Psicóloga da Aldeia SOS adverte: Uma criança pode juntar 2 a 5 contos num único dia nas ruas de Mindelo

Uma criança é capaz de juntar de dois a cinco mil escudos num único dia pedindo dinheiro pelas ruas da cidade do Mindelo, em particular quando os barcos turistas escalam o Porto Grande. Com o valor arrecadado, segundo a psicóloga Patrícia Évora, pode comprar “fatiotas”, jogar playstation nos cibers e ainda adquirir tacos de “erva” ou doses de cocaína.

Estes dados, frisa essa técnica da Aldeia SOS de S. Vicente, podem elucidar as pessoas de uma realidade desconhecida de muita gente, pessoas que não têm a plena noção do impacto que um mero gesto de “amor” ou de “compaixão” pode provocar na vida das crianças em situação de rua. Até mesmo a oferta de um pão, frisa, é suficiente para matar a fome momentânea dos meninos e mantê-los por mais uma noite na rua. “As pessoas precisam começar a agir mais com a cabeça e menos com o coração, se querem realmente ajudar esses meninos”, adverte a psicóloga.

Segundo Patrícia Évora, já é altura de a sociedade entender que dar esmola é a fórmula perfeita para alimentar os “maus hábitos” das crianças passam o tempo a deambular. Daí estar em curso a campanha “Criança não é de rua! Não alimente a esmola. Alimente o futuro” lançada pela Aldeia SOS. É que, realça essa psicóloga, vinte escudos pode parecer pouco para quem dá, mas, para a criança que recebe, é mais uma das tantas moedas que amealhou ao longo do dia. “Vinte escudos pode ser o dinheiro para mais um taco. E eles são bons gestores”, salienta Patrícia Évora.

A referida campanha, que foi lançada após uma observação exaustiva feita pela Aldeia SOS em 2015, já começa a surtir efeito. Um dos passos fundamentais foi sensibilizar o sector turístico, que tem sido uma das principais fontes de rendimento das crianças. No entanto, a Aldeia SOS entende que é preciso ainda manter as antenas vigilantes, fazer a mensagem chegar a outros segmentos da sociedade.

Segundo Patrícia Évora, hoje, mais de metade das 33 crianças identificadas em 2015, já foi retirada da rua. Estão outra vez de regresso à Aldeia SOS e ao Centro Irmãos Unidos, fruto de uma estratégia relançada em 2018. Neste momento, diz Évora, nenhuma criança deveria estar a vadiar pelas ruas e periferias da cidade do Mindelo. O certo, no entanto, é que ainda algumas resistem, pelo que continua a missão das entidades que trabalham com essa problemática.

A maior parte das crianças em situação de rua é do sexo masculino. Porém, há registo de meninas que se aventuram pelas ruas, mas, ao contrário dos rapazes, evitam dormir nos parques ou à porta dos estabelecimentos comerciais.

Kim-Zé Brito

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