“Ragoce de nha mamãe” é o título do primeiro álbum da cantora Lucinda Pereira, mais conhecida nas lides artísticas por “Luces Pereira”. O trabalho, distribuído sob a chancela da Harmonia do empresário Djo da Silva, já está a circular nas plataformas da internet “Youtube” e “Amazon” e, de acordo com a artista, é uma dedicatória às mães de todo o mundo e uma homenagem singela a sua falecida mãe Eugénia Pereira, “Nha Djena d´bairro de Chã de Alecrim” em S. Vicente. No dizer de Luces, a mãe a soube criar no seio de uma família humilde e cheia de valores pelo que a gratidão será sempre eterna e ficará patenteada neste trabalho e, em tudo que faz na vida.
Por João A. do Rosário
O álbum contém oito músicas, todas da autoria do conhecido compositor Jovino dos Santos, que é também o produtor e director musical deste trabalho que, acredita a artista, vai deliciar os cabo-verdianos espalhados pelo mundo. São mornas, coladeiras e samba canção, inéditas, selecionadas pelo autor mediante o timbre de voz da Luces Pereira, seguem uma ordem específica, ainda que de momento esteja apenas em formato digital: 1- Compaixão divina, 2- Nha sonho, 3- Ragoce de nha mamãe, 4-Cretcheu, 5-Instinto animal, 6- Anjo da noite, 7- Amor fatal, 8-Festa d’helena.
De acordo com a Luces Pereira, a maioria dessas músicas fala de amor, sendo que a composição “festa d`helena” versa sobre o casamento tradicional na ilha de Santo Antão e “Compaixão divina” refere-se à seca que tem assolado Cabo Verde em comparação com S. Vicente de outrora numa época da infância e juventude do autor. Já “Ragoce de nhã mamãe” evoca as dificuldades que a maioria das mães passam para criar os filhos, mas estes acabam sempre por conseguir vencer na vida.
As melodias interpretadas neste álbum pela voz doce, suave e sublime de Luces Pereira, de 49 anos, são acompanhadas pelos músicos Armando Tito, Voginha (guitarra), Aureliano (guitarra e cavaquim), Ivan Moreira e Eder (v. baixo), Vicente Neves “Tchenta” e Calin Barbosa (Techado) , Djassa (Cavaquim) e Tey Santos na bateria.
Luces Pereira conta que a sua aproximação a Jovino dos Santos e a admiração que tem por este músico, compositor e instrumentista vem de longa data. Como explica, desde criança ouvia a morna “Santinha” da autoria deste compositor sem saber a quem pertencia e da qual gostava e apreciava muito. “Esta morna é o meu hino em todos os meus concertos”, diz.
“Este facto demonstra e explica o gosto que sempre tive pela morna desde muito pequena”, realçou Luces Pereira. Disse ainda que desde pequena ia para os antigos estúdios da Radio Voz de S. Vicente, nas instalações onde funciona atualmente o Centro Nacional de Artesanato, pelas mãos do técnico Félix Araújo, para cantar no programa “Olá meninos”.
Mas só começou a contar a solo em 2014, explica, quando os elementos do coro “Voz d´Alma” a que pertencia, em S. Vicente, foram desafiados a interpretar uma canção que foi interpretada por Cesária Évora. Em relação ao “casamento musical” com Jovino dos Santos, com deu a entender a cantora, foi no ano passado durante um evento num restaurante em S. Vicente em que Jovino dos Santos dirigiu-se a ela afirmando que tinha uma “voz diferente” e que gostava muito de trabalhar com ela.
Disse ainda esperar que o seu álbum venha a ser do agrado de todos pois a intenção do seu produtor musical e a dedicação foi no sentido de um trabalho de qualidade e totalmente tradicional.
A obra está a ser distribuída online pela Harmonia de Djo da Silva facto que deixa a artista lisonjeada e deixa agradecimentos pela confiança depositada nela por Jovino do Santos. “Tornar-se amigo de Armando Tito e ter sido acompanhada por ele foi uma das maiores honras que podia ter em minha vida”, regozijou-se Luces Pereira que também agradeceu a todos os músicos que fizeram parte do elenco do seu álbum que para ela, são dos melhores.
A cantora, que se define como uma pessoa humilde, considera que a música veio para ficar na sua vida. Após alguns acontecimentos tristes na sua vida pessoal a música apareceu como um refúgio. Passou a dedicar-se mais frequentando locais onde podia encontra essa arte ao vivo, em S. Vicente.
Fez saber ainda que antes era uma pessoa introvertida e que não gostava muito de aparecer ao publico. Mas hoje não passa um minuto do seu dia-a-dia sem cantar e onde haja espaço para poder faze-lo, lá está ela.
Luces Pereira que é professora de Francês de profissão mostrou-se preocupada com a a situação atual que considera de “bastante complexa” e admite que a pandemia coloca as pessoas perante um futuro muito incerto. “Não podemos traçar planos e agora cabe a cada um fazer a sua parte se não para acabar ao menos amenizar a situação”, concluiu Pereira