A comerciante Evanilda de Sousa pretende levar a Polícia Nacional a tribunal por causa de uma alegada agressão física cometida por um agente na Esquadra de Fonte d’Inês, em S. Vicente. Segundo essa jovem de 28 anos, um policial agarrou-a pelo pescoço na noite de Natal, atirou-a para o quintal do edifício e desferiu-lhe duas bofetadas na cara, um acto que ela considera abusivo, pelo que promete entregar o caso a um advogado.
Tudo começou na praça Dom Luís, onde ela e um amigo estavam a vender frutas e hortaliças na rua. “Deixei o meu amigo com a minha tina o tempo suficiente para entregar uma papaia no Café Mindelo, quando regressei ele disse-me que a Polícia passou por ali e chamou-lhe atenção porque estava a vender na rua. Fiquei com medo e disse-lhe para regressarmos à casa, até porque já eram sete da noite. Assim que íamos sair do local, apareceram os agentes. Tentamos apressar os passos, mas ouvimos uma ordem para pararmos. Entretanto, um outro rapazinho saiu a correr com a sua venda, mas foi perseguido e detido”, revela “Vá”, como é conhecida.
Ao serem abordados, prossegue, um dos agentes mostrou-se irritado porque momentos antes tinha dado ao amigo ordens para parar de vender na rua. Nesse instante, diz Vá, explicou ao policial que o amigo estava apenas à espera dela para regressarem à casa. Mas, pelos vistos, essa versão não serviu de nada. Como diz, o dito agente mandou que recolhessem os pertences porque iam passar a ceia numa cela para “aprenderem a respeitar a autoridade”. “Fiquei triste e preocupada”, confessa. Pelo rádio, o PN chamou uma viatura de apoio para recolher os transgressores com as suas tinas e um carrinho-de-mão.
Ciente de que iria passar a ceia de Natal detida, Vá perguntou ao referido agente se podia telefonar a um familiar. “Ele respondeu com um claro ‘não’ e disse-me para entrar no carro. Entrei, mas deixei a minha tina no chão. Ele perguntou-me se não ia apanhar a tina, respondi-lhe que já não estava com forças. Aproveitei e reforcei que eu estava a ser presa que nem uma criminosa, sem fazer nada de mal, enquanto os bandidos verdadeiros andam por ai à solta”, revela Vá, para quem essa atitude terá enfurecido ainda mais o policial.
Metida na parte traseira do carro da PN, a jovem terá aproveitado para telefonar ao pai. Enquanto falavam, um outro agente ouviu a conversa e arrebatou-lhe o móvel. Mais uma situação que, segundo Vá, terá aumentado a “fúria” do policial que lhe deu voz de prisão. “Senti que ele queria ‘lombar-me’. Por isso, assim que o carro parou em frente à Esquadra, corri logo para a sala-de-espera.”
Mas essa estratégia não lhe terá servido de nada. Segundo Vá, o referido agente agarrou-lhe pelo pescoço e empurrou-a para o quintal. “Aguentei para não cair e bater com a cara no chão”, realça. No quintal, prossegue, o agente desafiou-a a continuar a falar como fazia na rua. “Fiquei calada, aí ele desferiu-me duas bofetadas na cara. Foi com tanta força que sofri cortes na boca e fiquei com dores no pescoço”, denuncia a comerciante, que ficou detida cerca de uma hora. Uma vez libertada foi para o Banco de Urgência do HBS fazer curativos. No estabelecimento ficou a saber que precisava de um guia de tratamento para o efeito, uma vez que foi agredida.
Após aguardar algum tempo pela chegada de um agente da PN, é atendida por uma policial. Esta, diz, começa a preencher o documento e a dado momento pergunta-lhe quem a agrediu. “Respondi-lhe que foi um agente PN. Para meu espanto, ela rasgou o papel e disse-me que, se fui agredida, é porque fiz algo de errado, pelo que não ia passar-me nenhum guia”, conta.
Sem nada mais a fazer, Vá regressou à Esquadra de Fonte d’Inês para pedir o guia. Nesse local aproveitou para tentar saber o nome do agente que a agrediu, mas de nada valeu os seus esforços. Inconformada com tudo o que se passou com ela, apesar de reconhecer que é proibida a venda ambulante, resolveu divulgar o caso na comunicação social. Para ela, houve abuso de poder da PN, pelo que vai processar essa instituição policial.
Abordado por Mindelinsite, o Chefe da Esquadra de Fonte d’Inês garantiu a este online que essa alegada ocorrência não consta de nenhum relatório, pelo que não estava a par do sucedido. Adiantou ainda que as diversas unidades da PN – Corpo de Intervenção, Trânsito e Piquete – costumam levar pessoas detidas para essa cela, por mais esta razão fica difícil saber neste momento o que se passou. Assim sendo aconselha a vítima a procurar a referida Esquadra e ajudar na identificação do suposto agressor.
Kim-Zé Brito