O ministro da Cultura e das Indústrias Recreativas acusou há momentos José Maria Neves de “populismo crónico”, “desonestidade intelectual, política e ética” e ainda de demonstrar um evidente desconhecimento dos processos por detrás dos modelos que o actual governo está a implementar. A reacção de Abraão Vicente na sua página no Facebook teve por mote declarações proferidas ontem pelo ex-Chefe do Governo do PAICV em S. Vicente num encontro com alunos do ensino secundário, segundo as quais o Governo de Ulisses Correia e Silva está a seguir a “agenda de transformação” do país iniciada pelo seu Executivo nos 15 anos de governação, mas com outra designação.
Neves usou como termos comparativos o projecto “Cluster do Mar” – que “passou” a ser designado “Zona Marítima Económica Especial” – a feira de artesanato Fonartes – que “virou” URDI – e a instituição Cabo Verde Investimentos que foi transformada, nas suas palavras, em Cabo Verde Trade Invest. No fundo, aquilo que deixou supor o ex-PM durante a conversa com estudantes da escola secundária José Augusto Pinto, sob o lema “Cabo Verde 1990/2020 – Desafios e Perspectivas”, a essência daquilo que iniciou continuou a mesma, mudaram apenas os nomes.
Esta comparação não caiu no agrado do ministro da Cultura, para quem José Maria Neves demonstra um evidente desconhecimento dos processos por detrás dos modelos que estão a ser implementados pelo actual Executivo. “Modelos diferentes, resultados diferentes”, enfatiza Abraão Vicente, realçando que hoje o Cabo Verde liderado por Ulisses Correia e Silva está a crescer cinco vezes mais e o desemprego atinge o ponto mais baixo nos últimos cinco anos. “Factos!”
Quanto às incursões de JMN na área da Cultura – que foi mais além e realçou o papel da Cesária Évora no reconhecimento da Morna como património imaterial da humanidade pela Unesco – Abraão Vicente afirma que isto é “dramático”. “É dramático como, apesar das explicações da equipa técnica e do dossier ser público, que um ex-Primeiro ministro ainda não tenha percebido o que significa a classificação da Morna para a Unesco e na Unesco; não tenha compreendido os procedimentos da instituição e sobretudo não tenha compreendido que não foi a Morna dos palcos, a Morna música a ser classificada, mas algo muito mais abrangente: a prática social. O que responsabiliza ainda mais o povo e o país”, sublinhou o ministro. Segundo Vicente, nem tudo é política e neste caso o populismo e a tentativa de se tirar o mérito a quem conduziu o processo leva à ridicularização pública de um ex-PM da República, que demonstra desconhecimento total da matéria.
No tocante à referência comparativa entre as feiras “Fonartes” (PAICV) e “Urdi” (MpD), contra-ataca Abraão Vicente, é como comparar um Toyota Starlet com um Ferrari. “Ambos são automóveis…, mas não têm comparação possível.”
Há cerca de uma hora, José Maria Neves publicou no seu Facebook a frase “meio tostão não tem troco”, o que está a ser visto como resposta ao post do ministro Abraão Vicente.