Bá ta bá

Por: Nelson Faria

Se o final do ano passado e início de 2020, quando o Covid-19 era um embrião, já indiciavam, por outros factos e acontecimentos, que, apesar da esperança, este ano poderia não ser o desejado, agora, mesmo que cumprido apenas um quarto, a certeza é, infelizmente, a menos desejada: não será um bom ano. Sobretudo pelas consequências óbvias do Covid-19 a vários níveis, particularmente na saúde e vida do ser humano, na economia, na sociedade e relações sociais, entre outras.

Se a nível pessoal o ano 2020 já ficou-me marcado como um de grande tragédia, coletivamente acho que podemos dizer o mesmo. Não abraçar, não conviver, não beijar, não aproximar, evitar pessoas, evitar meios comuns, não poder trabalhar, são limitações pesadas, mas necessárias, para o que somos e como nos habituamos a viver. Ficar em casa, desta forma, é, seguramente, liberdade condicionada, aproximando a prisão domiciliar.

Limitações nas ações de grande impacto, limitações nas ações pequenas que nos fazem bem. Tem-me faltado uma que faz grande diferença na minha vida: poder ir ao mar e desfrutar do sol, das praias, da liberdade, da paz, da tranquilidade, marinar e temperar na doçura da água salgada, perder horas a ganhar vida e a viver com prazer. Respirar liberdade e transpirar paz.

Para mim, uma questão pertinente a ser respondida após o estado de emergência será: como disfrutar do mar cumprindo regras sanitárias, que certamente existirão até o fim da pandemia. Quais serão as regras?

Voltando à questão principal, como viver e coexistir com a doença após o estado de emergência até ao fim da pandemia? No mêste bá ta bá… Manera? De alguma forma, com certeza… Se já “tud era bada” e “tá bá dvagar” era hábito, certamente serão retomados. Não da mesma forma porque reinventaremos, adaptar-nos-emos ao contexto e às suas condicionantes, indo com tudo para continuar a vida mesmo que a velocidade não seja a desejada… Temos de aprender, de alguma forma, a coexistir e conviver com a doença, temos de nos precaver e cuidar, sim, sempre, mas não descurar de outros aspetos que a nossa vida pessoal e coletiva requerem. Sempre com cuidado primeiro à saúde e à vida.

Apesar dos malefícios da conjuntura que vivemos e do susto que a doença provoca, há esperança e não deixa de ser também mais uma oportunidade, mesmo que forçada, de nos reinventarmos, de criarmos, de aprender coisas novas, de reformular padrões e modelos de vida, de ajustarmos a um mundo novo que é incerto e desconhecido. Eu estou e espero que estejamos todos dispostos a aceitação da nova conjuntura e seus desafios, de nova forma de vida, porque não será possível voltar liminarmente ao antigo, antes do Covid-19. Só não aceito não ir ao mar. Em que circunstâncias for, irei, mesmo que devagar, sozinho e com o distanciamento necessário.

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