Comunidade de Iraque ganha “Um brecinha”, espaço de cidadania, participação e brincadeiras

Iraque, um dos bairros periféricos de São Vicente que fica na zona da Ribeira de Julião, ganha a partir de hoje um espaço social de participação, cidadania e brincadeiras denominado “Um brecinha”. Trata-se de uma iniciativa da comunidade, que se mobilizou para criar este espaço de acolhimento das crianças enquanto as mães se ocupam na busca da sua sobrevivência, e contou com apoio da Morabi, pessoas individuais, empresas e parceiros.

Ao Mindelinsite, Fátima Alves, coordenadora Morabi Região Norte, explicou que “Um brecinha” é um espaço social de participação, cidadania e de brincadeiras, tão significativas para as crianças, pois auxilia no desenvolvimento, principalmente quando estas deixam de ser vistas apenas como passatempo e tornam-se estratégias que integram a aprendizagem e o lúdico. É um espaço, diz, onde brincar adquire outro significado.

“Este espaço vai acolher várias actividades comunitárias, mas o seu foco são as crianças. É aqui que elas vão desenvolver as suas competências em todos os aspectos, morais, educacionais, culturais, através de pessoas que queiram partilhar os seus conhecimentos e saberes em forma de voluntariado”, referiu, deixando claro que o espaço é de todos e para todos os que quiserem colaborar com este bairro desprovido de tudo.

Em parceria com a Associação Bons Amigos, que tem experiência na área do pré-escolar, pretende-se que no espaço funcione um polo para acolher as crianças do bairro, que não conseguem frequentar o jardim desta instituição por causa da distância. “O Iraque é um bairro informal, composto por casas de tambor. A Morabi tem vindo a actuar aqui há algum tempo, num trabalho conjunto com a ONU Habitat e a Camara Municipal de São Vicente. Estamos a apoiar a população na criação de uma associação para poderem participar no Planeamento Participativo da sua localidade”.

Foi neste contexto que surgiu a necessidade de ter um pequeno espaço para acolher as crianças para não ficarem a deambular, enquanto os pais estão ocupados na luta por sobrevivência.

“Muitas vezes os pais destas crianças ficam na lixeira, outros trabalham como empregadas domésticas na cidade ou dedicam ao comércio ambulante e as crianças ficam desprotegidas. Foi por isso que criamos este espaço. Mas, como Iraque é um bairro informal, nunca poderia ter uma estrutura formal. Decidimos então improvisar para que as crianças poderem ter assegurado algum direito. Aqui ocupam o seu tempo e brincam com alguma segurança”, assegura Fátima Alves.

A “entrega” de “Um brecinha” à esta comunidade acontece por volta das 11 horas e a coordenadora do Morabi espera levar para o bairro muitos mais parceiros, caso por exemplo do Ministério da Educação e ICCA, na expectativa de poderem contar com o apoio para a continuidade do projecto. “Este foi um trabalho em conjunto. As mulheres e mães desta comunidade participaram na remodelação. Vamos ter aqui, no período de manhã, pré-escolar e, à tarde, as demais faixas etárias podem desenvolver as suas actividades de dança, línguas e outros. Também serve para outras instituições que queiram trabalhar na comunidade, caso do ICCA. Este é um espaço multifunções e multiuso. Tem lugar para as crianças, um espaço para a associação atender os seus membros, casa de banho, entre outros.”

A entrega deste espaço, que também é uma brincadoteca, coincide com o Dia da Criança Africana, 16 de junho. Foi neste dia, em 1976, que se registou o massacre do Soweto, em Joanesburgo, na África do Sul. Este ano de 2021 o tema escolhido para marcar esta efeméride é Direito à “Participação: Deixar as Crianças ser Vistas e Ouvidas”.

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