Os familiares de Fábio Júnior, jovem assassinado com uma facada no peito durante um desfile dos Mandingas no dia 2 de março de 2020, ficaram revoltados com a sentença do Tribunal de S. Vicente, que absolveu o arguido do crime. A juíza alegou, conforme informa Elisandro “Didá” da Luz, irmão da vítima, que não foram encontrados vestígios de sangue na arma apreendida pelo que faltaram provas irrefutáveis para condenar o suspeito Arlindo dos Santos, 19 anos, pelo homicídio.
Este argumento foi considerado insufiente por Didá da Luz, que, aliás, apresenta algumas “falhas” no julgamento que, diz, acabaram por beneficiar o suposto autor do homicídio. “Em primeiro lugar, o suspeito teve tempo suficiente para trocar a arma. Depois disseram que a faca não tinha tamanho suficiente para atingir o pulmão, mas um médico contrariou essa tese em conversa comigo. Este diz que, no caso de uma agressão do género, o pulmão reage indo ao encontro da ponta da arma. Além disso, a faca apresentada tinha 18 cms, com cabo incluído”, começa por elencar o irmão de Fábio Júnior.
Segundo Didá, a arma apreendida foi enviada para a cidade da Praia para perícia, mas negaram mandar a roupa que o suspeito trajava e que tinha vestígios de sangue. “Isto é estranho porque o arguido diz que foi agredido com um soco na boca e que a roupa ficou suja com o seu próprio sangue. Ora, sabemos que, para haver tanto sangue, era preciso uma agressão muito mais forte do que um simples soco”, contesta.
Didá afirma que o arguido assumiu a autoria do crime na Polícia Judiciária, mas mudou o seu depoimento no julgamento. “Na PJ admitiu que apunhalou o meu irmão, no Tribunal diz que em momento algum ‘sentiu’ que feriu alguém. Que foi obrigado a assacar a faca que levava consigo para afugentar pessoas que o queriam agredir”, faz notar esta fonte, que considera grave um jovem levar consigo uma arma branca para o “Enterro do Carnaval”, um evento que costuma envolver 15 mil pessoas em S. Vicente. A seu ver, isso demonstra a sua personalidade e a sua intenção.
Em conversa com o Mindelinsite, Didá revela que teve acesso a uma conversa no “chat” de um grupo de amigos do arguido e um deles deixou escapar que nunca iria dizer quem desferiu a facada. “Quem fez esse comentário justifica que não iria fazer isso porque a pessoa em causa é como que um irmão para ele”, conta Didá. Este assegura que repassou essa informação para a PJ, mas o autor dessa mensagem sequer foi arrolado como testemunha, o que estranha. “A ser verdade, significa que o autor do crime pode ser outra pessoa”, faz notar.
A “confusão” entre Fábio Júnior e Arlindo dos Santos, segundo Didá, foi motivada por um abraço que o irmão deu a uma garota, que, por sinal, era namorada do suposto agressor. “Se o meu irmão fez é porque são amigos e certamente não sabia que a moça namorava com outra pessoa”, considera. O certo é que o namorado não gostou dessa intimidade e houve briga, primeiro com socos e depois surgiu uma facada mortal, não se sabe desferida por quem.
Para Elisandro da Luz, ainda a história do assassinato do seu irmão está longe de acabar. Promete continuar a munir-se de dados e ajudar a colocar o autor do crime na cadeia. Aliás, assegura que vai haver recurso da sentença. Este diz que houve muitas falhas no julgamento e tem fé ainda numa reviravolta na apreciação do caso pela justiça.
O Mindelinsite abordou a advogada de Arlindo dos Santos para comentar a sentença e rebater as denúncias feitas por Elisandro da Luz. A jurista considerou por bem contactar os familiares do arguido e saber se teriam interesse em apresentar o contraditório. Feito o contacto, a advogada informou ao jornalista que os familiares do arguido preferem ficar em silêncio.