Casal atribui culpa ao HBS por morte de bebé 9 dias após nascimento

O casal Edvalter Sousa e Marly Rodrigues atribuiu culpa ao Hospital Baptista de Sousa pela morte da bebé Kylie Sousa no dia 19 de Abril, nove dias apenas após o seu nascimento. Para pai e mãe, o falecimento da menina foi provocada por actos “negligentes” que começaram no dia anterior ao parto e continuaram nos subsequentes. É que, apesar dos sintomas que a filha apresentava, dizem, teve alta e, mesmo depois de ser levada de urgência para o hospital, não mereceu a devida atenção. “Um médico chegou até a rir-se na nossa cara. Ele disse que a nossa filha não tinha nada, que isso era apenas preocupação de pais de primeira viagem (inexperientes)”, diz Edvalter Sousa, 29 anos.

A mãe Marly Rodrigues conta que o parto foi marcado para 2 de abril mas, como não estava a sentir nenhum sinal do nascimento, procurou os serviços de saúde materno-infantil no dia 9 e foi encaminhada para o hospital para o parto ser induzido. “Deram-me um comprimido por volta do meio dia, passou algum tempo, mas não senti nada. Pensei até que me iam dar outro comprimido. Por volta das cinco da tarde, a bolsa de água arrebentou e passei a sentir muita dor. Mas eu não apresentava dilatação e disseram-me para aguentar mais algum tempo”, diz a jovem de 24 anos.

Segundo Marly Rodrigues, passou a noite inteira cheia de dor, entretanto ignorada por uma enfermeira, que, em vez de a ajudar, passava o tempo “consultando” o seu telemóvel. “Pedi-lhe algumas vezes para chamar o médico, ela negou e chamou-me de chata”, revela a jovem. Para tentar aliviar a dor, prossegue, foi tomar um banho. Mas, ao entrar no banheiro, sofreu uma queda e voltou a pedir a enfermeira para chamar o médico. “Ela respondeu que inventei essa queda para que fosse buscar o médico”, afirma.

Na manhã do dia seguinte, prossegue a jovem, a médica de plantão foi despedir-se dela e entraram novas enfermeiras, entre as quais uma estagiária. “Estas sim, e especialmente a estagiária, deram-me a devida atenção”, reconhece. 

Por volta das 11 horas, a gestante já tinha dilatação suficiente e deu à luz 50 minutos mais tarde. Ela reparou, entretanto, que a filha não chorou ao nascer, como normalmente as crianças fazem. Quis saber o motivo e foi informada que a menina nasceu com o cordão umbilical à volta do pescoço. Soube ainda que ela estava fraca, mas que foi reanimada e se encontrava bem. “Ela mamava e dormia muito. Parecia estar normal. Só chorava quando sentia fome ou tinha a fralda suja”, acrescenta.

Só que a bebé mudou o seu comportamento depois. Deixou de querer mamar e passou a ficar muito “agitada”, dando tiques como se estivesse “assustada”. Estes tiques tornaram-se cada vez mais intensos e constantes e passou a mamar muito menos. “Ela chorava muito e só queria dormir. Talvez fosse a forma para aliviar a dor que estava sentindo”, comenta a mãe. Segundo Marly Rodrigues, sempre que mostrava preocupação com o estado da filha, as enfermeiras diziam que tudo estava normal e que certamente a bebé estava com cólicas. 

Apesar dos sinais, a criança recebeu alta, mas permaneceu no hospital porque a mãe ainda estava internada. A partir desse momento, diz Marly Rodrigues, a sua filha deixou de receber atendimento.

Alguns dias depois saiu do hospital com a filha. No entanto, a criança continuava a negar mamar, a chorar e dava “sustos” mais frequentes. Além disso ficou com o corpo totalmente “relaxado” – sem forças – e com o rosto pálido. Sintomas que preocuparam os pais. Estes repararam, entretanto, que a criança já começava a tornar-se pálida no hospital. “Comparamos fotos que tiramos quando ela estava no hospital com as mais recentes”, explica Edvalter Sousa. 

Preocupados com a saúde da menina, os pais resolveram leva-la para o hospital. ”Dissemos a um médico que ela parecia estar pálida e riu-se na nossa cara. Disse que isso era preocupação de pais de primeira viagem e que a nossa filha estava normal. Mediu-lhe a temperatura e pediu um raio-x, que não acusou nada. Nesse interim, uma enfermeira tentou que a nossa filha mamasse, mas não foi possível. Nem mesmo através de seringa. Ela ficou logo preocupada”, conta Edvalter Sousa. Conforme este pai, a enfermeira decidiu que a menina ia ficar internada e que ela não iria permitir que saísse do hospital como estava.

A criança foi submetida a teste rápido para detectar a Covid-19 – que deu negativo – e dez minutos depois ela estava ligada a soro e oxigénio. Entretanto, diz o pai, a sua temperatura começou a cair e a criança passou a tremer. Apesar disso, sempre que perguntava o que se passava ninguém lhe dava uma resposta. “Pressenti que algo muito grave estava a acontecer.”

No dia 19 de abril, algum tempo antes da criança falecer, os pais ouviram uma médica dizer para uma colega que a bebé tinha o rim danificado. Depois ficaram a saber que a criança apanhou uma infeção no sangue que afectou o funcionamento de alguns órgãos. Antes de falecer, segundo Marly Rodrigues, a filha teve três paragens cardíacas, foi reanimada, mas não resistiu à quarta. 

Vítima de sepse neonatal?

Os pais têm fortes desconfianças que a filha morreu de complicações associadas à sepse neonatal. A doença pode atacar um recém-nascido e provocar um conjunto de sinais e sintomas resultantes de uma grave infeção no sangue. Ela é considerada uma causa importante de morbidade e mortalidade entre recém-nascidos.

“Acreditamos nisso pelos sinais e sintomas que ela apresentava e porque escutamos uma médica dizer a outra que a nossa filha apresentava um quadro séptico. Fomos investigar na internet e vimos que a nossa filha estava com os sintomas próprios dessa doença”, conclui Edvalter Sousa.

Este pai enfatiza que a gravidez decorreu na normalidade. As coisas começaram a complicar, no seu entendimento, a partir do momento em que a bolsa de água abriu. Lembra que isso ocorreu por volta das 17 horas de 9 de abril e o parto só aconteceu pelas 11 horas do dia seguinte. Para ele, a criança passou muito tempo a sofrer e, como depois souberam, o cordão umbilical deu-lhe uma volta ao pescoço. 

Dois dias após nascimento, prossegue, a criança recebeu alta. Ficou mais alguns dias no hospital porque a mãe estava a fazer um tratamento com antibióticos. Saíram depois, mas as coisas começaram a complicar: a criança deixou de mamar, chorava muito, o rosto tornou-se pálido e dava tiques cada vez mais intensos e constantes.

À espera da autópsia

Inconformado com a morte prematura da filha, Edvalter Sousa contactou a direção do HBS a fim de saber ao certo o que se passou. Encaminhado para o director clínico, conta, ficou a saber que quando um bebé recebe alta deixa de ser alvo de atenção, mesmo estando no hospital porque era como se já estivesse fora do estabelecimento ao cuidado dos pais. Quanto às causas da morte, ficou a saber que o hospital fez uma autópsia, mas que estavam ainda a aguardar os resultados. Decorridos vinte dias, frisa, ainda não foi divulgado o resultado desse exame, pelo que começa a ter sérias dúvidas sobre a veracidade dessa informação.

Abordada pelo Mindelinsite, Ana Brito, directora do HBS, confirma que foi feita uma autópsia para apurar a causa da morte da bebé. Enfatiza, no entanto, que a autópsia envolve etapas que demoram o seu tempo. “São precisos estudos e podemos aguardar até um mês para obter os resultados”, explica a médica, lembrando que não se trata apenas de ver o corpo e pronto.

“Sei que os pais querem saber o que se passou e que pode haver uma certa ansiedade sobre o resultado da autópsia. O inquérito está a andar e vamos contactar a família assim que estivermos na posse do resultado”, assegura Ana Brito.

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