São Vicente acaba de perder uma figura carismática, conhecida por seu dinamismo, espirito alegre, estilo e jovialidade: Dona Pinga, de nome próprio Zeferina Isabel Fortes Haae, de 89 anos. Segundo familiares, D. Pinga vinha apresentando algumas queixas, nomeadamente de dores nos joelhos, um percalço que não a impediu de assistir o desfile do seu grupo carnavalesco de coração, Samba Tropical, mas o seu estado agravou-se e veio a falecer hoje em sua casa, em Alto de Mira-mar, São Vicente.
Em declarações ao Mindelinsite, Rita Alhinho definiu a mãe como uma “grande mulher”. “Era uma pessoa muito activa e estava sempre rodeada de pessoas, sobretudo jovens. Era algo que trouxe de Portugal, mais precisamente de Coimbra, para onde mudamos nos anos 70. Nesta altura, o meu irmão Carlos Alhinho, já falecido, jogava na Académica de Coimbra e quis ter a família por perto. Minha mãe praticamente adoptou os muitos estudantes cabo-verdianos que estudavam na universidade local. Fazia almoços, preocupava e ouvia os seus problemas”, conta.
Foi lá que os filhos – Carlos, Milu, Alexandre e Rita – cresceram e fizeram-se pela vida. Após a morte do marido, voltou a contrair matrimonio, agora com um cidadão holandês e regressou para Cabo Verde, mais precisamente para S. Vicente. Foi nesta altura que assumiu a gestão do Pic Nic, na Praça Nova. “Por conta da sua actividade, minha mãe continuou a conviver com jovens, agora no Mindelo. Em nossa casa, havia sempre pessoas a coser, bordar e fazer trabalhos manuais porque ela era muito dinâmica e inventava sempre algo para fazer”, prossegue.
Hoje, no dia da sua morte, Ritinha Alhinho prefere lembrar da sua mãe como uma mulher vaidosa, que gostava de estar sempre bem arranjada e que se destacava por seus chapéus e vestidos vistosos. “Muitas pessoas a identificavam pelos chapéus, de todos os estilos e tamanhos, que gostava de usar. Mas também por sua bondade. Era uma pessoa com quem podíamos contar sempre”, realça a filha, debulhando em lagrimas.
Companheira de “muitos carnavais” Luiza Morazzo, que foi presidente da Escola de Samba Tropical durante vários anos, lembra algumas peripécias vividas. Lembra, por exemplo, que o primeiro carro alegórico com que o grupo desfilou foi construído parte no Grémio, parte na casa de D. Pinga. “Desde então esteve connosco. Foi uma das homenageada por ocasião do 25o aniversario da Escola de Samba Tropical. Mesmo agora, doente, ela foi-nos ver desfilar. Era uma pessoa que vivia o Carnaval, mas que estava sempre pronta para qualquer qualquer actividade cultural.”
Luiza Morazzo destaca ainda a sua figura de dama, sempre de chapéu ou turbante na cabeça, que a tornavam uma mulher distinta. “Muitas pessoas a conheciam por causa dos seus chapéus. Aliás, depois que ficou doente e já não andava na rua, as pessoas perguntavam me sistematicamente por onde andava a minha amiga dos chapéus. Por isso é que digo que a sua morte é uma grande perda para São Vicente”, acrescenta, que aproveita para lamentar outra perda, Alex Évora, que tinha prometido fechar a rua da Galeria Zero Point Art em Alto Mira-mar e convidar os vizinhos para a festa de aniversário para D. Pinga. “Infelizmente, morreu primeiro”, pontuou.
O funeral de D. Pinga será esta segunda-feira, às 10 horas.