Oito mil é o número de máscaras que a Organização das Mulheres de Cabo Verde, em São Vicente, pretende confeccionar durante este e o próximo mês de Maio. O movimento começou há duas semanas, mais de mil unidades já foram produzidas e a intenção é adicionar este item aos cabazes solidários. Para quem pode pagar, a organização tenciona que ofereça um quilo de alimento em troca de uma dessas unidades.
A iniciativa recebeu da Fundação para a Educação de Crianças e Jovens em África, com sede na Suíça, organismo que abraçou o projecto desde a primeira hora, uma doação que permitiu com que a OMCV adquirisse a matéria-prima para o trabalho. “Com o material já disponível lançamos um apelo às costureiras que fizeram formação aqui e até agora 10 abraçaram a causa. Usam a nossa sede para costurarem as máscaras, mas trabalham também a partir de casa”, assegura a delegada na ilha, Fátima Balbina, que acrescenta que a instituição comparticipa com um montante para auxiliar essas voluntárias nos custos com a eletricidade.
Ailene Miguel é uma das jovens costureiras que interrompeu a sua quarentena domiciliar para unir esforços nesta causa. Com o serviço parado na empresa que trabalha, e impedida de receber encomendas em casa, encontrou na confecção de máscaras uma terapia.
Já Raquel Amador, que costuma dar o seu contributo à OMCV capacitando jovens mulheres, e não só, aproveitou a pandemia para criar máscaras com materiais reciclados. Esta aconselha as pessoas a fazerem as próprias máscaras com tecidos que possam ter em casa. Adverte para que o tecido seja de algodão ou outro tipo de matéria-prima que permita que o seu utilizador respire bem quando a estiver a usar.
Aliás, o tipo de tecido das máscaras feitas na OMCV foi definido após pesquisa do material adequado, ou seja, em algodão e com o interior de prolipopileno. Nesta luta, esta delegação não está sozinha, pois conta com a parceria da Action Metal, que faz os moldes e recortes para que as máscaras possam encaixar bem à face e envia-os para a OMCV-SV, onde são costuradas.
Entregar cabazes alimentares a 170 famílias
Além da produção de máscaras, a OMCV tem em curso outras ações para auxiliar os mais necessitados nesta quarentena. Com quase um mês de campanha de arrecadação e distribuição de cabazes alimentares, a organização já beneficiou 163 famílias com cabazes diferenciados para os que têm crianças em casa, famílias numerosas, bem como com materiais de higiene e de proteção, no caso por exemplo de preservativos. A intenção, de acordo com Fátima Balbina, é chegar a 170 famílias e continuar o reforço de apoios a 80 agregados que a instituição costuma ajudar.
“São famílias com um histórico de dificuldades financeiras que sinalizamos muito antes desta situação e que, com a pandemia, estão a passar por mais dificuldades”, expõe esta fonte.
Balbina acrescenta que os pedidos de apoio têm surgido de diferentes lugares, inclusive de pessoas que antes se sentiam envergonhadas por pedir, mas que “a fome dos filhos as desinibiu”. Segundo esta gestora da OMCV na cidade do Mindelo, as mulheres constituem o grupo que neste momento procura por mais ajuda. “Eu, com muito tempo a trabalhar neste ramo social em São Vicente, sabia que na ilha havia gente a passar por dificuldades, mas não imaginava que seriam tantas”, lamenta.
Ao mesmo tempo que surgem novas solicitações de apoio, a esperança renasce nas mãos das diferentes pessoas, empresas e instituições que têm enviado ajudas espontâneas, fazendo desta campanha, que ainda está a decorrer, uma das mais bem sucedidas. Desta forma, tem sido possível chegar a mais pessoas em São Vicente e nas outras ilhas. Gestos de solidariedade que despertam na representante da OMCV em São Vicente “arrepios” de emoção.
Ajudas estas que já atingiram 3 toneladas de alimentos e ultrapassaram os 200 mil escudos em dinheiro, que estão a ser distribuídos às famílias juntamente com as cabazes.
Sidneia Newton