Emiliano Tavares, marido de Cátia Cristina, funcionária da CMSV que caiu da caixa de um camião no dia 27 de janeiro e faleceu uma semana depois, ameaça fazer uma greve de fome à porta da CMSV. Sente-se enganado pelo autarca Augusto Neves que, diz, prometeu-lhe emprego durante a campanha para as Legislativas e depois recuou. Mian, como é conhecido, promete levar com ele os dois filhos de 13 e 3 anos de idade, mas estes não irão aderir à greve.
O esposo de Cátia Cristina, a mulher que morreu no dia 4 de fevereiro após cair da caixa de um camião dos espaços verdes da Câmara Municipal de S. Vicente em janeiro deste ano, acusa o edil Augusto Neves de lhe ter prometido emprego no período da campanha eleitoral para as legislativas e recuar na sua promessa após o MpD ser reeleito a 18 de abril. Emiliano Tavares, 36 anos, conta que foi contactado por Neves passado algum tempo depois do fatídico acontecimento, apresentou as suas condolências e prometeu “tudo” fazer para ajudar a família enlutada. Durante essa conversa, que decorreu na presença dos filhos da falecida, conta, Neves assegurou que iria contratar esse taxista para trabalhar como condutor da CMSV.
“Ele disse-me que a CMSV estava com falta de condutores, porque alguns foram reformados, e que eu seria contratado”, revela Tavares. Este afirma que foi apanhado de surpresa, mas que mesmo assim prometeu analisar a proposta e voltar a contactar Augusto Neves. Após conversar com os filhos, e ver as vantagens de estar empregado na CMSV, decidiu aceitar a oferta.
Assim sendo, conta, telefonou ao presidente da CMSV no dia 12 de abril e este respondeu que deveria levar-lhe os documentos exigidos para começar a trabalhar no dia 1 de maio. Mas, tratando-se de um feriado, ficou acertado que Mian Tavares pegaria no trabalho no dia 3. “Ele garantiu-me que ia falar com o responsável pelo parque de viaturas e estaria tudo acertado”, conta.
Porém, ao contrário daquilo que esperava, Neves deixou de atender as chamadas telefónicas do taxista assim que saíram os resultados eleitorais do dia 18 de abril e que confirmaram a vitória dos “ventoinhas”. Desconfiado, e porque o dia 3 estava já na esquina, Mian Tavares decidiu ir esperar Neves à porta da sua residência logo pela manhã. “Fui falar com ele e, com toda a sua frieza, disse-me que se eu conseguir dar expediente noutro emprego para avançar porque a Câmara estava com dificuldades em contratar mais gente. Ponto final!”, revela Tavares.
A notícia e a “forma fria” como Neves falou deixou Mian Tavares decepcionado e ao mesmo tempo revoltado. Segundo este pai de família, Neves deu-lhe a sua palavra e a retirou sem mais nem menos. Este lembra que nunca pediu emprego a Augusto Neves, foi o autarca que lhe fez essa proposta.
Para ele, o suposto comportamento do autarca deixa claro duas coisas: que se aproximou dele para evitar que o acidente mortal da esposa fosse usado como arma de arremesso político nas campanhas legislativas – “coisa que eu jamais permitiria por respeito à memória da minha mulher”; o segundo motivo, prossegue, seria um alegado acto de vingança de Neves pelo facto de Mian Tavares ser activista e ter participado na marcha a favor de Amadeu Oliveira durante as campanhas na cidade do Mindelo. Além disso, esse jovem lembra que chegou a invadir uma sessão da assembleia municipal e acusar o autaca de ser o responsável pelo acidente mortal por permitir que funcionários da CMSV fossem transportados na caixa de camiões sem a devida segurança.
“Sinto que Guste está a agir como se quisesse vingar-se de mim, mas ele não devia comportar-se comigo assim. Se ele me der um emprego está pura e simplesmente a ajudar duas crianças cuja mãe faleceu por causa da irresponsabilidade da CMSV”, enfatiza Tavares, que está desempregado neste momento. Daí perguntar como pode alimentar, vestir e tratar da higiene dos filhos.
À espera da justiça
Tavares lembra que o caso está entregue às mãos da justiça. Pode ser, diz, que o tribunal venha a decretar uma indemnização a favor das crianças, mas a sua grande questão é saber como os filhos vão sobreviver até lá. “No dia em que não tiver um grão de arroz para comer, pego nos meus filhos e inicio uma greve de fome à porta da Câmara Municipal”, ameaça Tavares, deixando claro que os filhos não irão participar na greve, mas que estarão presentes por ser o pai e o responsável por eles.
Mian Tavares e Cátia Cristina têm três filhos: uma menina de 19 anos e dois rapazes, sendo um de 13 e outro de 3 anos. O pai revela que a menina encontrou trabalho na CMSV faz pouco mais de um mês. Questionado se a moça é quem sustenta a casa neste momento, Tavares deixa claro que ela é uma jovem que começa a trabalhar e tem os seus planos e necessidades. Além disso, salienta, cabe a ele, enquanto pai, assegurar a sobrevivência da família.
O Mindelinsite tentou ouvir a reação do edil Augusto Neves. O jornalista enviou ontem uma mensagem para o Messenger pessoal do autarca expondo a situação, que foi vista pelo próprio. O profissional deste jornal deixou passar algumas horas e voltou a enviar uma segunda mensagem, a perguntar se Neves estaria na disposição de fazer o contraditório, mas a resposta foi o silêncio.