A Organização das Mulheres de Cabo Verde (OMCV) assinalou ontem à tarde no MIndelo o Dia Internacional das Mulheres com uma roda de conversa em torno dos ‘Avanços e das Contribuições das Mulheres nos Diferentes Setores de Desenvolvimento’ do país. No debate estiveram profissionais e integrantes de diversas organizações espalhadas pelo país que trabalham causas ligadas a mulheres, onde vários assuntos foram levantados.
Em representação do Observatório da Cidadania Ativa e da Universidade Técnica do Atlântico, a investigadora Lia Medina, entre alguns pontos considerou que, na sociedade, a mulher tem que se esforçar mais do que os homens para ser valorizada e falou da necessidade de se formalizar a prostituição como profissão. “O contributo que trouxe foi de chamar a atenção para a prostituição que considero ser algo que deveria ser legalizado, de forma a proteger os profissionais do sexo, sendo homens ou mulheres, para terem estabilidade nas suas vidas e poderem descontar para que nas suas velhices tenham os seus suportes”, lançou esta representando da UTA esta sugestão ao debate.
Lia Medina constatou ainda que é preciso mais espaços de discussão descentralizados, para que mulheres e homens de diferentes proveniências possam dar seu contributo. “Tivemos contributos de peixeiras, donas de casa, psicólogas, empresárias e vimos que têm muito em comum e um dos quais é que a mulher cabo-verdiana tem bem clara as suas prioridades, nomeadamente com a família. Só que cada vez mais perdeu o seu suporte familiar: a cidade começou a aumentar de dimensão, a emigração, perdeu a sua rede de apoio e isso fez com que refletisse nas nossas crianças”, acredita Lia Medina.
Entre outros aspectos levados à conversa, esteve a exposição virtual e uma legislação que proteja as pessoas de humilhações e do bullying virtual e divulgação de imagens sem a permissão.
A jurista Lais Reis optou por abordar a questão de género, os valores e princípios, e como estão a ser tratados ao nível social, com consequências que acredita estarem na iminência de serem conhecidas. “Temos uma sociedade cada vez com menos valores sólidos, preocupada porque as as mulheres vão ganhando direitos e cada vez mais liberdades. Estão a sair do proibido e a entrar numa onda em que tudo é permitido e isso vai resultar em mais problemas sociais futuramente. Isto é, mais voltado mais virado para a camada jovem, porque quando se fala de género, que é bastante amplo demais, cada faixa etária tem os seus problemas”, frisou a jurista, para quem o foco deve ser virado para os jovens.
Entre outros assuntos, esta profissional, que atende com consultas jurídicas no gabinete de VBG da OMCV, acentua que a questão do empoderamento tem vindo a ser deturpada ao longo dos tempos. “Começamos a entrar numa era em que toda gente é descartável, porque pensa-se que empoderamento feminino é não precisar de nenhum homem e não é isso que o empoderamento transmite, mas é o que está a ser incutido nas pessoas.”
As novas tecnologias, para esta profissional, têm influência na perda de valores, uma vez que “antes, quando se tinha menos influência externa, conservava-se mais a tradição”, o que tem criado desequilíbrios estruturais sociais. “Não é que devemos ser conservadores ao extremo. Temos espaço para desenvolver e melhorar. Com a tecnologia, há espaço para imitar e reproduzir o que é produzido lá fora. Só que, o que é produzido lá fora, funciona naquela cultura em que se encontra inserido e quando pegamos aspetos estrangeiros para serem implementados na nossa cultura, já não funciona”, concluiu.