Docente suspeito de forçar relação sexual com aluna da ES Jorge Barbosa em S. Vicente

Um professor da Escola Secundária Jorge Barbosa em São Vicente está a ser acusado de tentar forçar uma relação sexual com uma aluna dentro de uma sala de aula. A suposta vítima, que tem 16 anos e está no 11º ano, ficou emocionalmente devastada, pelas informações recolhidas por Mindelinsite. Aliás, deverá receber a partir de hoje, acompanhamento psicológico. Jorge da Luz, delegado do Ministério da Educação em S. Vicente, confirma que foi informado ontem à tarde do caso pelo director da ESJB por telefone, mas espera reunir-se o mais breve possível com o responsável pelo estabelecimento para se inteirar dos factos. Entretanto, mal os rumores começaram a circular surgiram relatos de outras meninas que alegam também terem sido assediadas pelo mesmo professor. O Mindelinsite tentou contactar o docente em causa, mas as nossas chamadas caíram na caixa de correio.

Ao que apurou a investigação do Mindelinsite, a aluna terá sido “violada” esta segunda-feira dentro de uma sala de aula após os colegas terem abandonado o espaço. Segundo pessoas próximas, era prática do professor pedir ou sortear sempre um aluno para ajudar na arrumação da sala no termino de mais uma aula. “Desta vez coube a esta menina e tudo indica que o professor aproveitou para concretizar os seus intentos. Acho que o tal sorteio é uma estratégia que este vinha utilizando para assediar as alunas porque, mal se soube desta violação, várias outras resolveram denunciar os assédios que dizem vinham sendo vitima, muitas vezes sem mesmo darem conta. Falam de abraços inadequados, mãos bobas e palavras incorretas”, relata uma fonte ouvida por este diário, que diz acreditar ser esta uma pratica que se alonga por anos. 

“Falei com pelo menos cinco ex-alunas e que hoje estão com 20 anos e que relatam um padrão de comportamento deste professor. Acredito que logo que esta história vir a lume outras poderão ganhar coragem para falar. Alegam que ficaram com receio porque o docente em causa é tido como uma pessoa responsável e com um comportamento irrepreensível. Também é uma pessoa bem conhecida da sociedade mindelense, graças as actividades que desenvolve sobretudo no campo da música”, afirma esta nossa fonte, que se mostra revoltado porque, diz, vão tentar encobrir este caso, à semelhança do que aconteceu no passado. “Felizmente para estas meninas, foi apenas assédio. Neste caso, tudo indica que a menina foi violada dentro de uma sala de aula.”

Indignada também está uma outra fonte ouvida por este jornal, que teme que a denúncia feita por esta aluna seja usada para a penalizar, tendo em conta que, afirma, a pessoa em causa é considerada um exemplo de cidadão por ser ligado a igreja e ter uma forte intervenção social em São Vicente. Aliás, frisa, pelas informações chegadas ao seu conhecimento, o professor desde ontem tem estado a telefonar para alguns colegas e alunos a dizer que estão a criar factos e inventar calunias para o incriminar. “Esta família foi destrocada. Ontem estiveram durante toda a tarde no Tribunal da Comarca de São Vicente. Foram munidos inclusive de relatório médico para atestar a violação. A menina precisa de acompanhamento psicológico. Mesmo assim, não dúvida que tentem manipular os factos por forma a condenar a vítima”, desabafa. 

Desespero dos familiares

Desesperado e impotente. É este o estado de espirito do irmão da alegada vítima. A residir no estrangeiro, este não sabe o que dizer ou fazer para confortar a irmã e os pais. “Estou longe e não posso fazer nada. A minha irmã tem 16 anos, mas, quando saí de Cabo Verde, ela era ainda uma criança de apenas 13 anos. O que posso garantir é que ela nunca iria se envolver com um professor” assegura esta nossa fonte, que preferimos por agora não identificar para que as pessoas não possam chegar à suposta vítima. “Tenho consciência de que daqui a pouco as pessoas vão começar a dizer que ela estava a namorar com o seu professor, o que não era o caso. Conheço a minha irmã e confio na educação que recebemos. Não acredito que iria se envolver com o docente.”

Esta fonte garante que, das conversas que teve com a mesma desde que soube do ocorrido pode perceber que a irmã está frustrada e com o estado de espírito muito abalado. “Pelo que percebi das nossas conversas é que ela está desapontada e frustrada. O mais grave é que eu e o professor somos conhecidos, inclusive estamos em um grupo no Facebook. Ele mesmo enviou uma mensagem no grupo a pedir orações porque está a ser acusado de estupro, mas alega ter provas de que isso aconteceu. No mesmo grupo, respondi-lhe que, se tem provas, que as vá entregar à polícia. Não precisa ficar à espera de ser detido para se defender”, desabafou o irmão, para quem o docente está apenas a tentar se justificar, o que acaba por ser perigoso.  

Comportamentos inapropriados 

Três ex-alunas do referido professor abordadas pela nossa reportagem relatam que foram alvo de assédio do referido docente. Todas eram menores de idade, mas hoje já estão na fase adulta. Em declarações a este jornal, contam que eram abraçadas de forma íntima pelo docente e que ele costumava manter conversas “inapropriadas” com elas. “Eu tinha 13 anos quando isso começou. Eu era ingénua e não tinha a noção do que se passava. Hoje vejo isso claramente, que ele estava a ultrapassar a barreira que deveria existir entre o professor e a aluna”, comenta FG. A fonte acrescenta que algumas vezes o professor fez questão de a levar à sua casa após as aulas e de mãos dadas. Com o passar do tempo, FG passou a ver as coisas de forma diferente e decidiu abandonar as aulas de música.

Esta foi também a decisão tomada por MD, que passou a ser aluna do referido professor aos 17 anos de idade. Mas não demorou muito tempo para começar a ser assediada. “Eu vinha de uma situação parecida vivida na Escola Técnica e não permiti que as coisas fossem mais além e decidi abandonar as aulas”, revela MD.

Questionada se pensou alguma vez denunciar o caso à direção da Escola Jorge Barbosa, esta jovem diz que isso não lhe passou pela cabeça porque estava claro para ela de que não iria dar em nada. “Eu sentia que não seria levada a sério e acabaria por ser ridicularizada ou até ainda penalizada. Digo isto porque eu e as minhas colegas sabíamos de outros casos de assédio e víamos os professores circulando como se tudo estivesse normal. Além disso, sempre que uma aluna surgisse com uma saia curta ou uma blusa que destacasse os peitos era enviada para casa para trocar de roupa”, conta MD. Para ela era evidente que as alunas seriam vistas como as culpadas de eventuais assédios e que denunciar seria como que deitar água em balaio.

Ao saber do suposto caso de violação sexual, MD confessa que ficou chocada. A chorar, assegurou que a culpa dessa ocorrência é das sucessivas direções do estabelecimento. Como disse, no tempo em que estudou na “Jorge Barbosa” era evidente que nenhum professor seria responsabilizado, mas sim as alunas. E isto levou-as a viver as suas experiências caladas, quando, diz, se tivessem tido a liberdade de revelar os assédios esse e outros casos não teriam acontecido. Muitas vezes, adianta, as estudantes conversavam sobre esse assunto entre elas, mas nunca tinham a coragem de ir mais além por medo de represálias.

Uma outra ex-aluna do referido professor conta uma experiência muito parecida com a das colegas. Segundo AR, as alunas tinham muita confiança no professor, que era visto como um “rapaz bonzinho, menino de igreja”. “Nunca me passou pela cabeça que ele seria capaz de violar uma mulher, ainda mais uma aluna”, admite.

Essas três meninas-mulheres afirmam que ficaram com marcas emocionais dessa experiência. Todas sentiram-se de tal forma incomodadas com o alegado comportamento do docente que acabaram por abandonar as aulas de música. E, por estranho que pareça, o professor nunca chegou a perguntar a duas delas sobre o motivo de terem desaparecido das aulas. Uma delas assegura que estará disposta a ir testemunhar no tribunal, caso seja preciso. 

Averiguações em curso

O director da ESJG garantiu ao Mindelinsite que a escola já está ao corrente da denúncia de violação e está a fazer averiguações. “Chegou ao nosso conhecimento as suspeitas e já estamos a fazer averiguações. O que posso confirmar é que temos denúncias e alegações e estamos a fazer o nosso trabalho. Logo que as averiguações forem concluídas iremos seguir os trâmites legais, ou seja, encaminhar o auto para a Inspecção Escolar e para a delegação do Ministério da Educação. São eles que vão tomar as devidas providencias”, informa Aricson Delgado. Este garante que a direcção da escola está a ouvir tanto os alunos como todos os visados.

Este deixa claro, entretanto, que caberá à delegação do ME prestar os devidos esclarecimentos sobre este caso. Questionado se o docente continua a leccionar na escola, Aricson Delgado disse estar ainda estupefacto com a informação, por se tratar de um profissional muito cumpridor. “Ainda estamos a trabalhar com alegações e sabemos que as autoridades judiciais também estão a fazer o seu trabalho. Enquanto isso não tenho qualquer poder que me permita avançar com qualquer medida restritiva contra o professor. Por outro lado, é bom que fique claro que a única entidade que poderá decidir pela suspensão é a delegação ou a Inspecção da Educação em São Vicente”, avança.  

Do lado do Delegado do ME este limitou-se a confirmar que foi na tarde de ontem informado, via telefone, pelo director da Escola Secundária Jorge Barbosa da denúncia, mas que espera reunir-se pessoalmente com Aricson Delgado para se tentar inteirar de mais detalhes pelo que, nesta fase, este seria a pessoa indicada para falar com este jornal. Jorge da Luz mostra-se, entretanto, constrangido com o caso que, afirma, apesar de ser pessoal, acaba por atingir a imagem da escola em causa e toda a classe docente. 

A nossa reportagem entrou em contacto com o Comandante da Polícia Nacional, mas João Santos assegurou ao Mindelinsite que a PN não tinha conhecimento do caso. Informado que agentes da Polícia Nacional foram vistos no estabelecimento de ensino, Santos assegurou que a PN está em permanente contacto com esses espaços no âmbito do programa Escola Segura.

De referir que este não é a primeira denúncia de suposto envolvimento entre um docente e uma aluna da ESJB. Uma outra ocorrência chegou ao conhecimento do público há alguns anos, mas acabou por ser resolvido por “debaixo do pano” com uma aposentação compulsiva do professor, apenas com penalização a nível do salário. 

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