanto, encontramos dois guardas com uma lista com os nomes dos estudantes com propina em atraso e que não podiam entrar”, revela Fonseca.
Este facto foi confirmado por Edna Ramos, aluna do curso de Direito, que também considera esse acto uma castigo da universidade. Como confessa, tem 8 meses de propina em atraso, mas esperava que a escola emitisse um comunicado dando um prazo para que a dívida fosse regularizada. “Aquilo que deviam fazer era deixar-nos entrar e ler o comunicado, dando um prazo para se resolver esta questão. E não apanhar-nos de surpresa”, reclama a estudante, que ficou desempregada por causa da Covid-19 e que, diz, teve de usar o pouco dinheiro que tinha para se alimentar. Neste momento ela aguarda por uma ajuda da Ficase para poder pagar as despesas de formação e garante ter repassado essa informação para a escola quando foi matricular-se no segundo ano do curso. A aluna adianta que lhe disseram que podia matricular-se e que não haveria nenhum problema. Mas, pelos vistos, a situação mudou.
Universidade nega represália
Lenilda Brito, administradora da Universidade Lusofona, confirma isso mesmo. Abordada pelo Mindelinsite, a gestora nega que essa medida seja uma represália. Como explica, essa medida já estava tomada para ser agora aplicada e acabou por coincidir no tempo com a conferência de imprensa dos alunos de Ciências de Comunicação.
“A universidade tem enfrentado uma situação financeira deficitária nos últimos anos. Isto, em parte, devido a um sistema de cobrança de propinas muito benevolente. Sempre tentamos ajudar e entender a situação de alunos com dificuldades em pagar as propinas. Chegamos ao ponto de propor a troca de serviços como compensação. Por outro lado, há alunos que chegaram a pagar 2 mil escudos por mês com a condição de saldar o resto da conta mais tarde”, exemplifica Lenilda Brito.
Essas práticas, prossegue, tiveram efeitos graves na gestão da escola. Deste modo, em 2018 a universidade teve de renovar o regulamento da tesouraria e prever sanções para os alunos em incumprimento. O tempo foi passando, mas essas medidas não foram propriamente aplicadas.
“Chegamos ao ponto de ter alunos a assistir aulas sem estarem inscritos. Enviamos nota aos professores para impedi-los de frequentarem as aulas mas não colaboraram”, acrescenta a administradora nacional da “Lusofona”, lembrando que um aluno sem inscrição não tem vinculo com a escola.
Lenilda Brito afirma que desde Novembro que a universidade tem vindo a emitir comunicados a alertar os alunos para as medidas que seriam tomadas este ano. Em Dezembro, diz, esteve fora e quando voltou acionou a aplicação das mesmas. E acabaram por vir coincidir com a referida contestação dos alunos.
Segundo a administradora, a universidade chegou numa fase de firmeza, que implica adoptar práticas de gestão mais eficazes, que respeitem os direitos dos estudantes cumpridores e dos professores.