Arquiteta quer contribuir no desenvolvimento de casas rentáveis para famílias vulneráveis de SV

 A arquiteta Bertânia Almeida, natural de São Nicolau, mas com residência e escritório de arquitetura em São Vicente, quer ajudar no desenvolvimento de projetos de carácter sustentável para famílias vulneráveis da ilha do Monte Cara, em parceria com outras instituições de cariz social. Ao Mindelinsite, Bertânia Almeida explica que este projeto social tem como base a sua tese de mestrado defendida em 2009 no Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra, em Portugal, com abordagem sobre a problemática do realojamento social e do défice habitacional em Cabo Verde. A ideia é, através do seu escritório de arquitetura, desenvolver projetos adaptados às reais necessidades das famílias, sob uma perspetiva de transformação da própria casa num investimento lucrativo.

– Por Constânça de Pina –

De acordo com a arquiteta, a sua vontade foi sempre encontrar condições para materializar o projeto que teve início nas ideias lançadas na sua tese de mestrado, passando duma abordagem mais teórica para a prática. Porém, foi adiando este projeto até ao momento em que sentiu que reunia condições para tal. Trabalhou algum tempo em Santo Antão, depois esteve em Angola, mais tarde na ilha do Sal e de seguida na cidade da Praia. “Precisava assentar as bases para trabalhar neste projeto com mais dedicação. Foi só depois que criei a minha empresa, em 2020, que considerei estarem reunidas as condições para avançar com este projeto. Comecei, então, a definir o que pretendia”, indicou.

O projeto consiste, basicamente, em, através do seu gabinete de arquitetura B Studio e juntamente com parceiros, identificar os casos mais urgentes em termos de necessidade de uma habitação condigna para depois fazer a seleção. A escolha recaiu, nesta primeira fase, numa família da zona de Espia, que reside numa casa de lata. “Vamos arrancar com este projeto selecionando esta família que possui um terreno legalizado onde está implantada a sua casa feita de chapa. A família tem um projeto de arquitetura de um duplex onde está previsto a área social (cozinha, sala comum e instalação sanitária) no rés-do-chão e área privada (quartos e casas de banho) no piso de cima, mas, conversando com a proprietária, chegou-se à conclusão que o projeto deveria ser alterado para atender melhor às necessidades mais urgentes desta família. Estamos a falar de uma mãe com fracos recursos financeiros, com três filhos, dividindo a mesma casa”, detalha.

Pela sua experiência, diz Bertânia, dificilmente esta família terá condições de concretizar o projeto. É aqui que entra a B Studio. “Auscultando a família para identificar quais as suas reais necessidades, elaboramos um novo projeto de arquitetura priorizando aspetos como a sua situação financeira e o número de pessoas a habitar o espaço. Este Projeto Social tem o nome ‘CasaCasa’, precisamente, por isso, porque cada família e cada casa tem uma necessidade diferente. Cada caso é um caso. Entendo que não se pode fazer projetos sem dar primazia à auscultação das pessoas que vão habitar a futura moradia”, afirma Bertânia Almeida, para quem o sistema convencional de atribuição de casas, geralmente, não enfatiza este aspeto que é tão importante na obtenção de resultados mais satisfatórios como a melhoria da qualidade de vida dos beneficiários. “O nosso objetivo principal, com este projeto, é criar condições para maximizar as oportunidades que cada espaço pode oferecer, ou seja, tirar o melhor proveito dos ambientes, trabalhando além do aspeto físico na atribuição de casas. Uma casa não tem que ser apenas uma despesa. Pode ser, também, uma fonte de rendimento.”

Relativamente à família identificada, uma vez que é mais fácil juntar esforços para construir uma casa de apenas 1 piso do que construir um duplex e como forma de rentabilizar melhor a área, a B Studio propôs um novo projeto que teria, neste caso, dois pisos independentes (apartamentos do tipo T1 no rés-do-chão e no piso de cima) sendo que no rés-do-chão habitaria os beneficiários. No futuro e consoante as condições, a família poderia construir o piso superior para residir ou para alugar, abrindo, aqui, a possibilidade de ter uma outra fonte de renda. “Esta nova planta prevê a construção de um quarto duplo, para a mulher e uma filha de 13 anos. Na escolha dos móveis, está previsto no projeto, também, um sofá-cama para os outros dois filhos que, em breve, poderão assumir as suas responsabilidades.”

Para atender a este Projeto, a B Studio lançou uma campanha de angariação de fundos com a finalidade de conseguir recursos financeiros ou material de obra para a construção da casa. Sobre os critérios de seleção da primeira família, a arquiteta informa que foi sinalizada através da Organização das Mulheres de Cabo Verde, sendo um dos parceiros deste projeto. “Entendemos que a OMCV conhece melhor a realidade da ilha porque já trabalha no terreno. Foi assim que chegamos a esta família. Fizemos uma visita na zona de Espia e percorremos o bairro. Ficamos a conhecer a vida de luta desta mulher e sensibilizamos com a sua história, mas o objetivo é estender o projeto, abarcando mais famílias.”

“Estamos a iniciar com esta família para que se possa ver que este é um projeto viável e que o nosso propósito é ajudar as pessoas a encontrar soluções mais rentáveis para os seus projetos de casa, afim de alcançarem melhor qualidade de vida. Existem pessoas, por exemplo, que desejariam explorar um negócio próprio. Com um projeto de arquitetura de uma casa voltada a esta preocupação, pode-se organizar os ambientes e obter resultados satisfatórios. Um artesão, por exemplo, sentiria necessidade de ter um atelier em casa, poupando, desta forma, uma renda que pagaria fora. O projeto, neste caso, estaria sendo direcionado para acolher este tipo de espaço, resultando, assim, como foi enfatizado, num projeto flexível e adaptável às necessidades e aspirações manifestadas por cada morador.”

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