UCID reconhece valor simbólico do Monumento à Democracia, mas diz que momento escolhido levanta questões de oportunidade e prioridade 

A União Cabo-verdiana Independente e Democrática reagiu à publicação no Boletim Oficial da alocação de 150 milhões de escudos para a construção do Monumento à Democracia e Liberdade na Rotunda Achada Grande Frente, ilha de Santiago, reconhecendo o valor simbólico do escultura, mas afirma que o momento escolhido para realizar despesa levanta sérias questões de oportunidade e de prioridade governativa.

Ao Mindelinsite, o presidente da UCID, partido da oposição com assento parlamentar, reagiu à recente publicação em Boletim Oficial da alocação de 150 milhões de escudos para a construção de um Monumento à Democracia, dizendo que, em primeiro lugar, não pode deixar de reconhecer o valor simbólico do monumento que celebre a democracia cabo-verdiana, uma conquista histórica do nosso povo, alcançada com coragem e determinação.

Segundo João Santos Luís, a memória democrática merece, sem dúvida, ser preservada e celebrada. Contudo, o momento escolhido para esta despesa levanta sérias questões de oportunidade e de prioridade governativa. “Cabo Verde enfrenta desafios estruturais urgentes”, frisou, citando a título de exemplo, a persistência de problemas graves de saneamento básico em centros urbanos e bairros periféricos, com consequências diretas para a saúde pública e a gestão ineficiente do lixo, com lixeiras a céu aberto nas ilhas que põem em risco o meio ambiente e a qualidade de vida das populações.

Apontou ainda a ausência de soluções sustentáveis de transporte inter-ilhas, que continua a dificultar a mobilidade dos cidadãos e a integração económica do país, e a falta de estratégias claras para a diversificação económica, num contexto de vulnerabilidade externa acentuada. Entende o presidente da UCID que, num cenário de recursos limitados, em que famílias enfrentam diariamente dificuldades de acesso a serviços essenciais, a decisão de gastar 150 milhões de escudos num monumento, por mais nobre que seja a sua intenção, parece deslocada da realidade concreta vivida pelos cabo-verdianos.

João Luís defendeu que a democracia não se fortalece apenas com símbolos, mas com políticas públicas eficazes, com investimentos na qualidade de vida dos cidadãos, com justiça social e igualdade de oportunidades. “Um monumento pode representar a democracia, mas não substitui o seu exercício efetivo, que se traduz em prioridades corretas, gestão responsável e transparência nos gastos públicos”, indicou, apelando a uma reavaliação da medida. E termina dizendo que não questiona o mérito simbólico da iniciativa, mas sim a sua oportunidade, num contexto de tantas urgências sociais e económicas. “Os monumentos podem esperar. A dignidade das pessoas, não”, pontua. 

Monumento à Democracia e Liberdade

O Monumento à Democracia e a Liberdade é uma obra financiada pelo Governo que,  diz, reforça o compromisso com a valorização da história e identidade de Cabo Verde, no quadro do reforço da cidadania, da dignidade da pessoa humana e da valorização da Democracia e Liberdade. É neste contexto que, segundo a resolução n.º 19/2025 de 04 abril, inscreve-se a decisão de edificar um monumento à Democracia e Liberdade como símbolo perene da luta do povo cabo-verdiano pelos seus direitos fundamentais e pela consolidação do regime independente e democrático. 

O monumento, refere a resolução, integra três valências fundamentais, sendo uma simbólica, pela sua força estética e evocativa, que visa enaltecer a Bandeira de Cabo Verde e os valores da Liberdade e da Democracia, através de um elemento físico inserido numa zona de visibilidade e fluidez de trânsito. Ainda: uma valência cultural que promove a afirmação do compromisso firme dos cabo-verdianos com os valores consagrados na Constituição, num exercício de consciencialização coletiva sobre o seu significado para a construção de um futuro de paz e prosperidade; e uma valência pedagógica, ao constituir um espaço à reflexão cívica e à difusão dos valores humanistas e dos direitos fundamentais.

Diz ainda a resolução que a implantação do Monumento à Democracia e a Liberdade, na Cidade da Praia, Ilha de Santiago, complementa a execução de intervenções de melhoria nessa infraestrutura rodoviária, contribuindo para a valorização da sua requalificação e, bem como para a criação de uma nova dinâmica na zona onde será inserido, numa via estruturante que assegura a ligação a áreas de reconhecido interesse urbano, tecnológico, turístico e aeroportuário.

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