Marcha por Giovani dos Santos: Mindelenses “gritam” em silêncio por justiça e dignidade

Perto de mil pessoas, na sua maioria jovens e estudantes universitários, participaram na tarde de hoje numa marcha pacífica na cidade do Mindelo para pedir justiça para Giovani dos Santos e mais dignidade para com Cabo Verde. Foi uma caminhada silenciosa, mas no rosto dos presentes era visível a tristeza, e também alguma revolta, sobretudo por parte dos jovens que se revêm neste estudante de 21 anos, aluno do Instituto Politécnico de Bragança, que morreu 10 dias depois de ser brutalmente espancado no Hospital de Santo António, no Porto, onde se encontrava internado. 

A marcha partiu da Praça Dom Luís e passou pelas ruas de Lisboa e Baltazar Lopes da Silva, Praça Nova, Avenida 05 de Julho e terminou no mesmo espaço onde iniciou, onde o líder do movimento Sokols fez um curto pronunciamento, explicando as motivações da mesma. “Estivemos aqui para mostrar a nossa indignação perante este acto covarde, terrível, bárbaro, sem adjectivo possível para o classificar, onde morreu um jovem espancado, mas a resposta das autoridades, a começar por Cabo Verde, nossa terra, foi tardia. Estamos a exigir de todos que sejam mais céleres a tratar desta e qualquer outra situação do género que venha a acontecer”, pediu Salvador Mascarenhas.

Para o Governo de Cabo Verde, este activista exigiu uma postura de mais dignidade. “Somos pobres, mas somos dignos. Não podemos aceitar este tipo de coisas. Portugal e Cabo Verde são um povo irmão. Ninguém duvida. O problema é basicamente a nível das autoridades. Temos de ter uma relação de dignidade e de respeito mútuo. Isto é importante”, pontuou Mascarenhas, que aproveitou para lembrar o calvário dos nacionais para obter um simples visto para Portugal. 

Rostos jovens

No entanto, o momento era para Giovani e todos aqueles que já sofreram alguma agressão sem qualquer motivo, afirmou Mascarenhas, para quem situações do género já não podiam estar a acontecer, pelo que promete continuar a lutar para combater este mal. Mas, para isso, diz, é preciso uma atitude firme por parte das autoridades. “Ao manifestar a nossa cidadania activa, estamos aqui a mostrar que a sociedade está alerta. E, nós, enquanto Sokols, vamos servir sempre de amplificador das ansiedades da população. Vamos estar aqui de pedra e gritar para e pelo povo.”

Todos os presentes mostravam-se solidários e indignados com o que aconteceu com este jovem e, principalmente, com a forma como foi encarado pelas autoridades e a imprensa portuguesa. É o caso, por exemplo, de duas universitárias com quem Mindelinsite conversou. “Estou aqui porque o que aconteceu com Giovani podia acontecer com qualquer uma de nós. Tenho 20 anos e sou universitária em Cabo Verde. Como estudante sinto-me triste porque Giovani foi para Portugal com um sonho, que não conseguiu concretizar por causa desta tragédia, diz Natícia. 

Na mesma mesma linha, Lenísia Fonseca, 21 anos, diz-se revoltada e indignada com o que aconteceu com o jovem foguense. “Eu e o Giovani temos a mesma idade. Queremos apenas justiça para que a tragédia não se repita, até porque estão muitos outros jovens lá fora a estudar.”

Constânça de Pina

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