Quatro jovens empreendedores, promotores do projecto Sofia Charters, entregaram na manhã deste sábado lanches e presentes às crianças do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) a bordo do veleiro Raffles Light, na Marina do Mindelo. Foi uma “operação de charme” para anunciar o arranque deste negócio de charters, mas serviu também honrar o proprietário da embarcação que sempre ajudou muitas pessoas pelo mundo, inclusive estes jovens com a cedência do veleiro.
Ao Mindelinsite, a responsável do iate Raffles Light explicou que decidiram abraçar as crianças do ICCA em São Vicente. “Fui lá na instituição e disse-lhes que queríamos entregar alguns brinquedos e oferecer um lanche às crianças por forma a tornar o seu dia especial e feliz. São crianças que passam por muitas coisas e, do meu ponto de vista, temos de dar o nosso melhor e partilhar aquilo que temos de melhor, neste caso, partilhar amor. O amor é essencial e muda o mundo. Estão a passar um bom momento”, disse Telma Sofia Dias.
Para esta jovem, o pouco que conseguem fazer, tendo em conta que estão a iniciar agora o seu projecto, consegue fazer a diferença para estas crianças. “Temos aqui um total de 15 crianças, dos dois aos 16 anos. Todos receberam um presente e puderam desfrutar de um lanche aqui conosco”, sublinhou Telma, que entende estarem assim a retribuir um pouco daquilo que receberam. “Foi nos dado uma oportunidade de desenvolvermos este negócio e, por consequência, tentar melhorar a nossa vida. O dono deste iate é um homem generoso, de nome Frank Virgintino, natural dos Estados Unidos.”
Sobre o Raflles Light, segundo a entrevistada, a sua história é interessante e, ao mesmo tempo, curiosa. “O iate foi roubado nas Antilhas e, durante dois anos, o seu dono andou pelo mundo à sua procura. Foi informado que este se encontrava em Cabo Verde, na Marina. Frank veio até aqui e encontrou o veleiro ancorado, mas completamente destruído. Inclusive estava a meter água e prestes a afundar. As pessoas que o roubaram venderam o seu recheio para comprar droga. O iate servia também para a prostituição e venda de droga.”
O propósito inicial de Frank, de acordo com Telma, era levar o iate para os Estados Unidos. Entretanto, apaixonou-se por São Vicente. “Ele dizia sempre que aqui vive-se em paz e que, apesar de as pessoas não possuirem bens materiais, vivem com um sorriso no rosto e são felizes. Tudo isso levou-o a ceder-nos este barco para realizarmos uma variedade de atividades de recriação. Frank retornou aos EUA, mas pensa regressar sempre que possível. Enquanto isso, ele nos transformou em empreendedores. Para além do negócio, queremos transmitir também a morabeza crioula, a alma cabo-verdiana”, comemora Telma.
Pretendem realizar viagens panorâmicas para visitantes – turistas e cabo-verdianos – dentro da Baía do Porto Grande, que é uma das mais belas do mundo, e contar a história da ilha, do país e do próprio iate. “Esta atividade de hoje marque o início do nosso negócio de charters. Logo mais a noite pretendemos organizar uma recepção para divulgar este nosso projecto e dar a conhecer a historia do iate. Estamos ainda na fase de lançamento deste projecto de empreendedorismo”, reforça esta jovem, que já trabalhava com turismo, enquanto recepcionista de um dos hotéis de São Vicente.
“Foi no meu trabalho que conheci o dono do iate. Foi ele que me contactou porque, segundo ele, gostou da minha simpatia e da forma como trato as pessoas. Frank perguntou-se se gostaria de trabalhar com ele nos meus dias de folga. Viria aqui limpar e cuidar do iate. Trouxe também a minha irmã, que trabalhava na lavandaria do hotel e mais dois amigos. Hoje este iate é a nossa paixão. Todos abandonamos o nosso trabalho e abraçamos este novo desafio.”
Confiante no sucesso deste empreendimento, Telma diz que é preciso arriscar e avançar, ainda que com receio, porque se tivermos fé tudo vai dar certo. “Estamos optimistas e muito felizes. Por isso queremos partilhar. Como diz Frank, sempre que é dado uma oportunidade para uma pessoa, esta deve arrastar outras consigo. Não podemos ser egoístas”, finaliza.