Junta de Saúde dá parecer “não favorável” para marido acompanhar esposa com cancro e em estado crítico em Portugal

António “Tonecas” Chantre está desesperado com a demora do Ministério da Saúde de Cabo Verde em atender um pedido urgente de acompanhante enviado pelos serviços de saúde em Portugal, para cuidar da companheira, cujo estado de saúde piora a cada dia. A esposa Albertina Fortes Reis, informa essa fonte, foi evacuada para tratar um cancro no colo do útero, mas, com o agravar do seu estado, precisa de cuidados especiais. Volvido mais de um mês desde que os documentos deram entrada na tutela aqui no país e, não obstante a sua insistência, ainda não tem qualquer resposta. Enquanto isso, a companheira está a sofrer, sozinha. Entretanto, informações avançadas ao Mindelinsite pela directora do gabinete da ministra de Saúde dão conta que a Junta Médica deu um parecer “não favorável” ao pedido de acompanhamento.

Tonecas conta que o sofrimento da esposa começou há mais de um ano em São Vicente, quando recebeu o diagnóstico de câncer no colo do útero. A companheira, Albertina dos Reis Fortes, 33 anos, tem dois filhos, sendo que o mais pequeno se encontra na cidade do Mindelo aos cuidados do cunhado. “Antes do diagnóstico, ela estava constantemente doente. Fez uma série de consultas e exames, até que recebeu a confirmação de que estava com cancro. Foi primeiro evacuada para Praia e, de lá, para Portugal”

Chegou a Portugal em novembro do ano passado e, de lá para cá, o seu estado de saúde só tem piorado. “Ela tinha iniciado o tratamento na Praia, mas, ao chegar a Portugal, esteve algum tempo à espera, sem qualquer tipo de medicação ou cuidados, o que complicou o seu estado de saúde. Neste momento ela está muito doente e sozinha. Foram as autoridades de saúde em Portugal que exigiram que ela tivesse um acompanhante porque ela está muito debilitada. Mal consegue falar ao telefone”, desabafa Tonecas, que se mostra revoltado com a demora das autoridades em emitir o despacho.

Pelas informações que tenho, os documentos em regime de urgência foram enviados de Portugal no dia 14 de fevereiro e deram entrada no Ministério da Saúde no dia 24. Desde então estou à espera de um despacho da tutela para agilizar a minha viagem. Já telefonei por diversas vezes, já abordei as Juntas de Saúde na Praia e no Mindelo e ambas se mostraram solidárias e dispostas a acelerar as demarches, logo que receberem os documentos que estão engavetados no Ministério da Saúde.”

Tonecas conta que também procurou o Instituto Nacional de Previdência Social, que prometeu despachar o processo tão logo os documentos derem entrada no serviço. “Todos se mostram solidários e dispostos a ajudar, mas nada podem fazer enquanto o Ministério da Saúde não despachar o processo. É frustrante porque sei que Albertina está a sofrer e precisa de ajuda. Ela sofre desmaios frequentes e tem de ser socorrida por estranhos e levada para o hospital. Sinto-me impotente. No estado em que se encontra, ela precisa de companhia e cuidados”, enfatiza o marido, que lamenta não ter condições financeiras para viajar com recursos próprios. “Se eu tivesse meios, já estava há muito tempo em Portugal porque sei que a minha companheira precisa de ajuda. E não sei até quando ela vai resistir. Está tudo nas mãos de Deus”, confessa o companheiro, que é pescador de profissão. 

Parecer desfavoravel da Junta de Saúde

Através da directora de gabinete da Ministra da Saúde, fomos informados que o parecer da Junta da Saúde de São Vicente é “não favorável” para acompanhamento de Albertina Fortes Reis nesta fase da doença. “O processo foi feito pela Junta de Saúde de São Vicente e, de facto, passou pelo gabinete da ministra da Saúde, onde foi homologado. Mas teve um parecer não favorável para acompanhamento. Infelizmente, é algo que a tutela não pode controlar“, lamentou Jéssica Ramos.

Questionada se já comunicaram ao companheiro de Albertina Reis a decisão, esta limitou-se a responder que a decisão terá de ser assumida pela autoridade onde o processo deu entrada, isto é, pela Junta de Saúde de São Vicente. Já quando confrontada sobre as razões deste parecer negativo, tendo em conta a degradação das condições de saúde da paciente, esta alega que a Junta tem os seus critérios. “É uma situação que aperta o coração de todos nós porque é a vida humana que está em jogo. Mas não cabe a nós do Ministério da Saúde contestar decisões médicas”, finaliza esta responsável.

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