A necessidade da radicalização do discurso político em Cabo Verde

Por Carlos Araújo

Caros companheiros, sãovicentinos e cabo-verdianos.

Passados já mais de ano e meio no trabalho árduo, mas motivador, de tentar libertar as mentes para o conhecimento, de libertar a voz do povo de S. Vicente das amarras partidárias e do medo de ousar, é chegado o momento de radicalizarmos o nosso discurso rumo à autonomia. Uma radicalização que nos é imposta pela transparência das nossas atitudes para com a população e nós mesmos, após a percepção que fomos tendo da nossa sociedade e das suas motivações políticas.

  1. Devemos fazê-lo em nome da democracia, da liberdade e da felicidade do povo das ilhas.
  2. Devemos fazê-lo por ser a opção mais correta e justa até agora apresentada.
  3. Devemos fazê-lo em nome da segurança e do bem-estar das nossas populações.
  4. Devemos fazê-lo porque é a nossa missão e a população o está exigindo de nós.
  5. Devemos fazê-lo porque estamos cada vez mais conscientes de que a unidade nacional de amanhã depende da autonomia das ilhas hoje.
  6. Devemos fazê-lo porque partido nenhum tem interesse em o fazer.
  7. Devemos fazê-lo já, antes que seja tarde demais.

De facto, esses últimos tempos foram, para nós, ricos em informações que descodificadas nos levarão às seguintes questões:

  1. Cabo Verde foi uma nação ou a ideia de uma Nação?
  2. Será que esse sonho se concretizou?
  3. E se esse sonho ainda não se concretizou, porque será?

E, como o nosso sonho é com uma nação equilibrada e justa, condição que exige uma nova organização – enquanto a dos dirigentes tem sido um sonho limitado aos gabinetes e à resolução de alguns problemas económicos de uma economia que desconhecem – somos sim obrigados a radicalizar o nosso discurso rumo à Autonomia. É tão ou mais necessário e urgente agora derrubar a 2ª República como o foi derrubar a primeira: De há muito que estamos vivendo a história da Branca de Neve, com os deputados da maioria fazendo o papel da rainha malvada e a população na pele da Branca de Neve.

Continuamos tendo um governo de boca cheia e de fraca performance (REM, TACV, Porto de Águas Profundas, Terminal de Cruzeiros…). Um governo que sequer é capaz de entender os sinais e está pondo em risco a democracia e o Estado de Direito resolvendo de forma simplista problemas de fundo: O caso do policial despedido na ilha do Sal, a recente greve dos trabalhadores dos Correios que nos faz pensar em possíveis faíscas dos coletes amarelos, e tudo isso num ano em que o governo e os partidos tiveram de ficar descalços perante as políticas eleitoralistas adoptadas e em que a Regionalização teve de ser abordada.

O conceito de democracia dos governantes não fica pelo conto da Branca de Neve, ele se inspira também no Capuchinho Vermelho onde o Lobo agora mostra o seu rabo ao querer engolir o gang inorgânico dos Sokols 2017 por terem ousado desafiar o poder político.

É urgente radicalizar o discurso. E é urgente radicalizá-lo porque continuamos com uma Câmara Municipal de manutenção e que só se consegue perpetuar através de políticas populistas muitas vezes desastrosas (a destruição do património, a suspeita de venda incorrecta de terrenos, a construção em lugares de alto risco, o não respeito por um plano de urbanização bem concebido…), apesar de um poder local frágil, pobre e mais centralizador do que o próprio poder central; uma CM que não consegue mostrar qualquer ideia válida ou projecto de desenvolvimento.

É urgente radicalizar o discurso. E é urgente radicalizá-lo porque em quarenta e três anos não se conseguiu desbloquear o Comércio, a Agricultura, a Indústria, a Pecuária, a Justiça e não se tem uma política acertada para o Turismo e a Emigração.

É com espírito de missão que temos de encarar a luta: uma luta em que vamos ter, não só, de manter viva a chama da autonomia como também de preparar o cenário e a organização futura, onde o municipalismo actual será necessariamente substituído por uma organização mais correcta e de melhor adaptação às exigências do desenvolvimento da ilha.

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