Trump pressiona Ucrânia a investigar filho de Joe Biden

Donald Trump insistiu oito vezes com o homólogo da Ucrânia, Volodimir Zelenskii, para que a Justiça ucraniana abra uma investigação que poderia prejudicar Joe Biden, um dos seus possíveis adversários nas eleições presidenciais de 2020. O caso levou o Partido Democrata a acusar Trump de tentar obter um favor de um líder estrangeiro para ganhos políticos, em troca do envio de centenas de milhões de euros em ajuda financeira.

Em causa está um telefonema entre os dois chefes de Estado, no dia 25 de Julho, semanas depois de a Casa Branca ter posto em suspenso uma autorização para uma nova transferência para a Ucrânia, no valor de 250 milhões de dólares. A verba era esperada por Kiev para reforçar os seus combates contra separatistas pró-russos, no Leste da Ucrânia.

A suspensão da transferência foi criticada pelo Partido Democrata e também pelo Republicano. É que, apesar das aproximações do Presidente Trump ao Presidente russo, Vladimir Putin, a maioria dos senadores republicanos mantém-se alinhada com a estratégia mais tradicional de ver a Rússia como um dos adversários mais perigosos dos EUA.

Em Maio, Zelensjii foi eleito presidente da Ucrânia, com duas prioridades em relação aos EUA: receber o pacote de 250 milhões de dólares e ser recebido na Casa Branca pelo Presidente Donald Trump, num sinal para a Rússia do apoio norte-americano ao seu novo Governo – uma reunião que ainda não está agendada, ainda que os dois líderes possam encontrar-se na próxima semana, à margem da Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque.

Ontem, o Wall Street Journal revelou em exclusivo pormenores da conversa entre Trump e Zelenskii, a 25 de Julho, confirmando o que outros jornais já apontavam nos últimos dias: Trump pressionou o Presidente da Ucrânia a investigar o filho de Joe Biden e o papel do então vice-presidente dos EUA no despedimento de um procurador-geral ucraniano.

Na altura, Biden era o principal interlocutor da Casa Branca na Ucrânia, quando o país tentava recuperar da violenta repressão ordenada pelo presidente Viktor Ianuakovich, em 2014, e da invasão da península da Crimeia pela Rússia. Por essa altura, o seu filho, Hunter Biden, foi contratado pela empresa ucraniana Burisma, de extracção e produção de gás, e Joe Biden incentivou o Governo de Kiev a libertar-se da dependência energética em relação a Moscovo.

Em 2016, Joe Biden pressionou o Governo ucraniano a despedir o Procurador que investigou a empresa em que o seu filho trabalhava, acusando-o de não combater os casos de corrupção no país. Quando isso aconteceu, o então vice-presidente dos EUA viu-se exposto à acusação, nos círculos próximos de Trump, de que interferiu de forma deliberada em benefício do filho – uma suspeita que Trump parece querer recuperar agora, numa altura em que Joe Biden é o favorito nas sondagens para o enfrentar nas eleições presidenciais de 2020.

Os principais media ucranianos e norte-americanos revelam que a investigação à Burisma tinha chegado a um impasse antes do despedimento do Procurador, e o novo responsável disse à Bloomberg, que não há provas contra Joe e Hunter Biden. Em comunicado emitido ontem, Joe Biden acusou Trump de usar o cargo para obter “favor político” e disse que as suspeitas sobre ele e o seu filho “não têm fundamento”.

C/Público.pt

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