Os moradores do complexo habitacional Vila Monte 2 em Ribeira de Julião, pertencente à Imobiliária Fundiária e Habitat SA, reivindicam água canalizada nas casas. São cerca de 100 famílias que mudaram na nova vaga ocorrida em junho deste ano, após alteração das condições para aceder a estas casas por parte do Governo, mas ainda hoje aguardam a canalização de água por parte da Electra. Enquanto isso, são obrigados a pagar muito dinheiro por uma tonelada de água de autotanque ou então carregar latas do chafariz.
Por causa dos problemas de saúde, agravada por uma cegueira recente, Lóide Araújo Brito decidiu assumir a dianteira desta luta e apresentar-se como porta-voz dos novos moradores deste complexo habitacional com mais de 100 famílias. Conta que mudaram em junho, cerca de dois anos após as moradias do Vila Monte 1 terem sido distribuídas pela Câmara Municipal de São Vicente. São moradias dignas, com energia eléctrica, mas falta água canalizada. “Desde que viemos morar aqui temos vindo a contactar a CMSV e a Electra para ver se trazem um ramal para distribuição de água para o Vila Monte 2. Mas as respostas são muito vagas. Não estamos a ver uma luz no fundo do túnel.”
Para tentar minimizar os problemas, segundo Lóide Brito, os moradores recorrem aos vizinhos ou então deslocam-se ao chafariz de Chã de Marinha, que infelizmente nem sempre têm água disponível. “No meu caso é mais complicado. Sofro de artrite reumatoide e recentemente fiquei cega. Não consigo sair de casa para ir procurar água. Os moradores antigos nos ajudam, mas também eles enfrentam escassez de água, porque o abastecimento é feito a conta-gotas. Neste momento, tenho de pagar 5 escudos para alguém ir buscar-me cinco litros de água. Se for um autotanque, de duas em duas semanas, temos de pagar 1.200 ou 2.400 escudos por uma ou duas toneladas de água”, descreve a entrevistada.
Um gasto que Lóide lamenta porquanto, afirma, o dinheiro que estava a poupar para comprar um frigorífico, está a ser sugado pela falta de água. “Com água canalizada o custo seria menor. Não entendo o motivo de tanta demora se os vizinhos do Vila Monte 1 têm água canalizada. Não sou especialista, mas acredito que bastaria trazer o ramal até este edifício”, desabafa esta moradora que, não obstante as suas dificuldades físicas, pretende deslocar-se à Electra para ver se consegue desbloquear a situação. “Não tem cabimento fazer uma construção deste nível, com todas as comodidades, sem água canalizada. Penso que este trabalho deveria ter sido feito com antecedência para evitar este constrangimento.”
Neste momento, segundo Lóide Brito, o complexo Vila Monte1 e 2 formam uma comunidade expressiva que precisa, para além de água canalizada, de outros serviços básicos, nomeadamente segurança pública, ou seja de um posto policial e um posto médico. “Somos uma comunidade constituída por mais de 100 famílias. Em média, cada família é constituída por três pessoas, o que significa que somos cerca de 900 moradores, incluindo as crianças e jovens. É uma comunidade maior do que muitos existentes nas zonas mais recônditas. Precisamos de energia eléctrica, segurança e de um posto médico porque o centro da cidade fica a cerca de uma hora e meia a pé”, refere esta moradora, esclarecendo ainda que, quando foi fazer o contrato de luz e água na Electra, aceitaram apenas o de fornecimento de luz.
A desculpa, na altura, era que ainda eram poucos os moradores no complexo. Mas o número de moradores disparou e a situação continua a se arrastar, cada dia com uma justificação diferente. “É muito grave ter tanta gente a residir em um complexo, longe da cidade, sem água canalizada. Morei e cresci na Ribeira Bote, zona Libertada, numa rua antes da chamada ´Rua de Caca`. Se esta situação continuar, daqui a pouco teremos uma ´Rua de Caca 2`” pontua.
O Mindelinsite tentou por diversas vezes ouvir o director de Distribuição de Água da Electra na Matiota, através do telemóvel, sem sucesso, pelo que prometemos retomar o assunto, caso este retorne as nossas ligações.